O Recomeço da Ana: Sem Você
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Capítulo 1

A festa de aniversário do meu filho, Leo, foi um desastre.

O meu marido, Pedro, estava atrasado. Muito atrasado.

O bolo que ele deveria trazer nunca chegou.

Leo, que fazia cinco anos, olhava para a porta a cada poucos minutos, a sua pequena cara a cair um pouco mais de cada vez.

Os seus amigos já tinham comido todos os salgados e agora estavam a correr pela casa, cheios de açúcar dos refrigerantes.

"Mamã, o papá vai trazer o meu bolo do Homem-Aranha?"

A sua voz era pequena.

Olhei para o meu telemóvel. Nenhuma mensagem do Pedro. Nenhuma chamada perdida.

Liguei-lhe. Foi direto para o correio de voz.

"Claro que vai, meu amor. Ele deve estar preso no trânsito."

Era uma mentira fraca, e eu sabia disso.

O Pedro nunca se atrasava para coisas que lhe importavam.

Finalmente, quando a última mãe veio buscar o seu filho, o Pedro entrou pela porta.

Ele não trazia bolo.

Trazia a sua irmã, Sofia, que chorava histericamente.

"O que aconteceu?" perguntei, a minha voz tensa.

Leo correu para ele. "Papá!"

O Pedro ignorou-o. Ele guiou a Sofia até ao sofá, a sua mão protetora nas costas dela.

"O Tiago deixou-a," disse o Pedro, a sua voz baixa e cheia de raiva. "Aquele desgraçado deixou-a."

A Sofia soluçou mais alto. "Ele disse que eu sou demasiado carente! Que ele precisa de espaço!"

O meu coração apertou-se. Não pela Sofia, mas pelo meu filho, que agora estava parado no meio da sala, completamente esquecido.

Ele olhou do pai para a tia, depois para mim. Os seus lábios tremiam.

"Pedro," comecei eu, a tentar manter a calma. "E o aniversário do Leo? E o bolo?"

O Pedro finalmente olhou para mim. A sua expressão era de pura irritação.

"A sério, Ana? A minha irmã está a passar pelo pior dia da vida dela, e tu estás preocupada com um bolo?"

"Não é sobre o bolo," respondi, a minha própria voz a começar a tremer. "É sobre o teu filho. Tu prometeste."

"As coisas acontecem! A família vem primeiro!" ele rosnou. "A Sofia precisava de mim. Tive de ir buscá-la a casa do Tiago, ajudá-la a fazer as malas. Achas que tive tempo para pensar num bolo estúpido?"

Senti o meu rosto a aquecer. "A tua família não inclui o teu filho de cinco anos no dia do aniversário dele?"

"Não sejas dramática," ele disse, virando-se para confortar a Sofia novamente. "Ele vai superar. É só uma festa."

O Leo começou a chorar. Um choro silencioso, com grandes lágrimas a escorrerem-lhe pela cara.

Aquele som partiu algo dentro de mim.

Ajoelhei-me e abracei-o com força. "Está tudo bem, meu amor. A mamã está aqui."

Naquela noite, depois de pôr um Leo de coração partido na cama, encontrei o Pedro na cozinha.

Ele estava ao telemóvel, a falar em voz baixa. "Sim, mãe. Claro que ela pode ficar aqui o tempo que precisar. Não te preocupes."

Ele desligou e suspirou, passando a mão pelo cabelo.

"Precisamos de conversar," eu disse, a minha voz fria.

"Agora não, Ana. Estou exausto."

"Sim, agora," insisti. "O que fizeste hoje foi inaceitável."

Ele riu-se, um som amargo. "Inaceitável? Salvar a minha irmã de um idiota abusivo é inaceitável? Devias ouvir-te."

"Ele não é abusivo, Pedro. Eles apenas terminaram. E tu abandonaste o teu filho no aniversário dele."

"Ele tem quatro anos, vai ter muitos mais aniversários!"

"Ele fez cinco hoje," corrigi-o, a minha voz cortante. "E tu não estavas lá. Tu nem sequer te lembraste."

Ele ficou em silêncio por um momento, a sua raiva a vacilar.

"Olha, eu lamento," ele disse finalmente, mas não soava a isso. "Foi um dia louco. Vou compensá-lo."

"Não, não vais," eu disse, a decisão a formar-se clara e dura na minha mente. "Isto acaba aqui. Eu quero o divórcio."

O Pedro olhou para mim, chocado. Depois, a sua expressão endureceu.

"Divórcio? Por causa disto? Estás a ser ridícula. Estás a exagerar, como sempre."

"Não," eu disse calmamente. "Estou a ser realista. O Leo merece um pai que o coloque em primeiro lugar. Não em segundo, depois da tua irmã, da tua mãe, de todos os outros."

"Tu não te vais divorciar de mim," ele disse, a sua voz a baixar para um aviso. "Pensa no Leo. Queres que ele venha de um lar desfeito?"

"Ele já vive num," respondi. "Um onde o pai dele não aparece para o seu próprio aniversário. Prefiro que ele tenha dois pais felizes separados do que dois pais miseráveis juntos."

Ele deu um passo em minha direção, o seu rosto uma máscara de fúria. "Tu vais arrepender-te disto, Ana."

Virei-lhe as costas e saí da cozinha.

A decisão estava tomada. Não havia volta a dar.

            
            

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