As horas de espera foram as mais longas da minha vida.
Sentei-me na sala de espera, um espaço impessoal cheio de cadeiras desconfortáveis e revistas velhas.
Cada vez que a porta se abria, o meu coração saltava.
Finalmente, o cirurgião apareceu. O seu rosto estava cansado, mas ele deu-me um pequeno sorriso.
"A cirurgia correu como esperado. O Leo está estável e na recuperação. Ele é um rapaz muito forte."
Um alívio imenso percorreu o meu corpo, tão forte que as minhas pernas fraquejaram.
"Posso vê-lo?"
"Daqui a pouco. Deixe-o acordar da anestesia."
Agradeci ao médico e voltei para o corredor, encostando-me à parede.
O meu telemóvel vibrou. Era um número desconhecido. Atendi com hesitação.
"Helena? É a Sofia." A sua voz era chorosa.
"Encontrámos o Mimo! Ele estava escondido atrás da máquina de lavar. Estava tão assustado, coitadinho!"
Fiquei em silêncio.
"Não estás contente por nós?" perguntou ela, a sua voz a soar infantil.
"Sofia, o teu sobrinho acabou de sair de uma cirurgia de amputação."
Houve uma pausa. "Ah, pois. O Miguel disse-me. Mas o importante é que ele está vivo, certo? Perna a mais, perna a menos... ele habitua-se. Agora, o Mimo... ele é tão sensível. Este trauma pode afetá-lo para sempre."
Eu desliguei.
Não havia nada a dizer. Era como falar com uma parede. Uma parede egoísta e mimada.
Pouco depois, levaram o Leo de volta para o quarto.
Ele ainda estava sonolento, mas abriu os olhos quando me ouviu.
"Mãe..."
"Olá, meu campeão."
Ele olhou para baixo, para o lençol. A sua perna direita terminava a meio da coxa.
Uma lágrima silenciosa escorreu pelo seu rosto.
"Já não está lá," sussurrou ele.
O meu coração partiu-se. Sentei-me na cama e abracei-o com cuidado.
"Não, não está. Mas tu estás aqui. E isso é tudo o que importa. Nós vamos ultrapassar isto juntos."
Ficámos assim por um longo tempo. Eu a segurá-lo, ele a chorar silenciosamente no meu ombro.
No final da tarde, a porta do quarto abriu-se de repente.
Miguel entrou, seguido por Sofia e pelos seus pais.
Sofia correu para o lado da cama, os seus olhos a examinar o Leo.
"Oh, meu Deus! Parece tão estranho! Coitadinho."
O meu sogro, Pedro, ficou à porta, o seu rosto uma máscara de desaprovação. "Vês? Um exagero. Nem parece tão mau."
A minha sogra, Laura, uma mulher que sempre viveu na sombra do marido, apenas murmurou: "Pelo menos está vivo."
Miguel aproximou-se de mim. O seu rosto não mostrava culpa, apenas irritação.
"Porque é que não esperaste por mim? Eu disse-te para não fazeres nada!"
"Ele precisava da cirurgia, Miguel. Não podia esperar pela tua conveniência."
"Conveniência? A minha irmã estava a ter um ataque de pânico! A família vem primeiro!"
"O Leo também é família," retorqui, a minha voz a subir. "Ou ele não conta?"
Leo, que tinha estado em silêncio, virou a cabeça e olhou para o pai.
"Pai, porque não vieste mais cedo?"
A pergunta inocente pairou no ar, carregada de uma dor que nenhum adulto ali parecia compreender.
Miguel ficou sem jeito. "Eu... eu tive de ajudar a tia Sofia, campeão. Ela precisava muito de mim."
Leo olhou para a sua perna amputada e depois de volta para o pai.
"Mais do que eu?"