Entre a Dor e a Luta: O Renascer de Sofia
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Capítulo 1

Quando o médico me disse que a minha filha, Bia, nunca mais acordaria, o mundo desabou. O acidente de carro tinha sido há três dias.

Eu estava no hospital, ao lado da cama dela, sem dormir, sem comer. O meu marido, Pedro, estava em casa.

Ele disse que precisava de cuidar do nosso filho, Léo, que só tinha cinco anos.

Peguei no meu telemóvel. Os meus dedos tremiam. Liguei para o Pedro. Precisava dele. Precisava que ele estivesse aqui quando os médicos desligassem as máquinas.

A chamada demorou a ser atendida. Quando ele finalmente atendeu, a sua voz estava distante, irritada.

"O que foi agora, Sofia? Estou a tentar pôr o Léo a dormir. Não podes resolver isso sozinha?"

A sua voz era fria. Não havia preocupação.

"Pedro, a Bia... os médicos disseram que não há mais nada a fazer. Eles vão... eles vão desligar o suporte de vida."

A minha voz falhou. As lágrimas que eu segurava começaram a cair.

Do outro lado da linha, ouvi a voz da minha sogra, a Dona Elvira.

"Pedro, querido, deixa isso. O Léo está com febre, precisa de ti. Essa rapariga só te dá problemas, mesmo agora."

Depois, ouvi o Léo a chorar ao fundo.

"Mamã, a avó disse que a Bia foi para o céu. É verdade?"

O meu coração partiu-se em mil pedaços.

"Pedro, por favor, vem para cá. Eu não consigo passar por isto sozinha."

Ele suspirou, um som pesado e cheio de impaciência.

"Sofia, entende. O Léo está doente. A minha mãe está a ajudar. Não posso simplesmente largar tudo. A Bia já se foi. O Léo ainda precisa de um pai."

"Ela ainda não se foi!" gritei, mas ele já não estava a ouvir.

"Temos de ser fortes pelo Léo. Pára de ser egoísta. Desligo agora."

Ele desligou.

Olhei para o ecrã escuro do telemóvel. Egoísta? A minha filha estava a morrer, e eu era egoísta por querer o pai dela ao meu lado.

Olhei para a Bia. Tão pálida, tão imóvel. A sua mãozinha estava fria na minha. O monitor cardíaco apitava num ritmo lento e final.

A decisão de me divorciar não foi uma escolha. Foi uma necessidade. Eu não podia continuar casada com um homem que escolheu um resfriado em vez do último suspiro da nossa filha.

Ele não estava apenas a cuidar do Léo. Ele estava a fugir. A fugir da dor, da responsabilidade, de mim.

A porta do quarto abriu-se. O médico entrou, com um olhar de pena.

"Sra. Almeida, está na hora."

Eu assenti, incapaz de falar. Beijei a testa da Bia uma última vez.

"Eu amo-te, minha filha. Para sempre."

Quando saí do hospital, o mundo parecia cinzento e silencioso. O meu telemóvel vibrou. Era uma mensagem do Pedro.

"A febre do Léo baixou. A mãe fez canja. Vê se comes alguma coisa quando chegares."

Nenhuma pergunta sobre a Bia. Nenhuma palavra de conforto. Como se nada tivesse acontecido.

Naquele momento, eu soube que o meu casamento tinha morrido juntamente com a minha filha.

            
            

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