O Recomeço da Ana: Sem Você
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Capítulo 2

Na manhã seguinte, a casa estava estranhamente silenciosa.

O Pedro tinha dormido no sofá. Quando desci, ele já tinha saído para o trabalho.

A Sofia estava sentada à mesa da cozinha, a beber café como se fosse a dona da casa.

Ela usava um dos meus roupões de banho.

"Bom dia," disse ela, com uma voz surpreendentemente animada para alguém cujo coração tinha sido partido.

Eu não respondi. Fui direta à máquina de café e preparei uma chávena para mim.

O Leo desceu as escadas, a esfregar os olhos. Quando viu a Sofia, escondeu-se atrás da minha perna.

"Olá, sobrinho lindo!" disse a Sofia, com um sorriso largo. "Dormiste bem?"

O Leo não disse nada. Apenas me apertou mais a perna.

"Ele ainda está chateado por causa de ontem," eu disse, a minha voz neutra.

A Sofia revirou os olhos. "Oh, por favor. As crianças são resilientes. Ele já esqueceu."

Ela levantou-se e foi até ao frigorífico. "O Pedro disse que eu podia comer o que quisesse. O que é que há para o pequeno-almoço?"

Senti a minha paciência a esgotar-se. "Sofia, preciso que faças as tuas malas."

Ela virou-se, com uma caixa de ovos na mão. "O quê? Porquê? O Pedro disse que eu podia ficar."

"O Pedro não vive mais aqui," eu disse, as palavras a saírem mais firmes do que eu esperava. "Nós vamos divorciar-nos."

A Sofia deixou cair a caixa de ovos. Eles partiram-se no chão, uma confusão amarela e pegajosa.

"Divórcio?" ela guinchou. "Tu não podes fazer isso! É tudo por minha causa, não é? Estás a culpar-me!"

"Isto não é sobre ti," eu disse, a pegar em papel de cozinha para limpar a confusão. "Isto é sobre anos de coisas como ontem."

"Tu és uma egoísta!" ela gritou, as lágrimas a brotarem-lhe nos olhos novamente. "O meu irmão ama-te! Ele faz tudo por ti e pelo teu filho!"

"O nome dele é Leo," eu disse, a minha voz perigosamente baixa. "E ele também é filho do teu irmão."

"Vou ligar ao Pedro! Vou contar-lhe o quão horrível estás a ser!"

Ela pegou no telemóvel e saiu da cozinha a correr, a discar o número dele.

O Leo olhou para a confusão no chão, depois para mim. "A tia está zangada?"

"Sim, meu amor," eu disse, a forçar um sorriso. "Mas não é por tua causa. Vamos, vou fazer-te umas panquecas."

Enquanto eu cozinhava, ouvi a Sofia a gritar ao telefone no quarto de hóspedes.

Poucos minutos depois, o meu telemóvel tocou. Era a minha sogra, a Helena.

Respirei fundo e atendi.

"Ana! O que é esta história de um divórcio?" a sua voz era estridente e acusadora.

"É verdade, Helena."

"Como te atreves? Depois de tudo o que o meu filho faz por ti? Ele dá-te uma casa, uma vida boa, e é assim que lhe pagas? Pondo-o fora por causa de um pequeno desentendimento familiar?"

"Não foi um pequeno desentendimento," eu disse, a tentar manter a minha voz calma. "Foi a gota de água."

"A Sofia precisa da família dela agora! E tu estás a expulsá-la! Que tipo de pessoa és tu? Não tens coração?"

"Eu tenho um coração," respondi. "E ele pertence ao meu filho. Que ontem ficou à espera de um pai que nunca apareceu. Onde estava a 'família' dele, Helena?"

Houve um silêncio chocado do outro lado da linha.

"Tu estás a usar a criança para o manipular," ela cuspiu finalmente. "Sempre soube que eras desse tipo. Bem, não vai funcionar. O Pedro é um bom homem, um bom filho, e um bom irmão. Ele não te vai deixar destruir esta família."

Ela desligou na minha cara.

Olhei para o telemóvel na minha mão. Senti-me cansada, mas também estranhamente leve.

A batalha tinha apenas começado, mas pela primeira vez em muito tempo, eu sentia que estava a lutar pela coisa certa.

            
            

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