O Sabor Amargo da Culpa
img img O Sabor Amargo da Culpa img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

No dia seguinte, fui a um escritório de advocacia.

A advogada, a Sra. Almeida, era uma mulher de meia-idade com um olhar simpático.

Ela ouviu a minha história em silêncio, a sua expressão a tornar-se mais séria a cada palavra.

"Isto é mais do que apenas um divórcio, Sra. Costa," disse ela quando terminei. "Isto é negligência criminosa."

A palavra "criminosa" pairou no ar.

Eu não tinha pensado nisso.

Eu só queria sair, escapar.

"Eu não quero mandá-lo para a prisão," eu disse, a minha voz fraca. "Eu só... eu só quero que ele saia da minha vida."

"Eu entendo," disse a Sra. Almeida. "Mas precisamos de usar todas as ferramentas que temos. A ameaça de acusações criminais dar-nos-á uma grande vantagem nas negociações do divórcio."

Ela explicou o processo, os papéis que precisavam de ser preenchidos, a divisão de bens.

A casa estava em meu nome, uma herança dos meus pais.

Isso era um alívio.

Pelo menos eu teria um lugar para ficar.

Quando voltei para casa, o Tiago estava sentado na sala de estar, rodeado pela sua mãe e irmã.

Parecia uma intervenção.

"Sofia, onde estiveste?" perguntou a Helena, a sua voz acusadora.

"Não é da tua conta," respondi, caminhando em direção ao quarto de hóspedes.

"É da nossa conta sim!" disse a Inês. "O meu irmão está a sofrer e tu desapareces o dia todo!"

O Tiago levantou-se. "Eu fui ao quarto do Leo. Tu arrumaste tudo."

"Sim," eu disse. "Eu não conseguia olhar para aquilo."

"Tu não tinhas o direito!" ele gritou. "Aquelas também eram as minhas memórias!"

"Tu perdeste o direito a essas memórias," retorqui, a minha voz gelada.

Entreguei-lhe uma cópia dos papéis do divórcio que a Sra. Almeida me tinha dado.

Ele olhou para os papéis, o seu rosto a ficar pálido.

"Tu não estás a falar a sério."

"Eu nunca falei tão a sério na minha vida."

A Helena arrancou os papéis da mão dele.

Os seus olhos percorreram o documento.

"Tu estás a tentar tirar-lhe tudo! A casa, o dinheiro! Sua caçadora de fortunas!"

"A casa é minha," eu disse calmamente. "E eu não quero o dinheiro dele. Eu só quero que ele desapareça."

"Nós não vamos a lado nenhum!" gritou a Inês. "Esta é a casa do meu irmão também!"

"Não legalmente," eu disse, olhando diretamente para o Tiago. "Tu tens 24 horas para saíres. Tu e a tua família. Se não o fizeres, a minha advogada vai avançar com acusações criminais por negligência que resultou em morte."

O silêncio na sala era ensurdecedor.

A Helena e a Inês olharam para mim, chocadas.

O rosto do Tiago desmoronou-se.

Ele sabia que eu estava a falar a sério.

Ele sabia que eu tinha ganhado.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022