Entre Escombros e Um Novo Caminho
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Capítulo 4

A pergunta do Leo deixou Miguel sem resposta.

Ele gaguejou, procurando palavras que não existiam.

"Não é isso, filho... é complicado."

Sofia interveio, a sua voz cheia de uma falsa doçura. "Oh, Leo, não sejas assim com o teu pai. Ele ama-te. Mas eu estava muito, muito assustada."

Ela pegou na mão do Leo. "Mas agora está tudo bem! O Mimo apareceu, e tu estás aqui. Podemos ir todos comer um gelado para celebrar quando saíres daqui!"

A insensibilidade dela era de outro mundo.

Leo afastou a mão dela. "Não quero gelado."

Ele virou-se para mim, o seu rosto pequeno e sério. "Mãe, quero que eles se vão embora."

O silêncio no quarto tornou-se pesado.

Pedro, o meu sogro, deu um passo em frente. "Que insolência! É assim que falas com a tua família? Depois de tudo o que fizemos por ti?"

"O que é que fizeram por ele?" perguntei, levantando-me. A minha voz era calma, mas fria como gelo. "O que é que algum de vocês fez por ele, além de o criticar e minimizar a sua dor?"

Virei-me para Miguel. "O teu filho precisava de ti. Ele chamou por ti. E tu estavas a caçar um gato."

"Não fales assim do Mimo!" gritou Sofia. "Ele é como um filho para mim!"

"Então talvez devesses ter um filho de verdade," disparei, "e depois falamos."

O rosto de Sofia contorceu-se de raiva. Miguel deu um passo na minha direção.

"Já chega, Helena! Pede desculpa à minha irmã!"

"Não."

Olhei para cada um deles. O meu sogro zangado, a minha sogra passiva, a minha cunhada mimada e o meu marido, o homem que eu um dia amei, agora um estranho.

"O meu filho pediu para vocês saírem. E eu concordo. Saiam. Agora."

Pedro riu-se, um som seco e desagradável. "Esta é a casa do meu filho também, tecnicamente. Ele paga as contas. Não nos podes expulsar."

"Isto é um hospital, não a vossa casa. E neste momento, a única coisa que importa é o bem-estar do meu filho. E a vossa presença está a perturbá-lo. Portanto, saiam."

A minha calma pareceu desarmá-los mais do que qualquer grito.

Miguel olhou para o Leo, depois para mim, a sua expressão uma mistura de raiva e confusão.

"Isto não fica assim, Helena."

"Eu sei," respondi. "Não vai mesmo."

Eles saíram, um por um. Sofia lançou-me um olhar de puro ódio. Pedro abanou a cabeça em desaprovação. Laura não olhou para mim.

Miguel foi o último a sair. Ele parou à porta.

"Vais arrepender-te disto."

Fechei a porta na cara dele.

Virei-me e vi o Leo a olhar para mim, os seus olhos a brilhar de admiração.

"Foste corajosa, mãe."

Sentei-me ao lado dele e peguei-lhe na mão.

"Tu é que és o corajoso, meu amor. Tu é que és."

Naquela noite, enquanto o Leo dormia, eu comecei a fazer planos.

Contactei um advogado especializado em divórcios. Enviei-lhe um e-mail a explicar a situação.

Procurei apartamentos para alugar perto do hospital e de uma boa escola com acessibilidade.

Comecei a transferir as minhas poupanças para uma conta separada.

A guerra tinha começado. E eu não ia perdê-la.

                         

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