O escritório do advogado era impessoal e frio. Paredes beges, móveis escuros. O Dr. Mendes era um homem de meia-idade com um olhar cansado, como se já tivesse visto todo o tipo de miséria humana.
"Sra. Almeida, lamento a sua perda," disse ele, a sua voz profissional, mas com um toque de simpatia.
Eu assenti, incapaz de formular uma resposta.
"Então, divórcio," continuou ele, abrindo uma pasta. "O seu marido concorda?"
"Não. Ele acha que devemos ficar juntos 'pelo nosso filho'."
"É um argumento comum," disse o Dr. Mendes. "Têm bens em comum? A casa está em nome de quem?"
"De ambos. Comprámo-la depois de casarmos."
"E a guarda do seu filho, Léo?"
Essa era a pergunta que eu temia.
"Eu quero a guarda total. O Pedro... ele não é um pai presente. Ele não consegue lidar com situações difíceis."
"Isso pode ser difícil de provar em tribunal, Sra. Almeida. A menos que haja provas de negligência ou abuso, os tribunais geralmente favorecem a guarda partilhada."
Negligência. A palavra pairou no ar. Ele foi negligente com a Bia? Ou apenas um cobarde?
"Ele deixou-me sozinha no hospital quando a nossa filha estava a morrer."
O Dr. Mendes anotou. "Isso demonstra falta de apoio emocional, certamente. Mas o advogado dele vai argumentar que ele estava a cuidar do vosso outro filho doente. Vai ser a sua palavra contra a dele."
Senti-me a desinflar. Parecia que a lei não se importava com a dor, apenas com os factos. E os factos podiam ser torcidos.
"E a mãe dele," acrescentei. "Ela vive connosco. Ela torna a minha vida impossível."
"A influência da sogra pode ser um fator, mas novamente, difícil de quantificar legalmente."
Saí do escritório dele a sentir-me mais desamparada do que quando entrei. Parecia que o sistema estava feito para me manter presa.
Quando cheguei ao carro, o meu telemóvel tocou. Era o Pedro. Ignorei. Ele ligou de novo. E de novo. Finalmente, atendi, farta.
"O que queres, Pedro?"
"Onde estás? O Léo não para de perguntar por ti. A minha mãe levou-o ao parque, mas ele quer a mãe."
A sua voz tinha um tom de acusação.
"Eu disse-te que tinha um compromisso."
"Foste mesmo ao advogado, não foste? Sofia, por favor, pensa nisto. Pensa no Léo. Ele já perdeu a irmã, não pode perder a mãe também."
Ele estava a usar o Léo contra mim. A usar a minha própria maternidade como uma arma.
"Ele não me vai perder. Mas eu não posso continuar a viver contigo."
"Então o que queres? Que eu saia de casa?"
"Sim," respondi, surpreendendo-me a mim mesma com a minha firmeza. "Tu e a tua mãe. Saiam."
Houve um longo silêncio do outro lado.
"Esta casa também é minha, Sofia. Eu não vou a lado nenhum."
Ele desligou. Senti uma onda de frio. Isto ia ser uma guerra. Uma guerra pela minha casa, pelo meu filho, pela minha sanidade.