O silêncio no quarto era pesado.
A expressão de Pedro mudou de fria para surpresa, e depois para raiva.
"Divórcio? Você está delirando por causa dos medicamentos? Você acabou de perder um filho, e é nisso que você pensa?"
"Eu não perdi um filho, Pedro. Você o tirou de mim. Vocês todos tiraram."
Meus olhos moveram-se dele para Sofia, que agora segurava seu bebê com mais força, como se eu fosse uma ameaça.
Helena bufou.
"Que absurdo. Você é a única culpada aqui. Sempre tão focada na sua carreira, nunca cuidou de si mesma. Era óbvio que isso ia acontecer."
Eu olhei para a minha sogra.
A mulher que um dia me chamou de "filha".
"Eu trabalhei porque precisávamos do dinheiro, Helena. Porque o seu 'filho perfeito' gastou todas as nossas economias em um negócio que faliu."
O rosto de Pedro se contorceu de fúria.
"Não ouse falar sobre isso. Isso não tem nada a ver com a sua negligência."
"Tem tudo a ver com isso," eu insisti, minha voz ganhando força. "Enquanto eu trabalhava em dois empregos para pagar nossas dívidas, onde você estava, Pedro? Com ela?"
Eu apontei para Sofia.
Sofia deu um passo para trás, fingindo estar magoada.
"Catarina, como você pode dizer isso? Pedro só estava me apoiando. Eu sou uma mãe solteira, não tenho ninguém."
"Mãe solteira? O pai do seu filho convenientemente desapareceu assim que você engravidou? Ou ele nunca existiu?"
A pergunta ficou no ar.
O rosto de Sofia ficou pálido.
Pedro interveio, sua voz um aviso baixo.
"Catarina, pare com isso agora. Você está perturbando a Sofia e o bebê."
Ele se importava com o bebê dela.
Ele nunca se importou com o nosso.
"Eu não vou parar. Eu quero o divórcio. E quero que vocês saiam do meu quarto. Agora."
Helena riu, um som desagradável.
"Seu quarto? Querida, Pedro pagou por este quarto privado. Você não tem nada. Se alguém vai sair, é você."
Eu olhei para Pedro, esperando que ele dissesse algo, que defendesse sua esposa.
Ele permaneceu em silêncio, seu silêncio uma concordância.
Naquele momento, eu soube que meu casamento tinha acabado.
Não havia mais amor, apenas desprezo e mentiras.
"Tudo bem," eu disse, minha voz fria e calma. "Eu vou embora. Mas eu não vou sair de mãos vazias."
Eu me levantei da cama, cada movimento uma agonia.
Eu caminhei até a minha bolsa, peguei meu celular.
"Eu tenho todas as mensagens, Pedro. Todas as suas conversas com a Sofia. As fotos. A reserva do hotel."
O rosto de Pedro perdeu toda a cor.
Sofia engasgou.
"Eu estava guardando isso, esperando que você voltasse a si. Esperando que você escolhesse a nossa família."
Eu olhei para ele, meus olhos secos.
"Mas você fez a sua escolha. Agora eu vou fazer a minha."
"O que você quer, Catarina?" a voz de Pedro era quase um sussurro.
"Eu quero o divórcio. Eu quero o nosso apartamento, que está no meu nome. E quero que você desapareça da minha vida."
Helena avançou. "Você não pode fazer isso! Aquele apartamento..."
"Eu posso, e eu vou," eu a interrompi. "A menos que você queira que toda a sua família e amigos saibam que tipo de homem seu filho realmente é."
Eu olhei para o bebê nos braços de Sofia.
Uma pontada de dor atravessou meu coração, mas eu a sufoquei.
"E quanto a você, Sofia, aproveite o seu prêmio. Espero que ele valha a pena."
Eu me virei e caminhei em direção à porta, sem olhar para trás.
Cada passo era doloroso, mas cada passo também me levava para longe deles, para longe da dor.
Quando cheguei à porta, a voz de Pedro me alcançou, desesperada.
"Catarina, espere!"
Eu não parei.
Eu continuei andando, para fora daquele quarto, para fora daquela vida.
A liberdade nunca pareceu tão amarga.