A resposta dele não demorou.
"Estás louca? Divórcio? Só porque não corri para o hospital por causa de mais um dos dramas da tua mãe?"
"Tu és inacreditável, Sofia. Sempre tão egoísta."
Egoísta?
Eu, que abdiquei da minha carreira para o apoiar?
Eu, que cuidei da casa dele, da família dele, que aturei a irmã dele durante três anos?
Eu era a egoísta?
"O avião está a descolar. Falamos quando eu aterrar. E é melhor teres mudado de ideias."
Ele não me deu oportunidade de responder.
Sentei-me no banco frio do corredor, a sentir um vazio profundo.
Lembrei-me do nosso casamento.
Eu amava-o. Amava-o tanto que ignorei todos os sinais de alarme.
A forma como a família dele me tratava. A forma como a irmã dele, a Laura, olhava para mim, com uma mistura de pena e desprezo.
A forma como o Pedro me defendia sempre com um "ela é assim, tem paciência".
A minha mãe avisou-me.
"Sofia, este homem não te ama. Ele só te está a usar."
Eu não quis acreditar. Pensei que o amor dele era diferente, mais profundo.
Que tolice.
O telemóvel vibrou na minha mão. Era um número desconhecido.
Atendi.
"É a Sofia? Sou a enfermeira da UCI. A sua mãe acordou. Ela está a chamar por si."
O meu coração deu um salto.
Corri para a porta, as minhas pernas fracas.
A minha mãe estava deitada na cama, rodeada de tubos e máquinas.
Os seus olhos, antes cheios de vida, estavam agora turvos de dor.
Ela estendeu a mão na minha direção.
"Filha..."
A voz dela era um sussurro fraco.
"Mãe, eu estou aqui. Vai ficar tudo bem."
As lágrimas que eu tinha segurado finalmente caíram.
Ela abanou a cabeça lentamente.
"Sofia... deixa-o. Ele não te merece."
Cada palavra parecia custar-lhe uma energia imensa.
"Ele... e a irmã dele... eles são veneno."
Eu assenti, incapaz de falar.
"Promete-me... promete-me que vais ser feliz."
"Eu prometo, mãe. Eu prometo."
Ela sorriu, um sorriso fraco e cansado.
Depois, o monitor cardíaco ao lado da cama começou a apitar, um som agudo e contínuo.
As enfermeiras e os médicos entraram a correr.
Tiraram-me da sala.
Fiquei a olhar pela pequena janela da porta, a ver a equipa a tentar reanimá-la.
Mas eu sabia.
Ela tinha-se ido.