A minha tia Clara foi o meu rochedo.
Ela tratou de toda a papelada do hospital e ajudou-me a organizar o funeral do meu filho.
Um pequeno funeral. Só nós as duas.
Demos-lhe o nome de Gabriel. Anjo Gabriel. O meu pequeno anjo que nunca chegou a respirar.
Leo não apareceu. Nem ligou.
Suponho que estivesse demasiado ocupado a consolar a Camila.
Uma semana depois, recebi alta do hospital.
Clara levou-me para a sua casa. A ideia de voltar para a casa que partilhei com o Leo era insuportável.
A casa dela era pequena e acolhedora, cheirava a canela e a livros velhos.
Foi a primeira vez que me senti segura em dias.
"Vais ficar aqui o tempo que precisares," disse ela, enquanto me preparava uma chávena de chá.
"Obrigada, Clara. Por tudo."
"Não precisas de agradecer. Somos família."
Sim, éramos. Ela era a única família que me restava.
Os meus pais tinham morrido num acidente de carro quando eu era adolescente. Clara, a irmã mais nova da minha mãe, acolheu-me.
Ela era mais uma mãe para mim do que uma tia.
Naquela noite, enquanto estava deitada na cama de hóspedes, o meu telemóvel vibrou.
Era uma mensagem de um número desconhecido.
"Sei o que o Leo te fez. Não estás sozinha. Encontra-te comigo amanhã no café 'A Brasileira' às 15h. Sei de coisas que precisas de saber."
Fiquei a olhar para a mensagem.
Quem poderia ser?
Uma parte de mim queria ignorar. Estava cansada de drama, de dor.
Mas outra parte, a parte que queria justiça para o Gabriel, sabia que tinha de ir.
No dia seguinte, fui ao café.
Sentei-me a uma mesa perto da janela, o coração a bater com força.
Às 15h em ponto, uma mulher aproximou-se da minha mesa.
Era elegante, vestida com um fato de calças escuro. Parecia ter uns 40 anos.
"Sofia?"
Assenti.
"Eu sou a Marta. Fui colega de trabalho do Leo."
Ela sentou-se à minha frente.
"Obrigada por ter vindo."
"O que é que quer?" perguntei, sem rodeios.
Ela suspirou.
"Quero contar-te a verdade sobre o Leo e a Camila."
O meu estômago revirou-se.
"Eles não são apenas primos, Sofia. Eles são amantes."