O Sabor Amargo da Culpa
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Capítulo 1

O meu filho, Leo, morreu no dia em que completou três anos.

Ele morreu de uma reação alérgica grave a amendoins.

E o meu marido, Tiago, foi quem lhe deu o bolo de amendoim.

Sentada no chão frio do hospital, o meu corpo tremia sem parar, as minhas mãos ainda sujas com o creme do bolo que tentei tirar da boca do meu filho.

O médico saiu da sala de emergência, o seu rosto sombrio.

"Fizemos tudo o que podíamos."

Estas palavras, calmas e profissionais, sugaram toda a força do meu corpo.

O mundo ficou em silêncio, só conseguia ouvir o zumbido nos meus ouvidos.

A minha sogra, Helena, correu para o Tiago, abraçando-o com força.

"Meu pobre filho, não te culpes, foi um acidente."

Depois, ela virou-se para mim, os seus olhos cheios de ódio.

"A culpa é toda tua, Sofia! Se tivesses estado a vigiá-lo melhor, isto não teria acontecido! Foste sempre uma mãe descuidada!"

A minha cunhada, Inês, que estava ao lado dela, juntou-se ao ataque.

"Exatamente, mamã. O Tiago só queria fazer o Leo feliz. Ele não sabia da alergia. A Sofia é a mãe, ela devia saber destas coisas e ter avisado toda a gente mil vezes!"

Eu não sabia da alergia?

Eu tinha-lhes dito.

Eu disse-lhes um milhão de vezes.

"O Leo é gravemente alérgico a amendoins. Um bocadinho pode matá-lo."

Eu escrevi em notas adesivas e colei-as no frigorífico.

Enviei-lhes mensagens de texto.

Eu disse-lhes cara a cara, todas as semanas.

Mas eles nunca ouviram.

Eles pensavam que eu estava a exagerar, a ser uma mãe superprotetora.

O Tiago uma vez até disse, a rir: "Relaxa, Sofia. Um pouco não lhe vai fazer mal. Tu és demasiado nervosa."

Agora, o meu filho estava morto.

E eles estavam a culpar-me.

Olhei para o Tiago, esperando que ele me defendesse, que dissesse a verdade.

Mas ele apenas olhou para o chão, evitando o meu olhar.

O seu silêncio foi a sua resposta.

Foi a sua traição.

Naquele momento, o amor que eu sentia por ele morreu.

Morreu juntamente com o nosso filho.

"Vamos divorciar-nos, Tiago," a minha voz saiu rouca, um sussurro que mal se ouvia.

Ele finalmente levantou a cabeça, os seus olhos arregalados de surpresa.

"O quê? Sofia, o nosso filho acabou de morrer e tu estás a falar em divórcio? Não tens coração?"

A Helena gritou, a sua voz estridente a ecoar pelo corredor.

"Estás a ver? Eu sempre disse que ela não te amava! Ela só queria o nosso dinheiro! Agora que o Leo se foi, ela não tem mais nenhuma razão para ficar!"

Senti uma vontade de rir, mas o que saiu foi um soluço seco e doloroso.

O meu coração estava feito em pedaços, mas a minha mente estava estranhamente clara.

Eu não podia ficar.

Não com estas pessoas.

Não com o homem que matou o meu filho e se recusou a admiti-lo.

            
            

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