A pergunta do Leo deixou Miguel sem resposta.
Ele gaguejou, procurando palavras que não existiam.
"Não é isso, filho... é complicado."
Sofia interveio, a sua voz cheia de uma falsa doçura. "Oh, Leo, não sejas assim com o teu pai. Ele ama-te. Mas eu estava muito, muito assustada."
Ela pegou na mão do Leo. "Mas agora está tudo bem! O Mimo apareceu, e tu estás aqui. Podemos ir todos comer um gelado para celebrar quando saíres daqui!"
A insensibilidade dela era de outro mundo.
Leo afastou a mão dela. "Não quero gelado."
Ele virou-se para mim, o seu rosto pequeno e sério. "Mãe, quero que eles se vão embora."
O silêncio no quarto tornou-se pesado.
Pedro, o meu sogro, deu um passo em frente. "Que insolência! É assim que falas com a tua família? Depois de tudo o que fizemos por ti?"
"O que é que fizeram por ele?" perguntei, levantando-me. A minha voz era calma, mas fria como gelo. "O que é que algum de vocês fez por ele, além de o criticar e minimizar a sua dor?"
Virei-me para Miguel. "O teu filho precisava de ti. Ele chamou por ti. E tu estavas a caçar um gato."
"Não fales assim do Mimo!" gritou Sofia. "Ele é como um filho para mim!"
"Então talvez devesses ter um filho de verdade," disparei, "e depois falamos."
O rosto de Sofia contorceu-se de raiva. Miguel deu um passo na minha direção.
"Já chega, Helena! Pede desculpa à minha irmã!"
"Não."
Olhei para cada um deles. O meu sogro zangado, a minha sogra passiva, a minha cunhada mimada e o meu marido, o homem que eu um dia amei, agora um estranho.
"O meu filho pediu para vocês saírem. E eu concordo. Saiam. Agora."
Pedro riu-se, um som seco e desagradável. "Esta é a casa do meu filho também, tecnicamente. Ele paga as contas. Não nos podes expulsar."
"Isto é um hospital, não a vossa casa. E neste momento, a única coisa que importa é o bem-estar do meu filho. E a vossa presença está a perturbá-lo. Portanto, saiam."
A minha calma pareceu desarmá-los mais do que qualquer grito.
Miguel olhou para o Leo, depois para mim, a sua expressão uma mistura de raiva e confusão.
"Isto não fica assim, Helena."
"Eu sei," respondi. "Não vai mesmo."
Eles saíram, um por um. Sofia lançou-me um olhar de puro ódio. Pedro abanou a cabeça em desaprovação. Laura não olhou para mim.
Miguel foi o último a sair. Ele parou à porta.
"Vais arrepender-te disto."
Fechei a porta na cara dele.
Virei-me e vi o Leo a olhar para mim, os seus olhos a brilhar de admiração.
"Foste corajosa, mãe."
Sentei-me ao lado dele e peguei-lhe na mão.
"Tu é que és o corajoso, meu amor. Tu é que és."
Naquela noite, enquanto o Leo dormia, eu comecei a fazer planos.
Contactei um advogado especializado em divórcios. Enviei-lhe um e-mail a explicar a situação.
Procurei apartamentos para alugar perto do hospital e de uma boa escola com acessibilidade.
Comecei a transferir as minhas poupanças para uma conta separada.
A guerra tinha começado. E eu não ia perdê-la.