Recebi a chamada do meu marido, Pedro, às três da tarde.
A voz dele estava cheia de pânico.
"Amor, a nossa filha... a Lia... ela caiu da escada na escola. A professora acabou de ligar, ela está a caminho do hospital. Encontra-me lá!"
O meu mundo parou.
Lia, a nossa filha de cinco anos, a luz da minha vida.
Agarrei na minha mala e corri para fora do escritório, o meu coração a bater descontroladamente.
"Estou a caminho," disse eu, a minha voz a tremer.
Quando cheguei ao hospital, vi o Pedro no corredor da urgência. Mas ele não estava sozinho.
Ao lado dele estava a sua ex-namorada, a Sofia.
E ela estava a chorar nos braços dele.
A Sofia estava a segurar o pulso, que parecia inchado. O Pedro passava a mão pelo cabelo dela, a murmurar palavras de conforto.
A minha filha não estava em lado nenhum.
"Pedro? Onde está a Lia? Ela está bem?" perguntei, a minha voz aguda de pânico.
Ele finalmente olhou para mim, a sua expressão era uma mistura de irritação e culpa.
"A Lia está bem. Foi só um arranhão no joelho. A enfermeira já a tratou, ela está na sala de observação a brincar."
Um alívio imenso percorreu-me, mas foi imediatamente substituído por uma confusão fria.
"Então... o que é isto?" apontei para a Sofia.
"A Sofia estava a ajudar a professora com um evento na escola," explicou ele rapidamente. "Quando a Lia caiu, a Sofia correu para a ajudar e tropeçou, magoando o pulso. Foi uma queda feia."
A Sofia olhou para mim, os seus olhos vermelhos e lacrimejantes.
"Ana, desculpa. Eu só queria ajudar a Lia. Não queria causar problemas."
Problemas. Ela estava a chamar a isto problemas.
Eu olhei do pulso inchado dela para o rosto preocupado do meu marido.
Ele tinha-me ligado em pânico, dizendo que a nossa filha estava a caminho do hospital. Ele fez-me largar tudo, conduzir como uma louca, a imaginar os piores cenários.
Tudo por um arranhão no joelho.
E um pulso torcido da sua ex-namorada.
"Tu mentiste para mim," disse eu, a minha voz baixa e sem emoção.
"Eu não menti!" defendeu-se o Pedro. "A Lia caiu, isso é verdade! Eu só... entrei em pânico e talvez tenha exagerado um pouco. A Sofia estava com tantas dores."
"Ela estava com dores," repeti eu, sem expressão. "E a nossa filha?"
"Eu disse, ela está bem! É só um arranhão!"
Naquele momento, eu entendi tudo.
O pânico na voz dele não era pela nossa filha.
Era por ela.