Entre Escombros e Um Novo Caminho
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Capítulo 3

As horas de espera foram as mais longas da minha vida.

Sentei-me na sala de espera, um espaço impessoal cheio de cadeiras desconfortáveis e revistas velhas.

Cada vez que a porta se abria, o meu coração saltava.

Finalmente, o cirurgião apareceu. O seu rosto estava cansado, mas ele deu-me um pequeno sorriso.

"A cirurgia correu como esperado. O Leo está estável e na recuperação. Ele é um rapaz muito forte."

Um alívio imenso percorreu o meu corpo, tão forte que as minhas pernas fraquejaram.

"Posso vê-lo?"

"Daqui a pouco. Deixe-o acordar da anestesia."

Agradeci ao médico e voltei para o corredor, encostando-me à parede.

O meu telemóvel vibrou. Era um número desconhecido. Atendi com hesitação.

"Helena? É a Sofia." A sua voz era chorosa.

"Encontrámos o Mimo! Ele estava escondido atrás da máquina de lavar. Estava tão assustado, coitadinho!"

Fiquei em silêncio.

"Não estás contente por nós?" perguntou ela, a sua voz a soar infantil.

"Sofia, o teu sobrinho acabou de sair de uma cirurgia de amputação."

Houve uma pausa. "Ah, pois. O Miguel disse-me. Mas o importante é que ele está vivo, certo? Perna a mais, perna a menos... ele habitua-se. Agora, o Mimo... ele é tão sensível. Este trauma pode afetá-lo para sempre."

Eu desliguei.

Não havia nada a dizer. Era como falar com uma parede. Uma parede egoísta e mimada.

Pouco depois, levaram o Leo de volta para o quarto.

Ele ainda estava sonolento, mas abriu os olhos quando me ouviu.

"Mãe..."

"Olá, meu campeão."

Ele olhou para baixo, para o lençol. A sua perna direita terminava a meio da coxa.

Uma lágrima silenciosa escorreu pelo seu rosto.

"Já não está lá," sussurrou ele.

O meu coração partiu-se. Sentei-me na cama e abracei-o com cuidado.

"Não, não está. Mas tu estás aqui. E isso é tudo o que importa. Nós vamos ultrapassar isto juntos."

Ficámos assim por um longo tempo. Eu a segurá-lo, ele a chorar silenciosamente no meu ombro.

No final da tarde, a porta do quarto abriu-se de repente.

Miguel entrou, seguido por Sofia e pelos seus pais.

Sofia correu para o lado da cama, os seus olhos a examinar o Leo.

"Oh, meu Deus! Parece tão estranho! Coitadinho."

O meu sogro, Pedro, ficou à porta, o seu rosto uma máscara de desaprovação. "Vês? Um exagero. Nem parece tão mau."

A minha sogra, Laura, uma mulher que sempre viveu na sombra do marido, apenas murmurou: "Pelo menos está vivo."

Miguel aproximou-se de mim. O seu rosto não mostrava culpa, apenas irritação.

"Porque é que não esperaste por mim? Eu disse-te para não fazeres nada!"

"Ele precisava da cirurgia, Miguel. Não podia esperar pela tua conveniência."

"Conveniência? A minha irmã estava a ter um ataque de pânico! A família vem primeiro!"

"O Leo também é família," retorqui, a minha voz a subir. "Ou ele não conta?"

Leo, que tinha estado em silêncio, virou a cabeça e olhou para o pai.

"Pai, porque não vieste mais cedo?"

A pergunta inocente pairou no ar, carregada de uma dor que nenhum adulto ali parecia compreender.

Miguel ficou sem jeito. "Eu... eu tive de ajudar a tia Sofia, campeão. Ela precisava muito de mim."

Leo olhou para a sua perna amputada e depois de volta para o pai.

"Mais do que eu?"

            
            

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