No dia seguinte, fui a um escritório de advocacia.
A advogada, a Sra. Almeida, era uma mulher de meia-idade com um olhar simpático.
Ela ouviu a minha história em silêncio, a sua expressão a tornar-se mais séria a cada palavra.
"Isto é mais do que apenas um divórcio, Sra. Costa," disse ela quando terminei. "Isto é negligência criminosa."
A palavra "criminosa" pairou no ar.
Eu não tinha pensado nisso.
Eu só queria sair, escapar.
"Eu não quero mandá-lo para a prisão," eu disse, a minha voz fraca. "Eu só... eu só quero que ele saia da minha vida."
"Eu entendo," disse a Sra. Almeida. "Mas precisamos de usar todas as ferramentas que temos. A ameaça de acusações criminais dar-nos-á uma grande vantagem nas negociações do divórcio."
Ela explicou o processo, os papéis que precisavam de ser preenchidos, a divisão de bens.
A casa estava em meu nome, uma herança dos meus pais.
Isso era um alívio.
Pelo menos eu teria um lugar para ficar.
Quando voltei para casa, o Tiago estava sentado na sala de estar, rodeado pela sua mãe e irmã.
Parecia uma intervenção.
"Sofia, onde estiveste?" perguntou a Helena, a sua voz acusadora.
"Não é da tua conta," respondi, caminhando em direção ao quarto de hóspedes.
"É da nossa conta sim!" disse a Inês. "O meu irmão está a sofrer e tu desapareces o dia todo!"
O Tiago levantou-se. "Eu fui ao quarto do Leo. Tu arrumaste tudo."
"Sim," eu disse. "Eu não conseguia olhar para aquilo."
"Tu não tinhas o direito!" ele gritou. "Aquelas também eram as minhas memórias!"
"Tu perdeste o direito a essas memórias," retorqui, a minha voz gelada.
Entreguei-lhe uma cópia dos papéis do divórcio que a Sra. Almeida me tinha dado.
Ele olhou para os papéis, o seu rosto a ficar pálido.
"Tu não estás a falar a sério."
"Eu nunca falei tão a sério na minha vida."
A Helena arrancou os papéis da mão dele.
Os seus olhos percorreram o documento.
"Tu estás a tentar tirar-lhe tudo! A casa, o dinheiro! Sua caçadora de fortunas!"
"A casa é minha," eu disse calmamente. "E eu não quero o dinheiro dele. Eu só quero que ele desapareça."
"Nós não vamos a lado nenhum!" gritou a Inês. "Esta é a casa do meu irmão também!"
"Não legalmente," eu disse, olhando diretamente para o Tiago. "Tu tens 24 horas para saíres. Tu e a tua família. Se não o fizeres, a minha advogada vai avançar com acusações criminais por negligência que resultou em morte."
O silêncio na sala era ensurdecedor.
A Helena e a Inês olharam para mim, chocadas.
O rosto do Tiago desmoronou-se.
Ele sabia que eu estava a falar a sério.
Ele sabia que eu tinha ganhado.