O mundo ficou em silêncio.
O som agudo da máquina parou. O médico saiu, o seu rosto era uma máscara de pesar.
Ele disse-me umas palavras. "Lamento muito." "Fizemos tudo o que podíamos."
Eu não ouvi realmente. A minha mente estava vazia.
Sentei-me de volta no banco. O hospital estava silencioso agora, ou talvez eu simplesmente tivesse ficado surda para o mundo.
Não sei quanto tempo passou. Horas, talvez.
O meu telemóvel tocou. Era o Pedro.
Ignorei.
Ele ligou outra vez. E outra.
Finalmente, atendi. Não disse nada.
"Sofia? Onde estás? Estou em casa. O jantar não está pronto, a casa está uma desarrumação. E onde é que tu te meteste?"
A voz dele estava cheia de irritação.
"A Laura está exausta por causa do voo, e não há nada para comer."
Respirei fundo.
"Pedro."
A minha voz soou estranha aos meus próprios ouvidos. Calma. Fria.
"A minha mãe morreu."
Houve um silêncio do outro lado da linha.
Por um segundo, pensei ter ouvido um pingo de choque.
Mas depois ele falou, e a ilusão desfez-se.
"Oh. Lamento ouvir isso."
A voz dele era casual. Como se eu lhe tivesse dito que o leite tinha acabado.
"Bem, isso é... triste. Mas não podes simplesmente abandonar as tuas responsabilidades. Eu e a Laura estamos à espera."
As minhas responsabilidades.
Senti uma vontade de rir. Uma risada amarga e louca.
"Pedro."
"O quê?"
"Eu pedi o divórcio."
"Já passámos por isso, Sofia. Para com o drama e vem para casa."
"Não é um drama. É um facto. Amanhã, um advogado vai contactar-te."
"O quê? Estás a falar a sério? Por causa disto? A tua mãe morreu, eu entendo que estejas chateada, mas divorciar-se?"
Ele suspirou, um som de pura exasperação.
"Olha, eu sei que estás a passar por um mau bocado. Tira uns dias. Vai para casa de uma amiga. Mas não tomes decisões precipitadas."
"Não é precipitada. É a decisão mais clara que já tomei na minha vida."
"Sofia, estás a ser ridícula!"
Ouvi a voz da Laura ao fundo. "Pedro, o que se passa? Deixa-a. Se ela quer ir, que vá. Nós ficamos melhor sem ela."
A voz dela era doce, cheia de uma falsa preocupação.
O Pedro suspirou outra vez.
"Ouve, a Laura tem razão. Talvez precises de espaço. Mas pensa bem nisto. Tu não tens nada sem mim."
Desliguei o telefone.
Bloqueei o número dele.
Depois bloqueei o da Laura. E o da mãe dele. E o do pai dele.
Bloqueei todo o mundo deles.
Levantei-me. As minhas pernas estavam firmes agora.
Fui até à receção e tratei da papelada.
Quando saí do hospital, o sol estava a nascer.
O céu estava pintado de laranja e rosa. Um novo dia.
Para mim, era o primeiro dia do resto da minha vida.
Uma vida sem o Pedro.