A cirurgia de transplante, onde a minha mãe me doou um rim, tinha acabado.
Estava a recuperar na cama do hospital, mal conseguindo ignorar a dor.
Liguei ao meu marido, Leo, para partilhar a boa notícia, mas a sua voz soou irritada e distante.
Ele estava a "salvar" a Clara e o gato dela de um incêndio, ignorando as minhas 18 chamadas perdidas.
Pior, no telefone, a voz de Clara agradecia a "Leo, Diogo" por a terem salvado.
Em choque, ouvi o meu sogro justificar o abandono do meu marido.
Percebi que era a minha vez de pedir o divórcio.
A resposta dele foi um ataque furioso, acusando-me de egoísmo por me querer divorciar.
Ele desligou na minha cara e bloqueou o meu número.
Como podia o homem que jurei amar ser tão cruel, tão indiferente à minha dor e à grande cirurgia da minha mãe?
A minha mãe, recém-operada, defendeu-me ferozmente perante o meu sogro, que me chamava mimada.
O divórcio foi protocolado rapidamente, e recebi uma nota fria de Leo.
Mas a maior revelação veio quando fui buscar as minhas coisas ao apartamento.
Encontrei um diário dele que, página a página, expôs a sua traição contínua com a Clara e como a minha doença era a sua "desculpa" para ser um mártir.
E, claro, a prova irrefutável da sua infertilidade, transformando a gravidez de Clara numa fraude chocante.
Como pude ser tão cega?
Como alguém pode usar a doença da própria esposa para construir uma teia de mentiras e uma nova vida com outra mulher?
Saí de lá não mais como uma vítima, mas com a raiva fria e a clareza de quem tinha as suas "armas silenciosas" carregadas.
O passado tinha que ser confrontado, para que eu pudesse finalmente, e para sempre, ser livre.