A Escolha Cruel de Pedro
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Capítulo 2

Dois dias depois, o Pedro apareceu no hospital.

Ele não veio sozinho. A sua mãe, a Dona Helena, estava com ele.

Ela entrou no quarto primeiro, com o rosto numa máscara de desaprovação.

"Sofia, que disparate é este sobre divórcio?"

Ela nem sequer perguntou como eu estava.

Pedro ficou atrás dela, a olhar para o chão, evitando o meu olhar.

"Eu perdi o meu filho," disse eu, com a voz calma.

"E nós perdemos um neto," retorquiu ela. "Mas a vida continua. Não se deita fora um casamento por causa de uma tragédia. É egoísta."

Egoísta. Era a segunda vez que ouvia essa palavra.

"Ele não estava lá por mim," disse eu, a olhar diretamente para o Pedro. "Ele escolheu."

Pedro finalmente levantou a cabeça.

"O Bento estava com 40 de febre! Ele é uma criança, Sofia! Tu és uma adulta."

"Eu estava a sangrar na beira da estrada. O nosso filho estava a morrer dentro de mim."

"O que querias que eu fizesse?" gritou ele. "A Clara estava em pânico! Eu sou o único homem da família dela agora!"

"E o que sou eu?"

"Tu és a minha mulher! Devias entender as minhas responsabilidades!"

A sua mãe interveio, colocando-se entre nós.

"Chega. Sofia, o Pedro fez o que tinha de fazer. Família vem primeiro."

"Eu pensei que eu era a família dele," repeti eu, sentindo-me como um disco riscado.

Dona Helena suspirou, um som longo e sofrido.

"Claro que és. Mas a Clara... ela é sangue do nosso sangue. O marido dela deixou-a. Ela não tem ninguém. Tu tens a nós."

As palavras dela pairaram no ar.

Sangue do nosso sangue.

E eu? Eu era apenas a mulher. O meu filho, aparentemente, era dispensável.

"Eu quero o divórcio," disse eu novamente, desta vez com mais firmeza. "Não há nada para discutir."

O rosto do Pedro endureceu.

"Ótimo. Se é isso que queres. Mas não vais receber um cêntimo. Gastaste todo o nosso dinheiro em coisas para o bebé e na tua licença de maternidade. A casa é da minha família. Vais sair sem nada."

A sua crueldade era tão direta, tão sem adornos.

"Eu não quero o teu dinheiro," disse eu. "Eu só quero sair disto."

"Bom," disse Dona Helena, com um sorriso satisfeito. "Pelo menos és sensata numa coisa. Pedro, vamos embora. Deixa-a remoer na sua autopiedade."

Eles viraram-se e saíram do quarto, deixando-me sozinha com o eco das suas palavras.

Eles não se importavam. Nenhum deles.

A perda era apenas minha.

            
            

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