Quando a Vida do Filho Pende por Um Fio: A Escolha do Pai
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Capítulo 3

A minha sogra, a Dona Elvira, apareceu no hospital nessa tarde.

Ela trazia um cesto com comida que eu não conseguia comer.

"Sofia, querida, tens de te alimentar. Estás tão pálida."

Ela olhou para a porta da UCI, os olhos cheios de uma tristeza genuína. Ela amava o Leo.

"Onde está o Miguel? Liguei-lhe e ele não atendeu."

Eu não consegui encará-la.

"Ele está numa viagem de trabalho."

As palavras saíram amargas da minha boca.

A testa da Elvira franziu-se.

"Viagem de trabalho? Agora? Com o Leo neste estado?"

"Aparentemente, é muito importante."

O sarcasmo na minha voz era palpável.

Ela sentou-se ao meu lado, a sua mão a encontrar a minha. A sua pele era enrugada e quente.

"Sofia, o que se passa? Eu conheço o meu filho. Ele ama o Leo. Algo está muito errado."

Finalmente, olhei para ela. Os seus olhos, tão parecidos com os do Miguel, estavam cheios de preocupação.

Contei-lhe tudo. Sobre a Laura, a Clarinha, as chamadas ignoradas, o bloqueio, a viagem ao Algarve.

À medida que eu falava, o rosto dela passava da confusão à incredulidade, e depois a uma fúria silenciosa.

Quando terminei, ela ficou em silêncio por um longo momento.

"Aquele idiota," ela sussurrou, a sua voz a tremer de raiva. "Aquele idiota egoísta."

Ela levantou-se abruptamente.

"Eu vou tratar disto."

"O que vai fazer?"

"Vou trazer o meu filho de volta à realidade. Vou arrastá-lo para aqui pelas orelhas, se for preciso. Ninguém vira as costas ao seu próprio sangue."

Ela pegou no telemóvel e começou a andar de um lado para o outro no corredor.

Primeiro, ligou ao Miguel. Correio de voz.

Depois, ligou para o escritório dele e obteve a mesma informação que eu.

Finalmente, ela ligou para o seu marido, o pai do Miguel.

A sua voz era baixa e controlada, mas eu podia sentir a fúria a fervilhar por baixo.

"Fernando, temos um problema. O nosso filho abandonou o neto. Sim, abandonou. Ele está num resort de luxo enquanto o Leo está a morrer. Precisas de descobrir onde ele está. Agora."

Houve uma pausa.

"Não me interessa o que tens de fazer. Encontra-o."

Ela desligou. Olhou para mim, os seus olhos a arder.

"Não te preocupes, Sofia. Nós vamos encontrá-lo. E ele vai fazer aquele transplante."

Pela primeira vez em dias, senti um vislumbre de esperança. Não estava sozinha nisto.

            
            

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