O Preço da Traição: A Vingança da Esposa Negligenciada
img img O Preço da Traição: A Vingança da Esposa Negligenciada img Capítulo 3
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Capítulo 3

A Clara chegou ao hospital uma hora depois, com o rosto manchado de fuligem e os olhos cheios de preocupação. Ela trazia uma pequena caixa de metal.

"Ana, eu sinto muito. Por tudo." Ela abraçou-me com cuidado. "O apartamento... está muito mau. Mas eu encontrei isto debaixo da tua cama. Estava protegido."

Ela entregou-me a caixa. Eu abri-a. Lá dentro, estava o diário da minha mãe.

A minha mãe morreu quando eu tinha dezoito anos. Ela deixou-me este diário, mas eu nunca tive coragem de o ler. Era demasiado doloroso.

"Obrigada, Clara. Significa muito para mim."

"O que vais fazer agora?" ela perguntou, sentando-se na beira da cama.

"Vou divorciar-me do Miguel. E vou sair de Lisboa."

"Para onde vais?"

"Ainda não sei. Para algum lugar onde possa respirar."

A Clara apertou a minha mão. "Eu estou aqui para o que precisares. Não estás sozinha."

Depois de ela sair, abri o diário. A caligrafia da minha mãe era elegante, fluida. As primeiras páginas falavam do seu amor pelo meu pai, um homem que eu mal conheci.

Mas à medida que eu lia, a história mudava. A minha mãe começou a escrever sobre a sua sogra, a minha avó paterna.

As palavras eram um eco assustador do que eu tinha acabado de viver com a Helena.

"Hoje, a mãe do João disse-me que eu não sou boa o suficiente para ele. Que eu sou apenas uma rapariga simples do campo e que estou a impedi-lo de alcançar o seu potencial. Ela disse isto enquanto me ajudava a pôr a mesa para o jantar."

"O João defende-a sempre. Ele diz que a mãe dele é apenas 'protetora' e que eu sou 'demasiado sensível' . Ele não vê como as palavras dela me magoam."

"Ela controla tudo. O nosso dinheiro, as nossas férias, até o nome que quer para o nosso futuro filho. E o João deixa. Ele diz que é mais fácil evitar discussões."

Eu fechei o diário, com o coração a bater descompassado. Era a mesma história. Duas gerações, a mesma dor. A minha mãe viveu uma vida de submissão silenciosa, sempre a tentar agradar a uma família que nunca a aceitou verdadeiramente. Ela ficou. E isso destruiu-a por dentro.

Eu não ia cometer o mesmo erro.

A porta do quarto abriu-se de repente. Era o Miguel.

O seu rosto estava cansado, os seus olhos vermelhos. Ele parecia um homem derrotado.

"Ana," ele disse, a sua voz baixa. "Podemos conversar?"

"Eu pensei que tinhas bloqueado o meu número."

Ele ignorou o comentário. "A minha mãe disse-me o que aconteceu. Que tu desmaiaste. Que foi por isso que..." Ele não conseguiu terminar a frase.

"Sim, Miguel. Foi por isso."

Ele aproximou-se da cama. "Ana, eu sinto muito. Eu estraguei tudo. Eu estava em pânico. A Sofia ligou-me, a gritar, e eu... eu simplesmente reagi. Não pensei."

"Tu não pensaste em mim. Nem por um segundo."

"Isso não é verdade! Eu pensei que estavas segura! Pensei que os vizinhos te ajudariam!"

"Eles ajudaram-se a si mesmos, Miguel. Como toda a gente faz numa situação de pânico."

Ele passou as mãos pelo cabelo. "Eu amo-te, Ana. Eu não quero perder-te. Nós podemos ultrapassar isto. Podemos tentar ter outro bebé."

A menção de outro bebé foi como um soco no estômago.

"Não," eu disse, a minha voz gelada. "Não haverá outro bebé. Não haverá 'nós'."

"Por favor, não digas isso. Dá-me outra oportunidade. Eu faço qualquer coisa."

"Eu quero o divórcio," repeti, cada palavra um prego no caixão do nosso casamento.

Os seus ombros caíram. Ele olhou para mim, os seus olhos a suplicar. Mas pela primeira vez, eu não senti nada. Nenhuma pena. Nenhuma hesitação.

Apenas um vazio frio e a certeza absoluta de que eu estava a fazer a coisa certa.

"Eu não vou assinar nada," ele disse, a sua voz a endurecer. "Eu não te vou facilitar as coisas."

"Então, vemo-nos no tribunal."

Ele olhou para mim por mais um longo momento, depois virou-se e saiu, batendo a porta atrás de si.

Eu peguei no diário da minha mãe novamente. Eu não estava apenas a lutar pelo meu futuro. Estava a lutar para quebrar um ciclo que a tinha aprisionado.

Eu não ia ser a minha mãe.

            
            

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