A palavra "divórcio" pairou no ar, pesada e feia.
Pedro olhou para mim, incrédulo.
"Divórcio? Estás a falar a sério? Depois de tudo o que passámos? Perdemos o nosso filho e tu queres desistir de nós?"
"Nós não perdemos o nosso filho, Pedro. Tu perdeste-o. A tua escolha custou-lhe a vida."
"Isso é uma acusação horrível, Clara! Eu amava aquele bebé!"
"Não o suficiente. Não mais do que amavas sentir-te necessário para a Sofia."
A sua mãe, Helena, tentou novamente apaziguar.
"Clara, querida, estás em choque. Não estás a pensar com clareza. Não podes tomar uma decisão destas agora."
"Estou a pensar com mais clareza do que nunca", respondi, a voz fria como gelo. "Vi exatamente quais são as tuidades do teu filho. Eu e o meu filho não estávamos no topo da lista."
Pedro passou as mãos pelo cabelo, frustrado.
"Isto é ridículo! Estás a ser irracional! A Sofia é minha amiga, só isso! Sempre foi!"
"A tua amiga que te liga a chorar no meio da noite? A tua amiga cuja felicidade parece ser mais importante que a segurança da tua família?"
Ele não tinha resposta. Apenas ficou ali, a olhar para mim com uma mistura de raiva e súplica.
"Não podemos fazer isto, Clara. Podemos fazer terapia. Podemos resolver isto."
"Não há nada para resolver. Não posso olhar para ti sem ver o que perdemos. Não posso confiar em ti. Nunca mais."
Virei o rosto para a janela, terminando a conversa.
O silêncio no quarto era esmagador. Podia senti-los a olhar para mim. Podia sentir a desaprovação de Helena, a frustração de Pedro.
Mas tudo o que eu sentia era um vazio imenso. Onde o meu filho deveria estar, havia apenas dor e a certeza de que o meu casamento tinha acabado.
Ele morreu com o meu bebé.