Os dias seguintes foram um borrão.
Organizei o funeral da minha mãe. Foi uma cerimónia pequena, apenas com alguns amigos próximos e familiares.
O Pedro não apareceu. Não mandou flores.
Não me surpreendeu.
A surpresa veio uma semana depois, quando o meu advogado me ligou.
"Sofia, o Sr. Alves recusa-se a assinar os papéis do divórcio."
"O quê? Porquê?"
"Ele afirma que a amas e que esta decisão foi tomada num momento de dor. Ele quer uma oportunidade para se reconciliar."
Reconciliar?
Senti o meu estômago revirar.
"Diga-lhe que não há nada para reconciliar. O casamento acabou."
"Eu já lhe disse isso. Ele insiste. Ele também fez uma contraproposta. Ele concorda com o divórcio, mas apenas se tu concordares com as condições dele."
"Que condições?"
"Ele quer a casa. O carro. E metade das tuas poupanças."
Fiquei em silêncio.
A casa que o meu pai me deixou. O carro que eu comprei com o meu próprio dinheiro antes de casar. As minhas poupanças, o dinheiro que a minha mãe me ajudou a juntar.
Ele queria tudo.
"Isso é impossível. A lei está do meu lado. Os bens são meus, de antes do casamento."
"Eu sei, Sofia. Mas ele está a ameaçar arrastar o processo. Torná-lo feio. Ele disse que tem... informações... que poderiam prejudicar a tua reputação."
Senti um arrepio.
"Que informações?"
"Ele não especificou. Mas o tom dele era... desagradável."
Sabia exatamente o que ele estava a fazer. Ele estava a tentar intimidar-me. A esgotar-me.
Ele conhecia-me. Sabia que eu odiava conflitos.
Ele pensava que eu cederia, só para ter paz.
Mas ele não conhecia a nova Sofia.
A Sofia que viu a mãe morrer. A Sofia que ele deixou sozinha.
"Diga-lhe que nos vemos em tribunal."
Desliguei e respirei fundo.
A guerra tinha começado.