Cicatrizes de Concreto
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Capítulo 2

Quando acordei, a primeira coisa que vi foi o teto branco e estéril de um hospital.

O cheiro a antisséptico invadiu-me as narinas.

Uma enfermeira estava a ajustar o meu soro.

"Finalmente acordou", disse ela, com um sorriso cansado. "Teve sorte. Os bombeiros encontraram-na mesmo a tempo."

Tentei mexer-me, mas uma dor aguda atravessou a minha perna direita.

Olhei para baixo.

Onde deveria estar a minha perna, havia apenas um volume coberto por lençóis.

O meu coração afundou.

"A sua perna...", começou a enfermeira, com a voz suave. "Tivemos de a amputar abaixo do joelho. Não havia outra opção."

As palavras dela não pareciam reais. Eram apenas sons vazios.

Amputada.

A palavra ecoou na minha cabeça.

A porta do quarto abriu-se e a minha mãe entrou, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

"Minha filha!", soluçou ela, agarrando a minha mão. "Graças a Deus que estás viva."

Eu não conseguia chorar. Sentia-me oca por dentro.

"O Pedro?", perguntei, com a voz fraca.

A expressão da minha mãe endureceu. "Ele não veio. Liguei-lhe dezenas de vezes. A sogra disse que ele estava muito abalado com o que aconteceu ao cão e que precisava de descansar."

Abalado. Ele estava abalado.

Uma risada seca escapou dos meus lábios.

"Mãe, quero o divórcio."

Ela olhou para mim, chocada. "Helena, agora não é altura para..."

"É a altura perfeita", interrompi-a, com uma calma que me assustou a mim mesma. "Liga ao meu advogado. Diz-lhe para preparar os papéis."

O meu telemóvel, que os bombeiros tinham recuperado, estava na mesinha de cabeceira.

Peguei nele. Havia dezenas de chamadas perdidas da minha mãe.

Nenhuma do Pedro.

Nenhuma da minha sogra.

Nenhuma da Sofia.

Abri as redes sociais.

A primeira coisa que vi foi uma publicação da Sofia.

Uma foto do Pedro a abraçar o Trovão no sofá. A legenda dizia: "O meu herói! Salvou o nosso menino. O susto já passou, agora é só mimos."

A foto tinha sido publicada há poucas horas.

Enquanto eu estava a ser operada, a perder a minha perna, ele estava em casa, a "recuperar do susto".

Senti uma onda de náusea.

            
            

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