O corredor do hospital estava frio e impessoal.
Eu andava devagar, apoiando-me na parede.
Meu corpo doía, mas minha mente estava estranhamente clara.
Eu precisava sair dali.
Eu peguei meu celular e liguei para a única pessoa em quem eu podia confiar.
Minha irmã mais velha, Laura.
Ela atendeu no primeiro toque.
"Catarina? O que aconteceu? O bebê nasceu?"
Sua voz estava cheia de excitação e alegria.
Aquelas palavras me quebraram.
Um soluço escapou dos meus lábios.
"Laura..."
"Catarina? O que foi? Onde você está?"
"Hospital... o bebê... ele se foi."
O silêncio do outro lado da linha foi ensurdecedor.
Então, a voz de Laura, agora tensa e preocupada.
"Estou a caminho. Não se mova. Qual hospital?"
Eu dei a ela o nome e o endereço.
"Estarei aí em vinte minutos."
Ela desligou.
Eu me arrastei até um banco no final do corredor e me sentei, esperando.
Minutos depois, a porta do meu antigo quarto se abriu.
Pedro saiu, seu rosto uma máscara de pânico.
Ele me viu e correu em minha direção.
"Catarina, por favor. Vamos conversar. Não podemos terminar assim."
Eu não olhei para ele.
Eu apenas olhei para a parede à minha frente.
"Não há nada para conversar, Pedro."
"Claro que há! Nós passamos por tanta coisa juntos. Nós nos amamos."
"Amor?" Eu finalmente me virei para encará-lo. "Você chama de amor o que você fez? Deixar sua esposa em trabalho de parto para ficar com sua amante?"
"Ela não é minha amante! Sofia é... complicada."
"Eu não me importo com o que ela é. Eu me importo com o que você fez. Você me abandonou quando eu mais precisei de você."
Ele tentou pegar minha mão, mas eu a afastei.
"Eu estava com medo, Cat. Eu entrei em pânico. Quando o médico disse que havia complicações..."
"Então você fugiu? Você fugiu para os braços de outra mulher?"
"Não foi assim!" ele insistiu, sua voz subindo. "Eu só precisava de um momento. Sofia estava lá."
"E o bebê dela também," eu adicionei, minha voz gélida. "Um bebê saudável. Deve ter sido um alívio para você, não é? Trocar o quebrado pelo perfeito."
A dor em seu rosto era real. Por um momento, eu quase senti pena dele.
Mas então eu me lembrei do quarto, de sua mãe, de Sofia e seu bebê.
A pena desapareceu.
"Eu quero que você saia, Pedro."
"Eu não vou a lugar nenhum. Você é minha esposa."
"Não por muito tempo," eu disse, e naquele momento, eu vi Laura correndo pelo corredor.
Seu rosto estava pálido de preocupação.
Ela me viu, e então viu Pedro.
Seus olhos se estreitaram.
"O que você está fazendo aqui?" ela perguntou a ele, sua voz afiada.
"Laura, isso não é da sua conta. É entre mim e minha esposa."
"Tudo o que machuca minha irmã é da minha conta," ela retrucou, parando ao meu lado e colocando um braço protetor em volta de mim. "Saia de perto dela."
Pedro olhou de mim para Laura, percebendo que estava em menor número.
"Catarina, nós vamos resolver isso," ele disse, sua voz mais suave agora. "Eu te amo."
Eu não respondi.
Ele hesitou, então se virou e foi embora.
Laura me ajudou a levantar.
"Vamos para casa, Cat. Minha casa."
Eu assenti, apoiando-me nela.
Enquanto caminhávamos para a saída, eu não olhei para trás.
Eu estava deixando para trás três anos de casamento, um filho perdido e um coração partido.
Mas eu também estava caminhando em direção a algo novo.
Um futuro sem ele.