Passaram três dias.
Três dias de silêncio absoluto por parte do Miguel.
Nenhuma chamada. Nenhuma mensagem.
O estado do Leo piorou. A febre subiu e ele teve uma infeção grave.
O Dr. Almeida chamou-me ao seu consultório. A sua expressão era séria.
"Sofia, não podemos esperar mais. O tempo do Leo está a esgotar-se. Se não fizermos o transplante nos próximos dois dias, os riscos aumentam exponencialmente."
"Eu sei, doutor. Eu... eu estou a tentar."
A minha voz era um sussurro fraco.
"Onde está o seu marido? Precisamos de começar os preparativos pré-operatórios com ele imediatamente."
Senti-me humilhada. Senti-me impotente.
"Ele... ele está ocupado. Eu vou contactá-lo."
Saí do consultório e liguei ao Miguel outra vez.
Desta vez, a chamada foi diretamente para o correio de voz.
Ele tinha-me bloqueado.
O ar pareceu ser sugado dos meus pulmões. Apoiei-me na parede para não cair.
O homem que era a chave para a sobrevivência do meu filho tinha-me bloqueado.
Desesperada, liguei para o escritório dele. A rececionista atendeu.
"Gabinete de arquitetura de Miguel Antunes, bom dia."
"Olá, sou a Sofia. Preciso de falar com o Miguel com urgência. É sobre o nosso filho."
Houve uma pausa.
"Lamento, Sra. Antunes, mas o Sr. Antunes tirou uma licença de uma semana. Ele foi numa viagem de empresa."
"Viagem de empresa?"
O meu cérebro não conseguia processar a informação.
"Sim. Foram todos para um resort no Algarve. Para um retiro de 'team building'."
A voz dela era alegre e profissional.
As minhas pernas cederam e deslizei pela parede até ao chão.
Uma viagem de empresa. Um retiro. No Algarve.
Enquanto o nosso filho lutava pela vida, ele estava num resort. Com a Laura e a filha dela, sem dúvida.
A raiva substituiu o choque. Uma raiva tão intensa que me fez tremer.
Levantei-me, com uma nova determinação.
Se ele não vinha até nós, eu iria até ele.