Contratei um advogado. Uma mulher chamada Clara, com um aperto de mão firme e um olhar direto.
"Ele não vai facilitar as coisas", disse-lhe eu, sentada no seu escritório.
"Eles nunca facilitam quando o ego deles está ferido", respondeu a Clara, a tomar notas. "Ele ameaçou lutar pelos bens?"
"Sim. Ele disse que ia tornar a minha vida um inferno."
"Vamos ver isso", disse a Clara com um pequeno sorriso. "Primeiro, vamos reunir todos os seus registos financeiros. Contas bancárias, recibos de vencimento, tudo."
Passei a semana seguinte a fazer exatamente isso. Foi um processo doloroso, a vasculhar os destroços da minha vida com o Leo.
Encontrei extratos de cartão de crédito com cobranças de restaurantes caros e lojas de joias em dias em que ele me disse que estava a trabalhar até tarde.
Encontrei levantamentos de dinheiro em caixas multibanco perto de bares que eu nem sabia que ele frequentava.
A prova da sua traição estava ali, a preto e branco.
Mas a pior descoberta veio quando eu estava a organizar os nossos documentos importantes.
Encontrei uma apólice de seguro de vida.
Estava em nome do nosso filho.
O Leo tinha-a feito duas semanas antes do nascimento dele. O beneficiário não era eu.
Era ele mesmo. Cem por cento.
Sentei-me no chão do quarto do Tiago, a olhar para o papel.
O ar pareceu ser sugado para fora dos meus pulmões.
Isto não era sobre dor. Não era sobre ele lidar com a situação de forma diferente.
Isto era sobre dinheiro.
Ele tinha apostado na vida do nosso filho. E quando perdeu, ficou zangado porque a sua fonte de rendimento tinha desaparecido.
O Tiago encontrou-me sentada no chão, pálida e a tremer.
"Ana, o que se passa?"
Mostrei-lhe o papel.
Ele leu-o, e o seu rosto ficou lívido de raiva.
"Aquele desgraçado", sussurrou ele. "Aquele monstro."
"Ele não se importava com ele, Tiago", disse eu, a minha voz um fio. "Ele nunca se importou."
A dormência que me envolvia começou a dissipar-se, substituída por uma raiva fria e ardente.
Isto já não era apenas sobre o divórcio.
Isto era sobre justiça para o meu filho.
Levei a apólice de seguro à Clara no dia seguinte.
Ela leu-a em silêncio, a sua expressão a endurecer a cada palavra.
"Isto é...", começou ela, e depois parou, a abanar a cabeça. "Isto é monstruoso."
"Posso usar isto no tribunal?", perguntei.
"Oh, sim", disse a Clara, os seus olhos a brilhar com uma luz de aço. "Nós vamos usar isto. E vamos enterrá-lo."
A primeira audiência no tribunal foi marcada para um mês depois.
Nesse tempo, o Leo tentou contactar-me várias vezes. Deixou mensagens de voz, alternando entre súplicas chorosas e ameaças furiosas.
Eu não respondi.
A sua mãe, Sofia, também me ligou.
"A Ana, o Leo está um caos", disse ela, a sua voz falsamente simpática. "Ele mal come. Ele não consegue dormir. Tu partiste-lhe o coração."
"O meu filho está morto", respondi friamente. "O meu coração está mais do que partido. Está destruído. E a vossa família ajudou a destruí-lo."
"Isso não é justo! Nós estávamos a sofrer também!"
"A sério? Porque parecia que estavam a ter uma grande festa."
"Tu és uma rapariga tão cruel e ingrata."
"E tu és uma péssima mentirosa", disse eu, e desliguei.
Eu já não era a mulher submissa e ansiosa por agradar que eles conheciam.
A dor tinha-me queimado até ao osso, e o que restou foi algo mais forte. Algo inquebrável.
Eu ia lutar. Pelo meu filho. E por mim.