A minha sogra, a Helena, entrou em nossa casa como um furacão.
Ela nem sequer me cumprimentou.
Foi direta ao Pedro, que estava a tomar café na cozinha.
"Pedro! O que é isto que eu ouço sobre a pobre Sofia?"
O Pedro engasgou-se com o café. "Mãe? O que estás aqui a fazer?"
"A mãe dela ligou-me! A rapariga partiu o pulso a tentar ajudar a tua filha e agora está sozinha, sem ninguém para a ajudar! E tu não fizeste nada!"
Ela virou-se para mim, os seus olhos a faiscar.
"E tu! Eu sei que foste tu. A proibi-lo de a ajudar. Que tipo de mulher és tu? Tão insegura e ciumenta. A Sofia é uma rapariga tão doce."
Eu fiquei ali, sem palavras.
O Pedro interveio. "Mãe, para. A Ana não tem nada a ver com isto. A decisão foi minha."
"Tua decisão?" ela riu-se. "Não me faças rir. Desde que casaste com ela, não tens tido uma decisão tua. Ela controla-te."
"Isso não é verdade!"
"É sim! A pobre Sofia, sempre a falar tão bem de ti. Ela ainda te ama, sabes. Ela disse-me. Ela disse que espera que tu um dia percebas o erro que cometeste."
O ar na cozinha ficou gelado.
Eu olhei para o Pedro. O rosto dele estava pálido.
Ele não negou. Ele não disse "Que erro?". Ele apenas ficou ali, em silêncio.
E o silêncio dele foi a resposta mais alta de todas.
"Mãe, por favor, vai-te embora," disse o Pedro, a sua voz tensa.
"Eu vou. Mas pensem nisto. A família devia ajudar-se mutuamente. E a Sofia, ela é como família."
Ela olhou para mim uma última vez, um olhar de puro desprezo, antes de se virar e sair, a bater a porta atrás de si.
Eu continuei a olhar para o Pedro.
"Ela ainda te ama," repeti eu, a minha voz um sussurro. "E tu sabes disso."
"Ana, não é o que parece..."
"Não? Então o que é, Pedro? O que é que eu não estou a ver? O 'erro' que cometeste foi casar comigo?"
"Claro que não! A minha mãe está só a ser dramática!"
"Ela disse que a Sofia te disse que ainda te amava. Isso é drama, Pedro? Ou é a verdade?"
Ele passou as mãos pelo cabelo, um gesto de frustração.
"Nós... nós falámos. Há alguns meses. Ela estava a passar por um mau bocado. Ela disse algumas coisas. Mas não significou nada!"
O meu coração partiu-se.
Não pela confissão. Mas pela mentira.
Ele tinha-me escondido isto. Ele tinha falado com ela sobre os sentimentos dela por ele e nunca me tinha dito uma palavra.
"Sai," disse eu.
"O quê?"
"Pega nas tuas coisas e sai da minha casa."
"Ana, não sejas assim. Vamos falar sobre isto."
"Não há nada para falar. Tu mentiste para mim. Tu desrespeitaste-me. E permitiste que a tua mãe e a tua ex-namorada desrespeitassem o nosso casamento. Acabou. Pega nas tuas coisas e vai ajudar a Sofia. Ela precisa de ti."
Virei-lhe as costas e saí da cozinha.
Subi as escadas, tranquei a porta do meu quarto e finalmente, permiti-me chorar.