No dia seguinte, fui a uma advogada.
A Dra. Campos era uma mulher pequena, de cabelos grisalhos e olhos penetrantes.
Contei-lhe tudo.
A negligência do Pedro, a perda do bebé, a fechadura trocada, as minhas coisas deitadas fora.
Ela ouviu em silêncio, a tomar notas.
Quando terminei, ela olhou para mim por cima dos óculos.
"Senhora Matos, o seu marido está a cometer vários crimes. Abandono de lar, apropriação indevida de bens... podemos processá-lo por danos morais e materiais."
"Eu quero o divórcio o mais rápido possível. E quero tudo a que tenho direito."
"Isso é o mínimo. O apartamento está em nome dele?"
"Sim, mas foi comprado depois do nosso casamento. Nós casámos com comunhão de adquiridos."
"Ótimo. Isso significa que metade é sua. E quanto às suas coisas?"
"Ele diz que doou tudo. A minha cunhada estava a usar o meu roupão."
A Dra. Campos sorriu, um sorriso fino e duro.
"Isso é excelente. Significa que eles estão a mentir. Eles têm as suas coisas. Vamos pedir uma ordem judicial para as recuperar."
Senti um pingo de esperança pela primeira vez em dias.
"O que preciso de fazer?"
"Primeiro, vamos enviar uma notificação formal de divórcio. Depois, vamos entrar com uma ação para a divisão de bens. E vamos pedir uma medida protetiva para que ele não se possa aproximar de si."
"Medida protetiva?"
"Sim. Ele trocou a fechadura e ameaçou chamar a polícia. Isso é comportamento agressivo. Precisamos de garantir a sua segurança."
Saí do escritório da Dra. Campos a sentir-me mais forte.
Já não era a vítima indefesa.
Eu tinha um plano.
Quando cheguei a casa da minha mãe, ela estava ao telefone, a discutir.
"Eu não quero saber, Laura! O que o teu filho fez é desumano! Ele vai pagar por isso!"
Ela desligou, o rosto vermelho de fúria.
"Era a tua sogra. Ela teve o descaramento de me ligar a dizer que devias pedir desculpa ao Pedro por o teres stressado."
Eu peguei na mão da minha mãe.
"Não te preocupes, mãe. A Dra. Campos vai tratar de tudo."
Naquela noite, recebi uma mensagem de um número desconhecido.
"És uma cabra egoísta. Vais destruir esta família. Vais arrepender-te."
Era a Sofia.
Apaguei a mensagem e bloqueei o número.
A guerra tinha começado.
E eu não ia perder.