Do Banco de Órgãos ao Tribunal: Minha Luta Contra Eles
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Capítulo 3

Cheguei ao meu pequeno apartamento alugado, o único lugar que agora podia chamar de casa.

O espaço era minúsculo, mas era meu. Seguro.

Deixei-me cair no sofá, o cansaço a pesar em cada membro do meu corpo.

Fechei os olhos, mas a imagem daquela noite no hospital invadiu a minha mente.

A sensação de picada no meu braço.

A voz suave da Ana a dizer: "É para o teu próprio bem, Catarina."

O rosto preocupado do Miguel, a segurar a minha mão enquanto a escuridão me envolvia.

"Não te preocupes, meu amor. Vai ficar tudo bem", ele sussurrou.

Mentiras. Tudo mentiras.

Acordei com uma dor aguda no lado, uma cicatriz que seria uma lembrança eterna da sua traição.

A enfermeira disse-me que eu tinha tido um "aborto espontâneo" e que, devido a "complicações", o meu rim teve de ser removido.

Eles tinham tudo planeado.

A porta do apartamento abriu-se de repente, fazendo-me saltar.

O Miguel estava ali, o rosto vermelho de fúria.

"Como é que me encontraste?", perguntei, a minha voz a tremer ligeiramente.

"Não interessa. Nós temos de conversar."

Ele entrou e fechou a porta atrás de si.

"A Lúcia está furiosa. Tu humilhaste-a."

"Eu humilhei-a? Ela e tu roubaram-me o meu filho e o meu rim!", gritei, a minha raiva finalmente a explodir.

"Pára com o drama!", ele avançou na minha direção.

"Já te disse, foi um sacrifício. A família vem em primeiro lugar."

"Eu não sou a vossa família!", empurrei-o, mas ele nem se moveu.

"Tu és a minha mulher."

"Não mais. O juiz assinou os papéis. Acabou, Miguel."

Ele riu, um som frio e assustador.

"Tu achas que um pedaço de papel significa alguma coisa? Tu pertences-me, Catarina. Tu e tudo o que tens."

Ele agarrou-me pelos ombros, a sua força a assustar-me.

"Vais voltar para casa comigo. Vais pedir desculpa à Lúcia e à Ana. E vais agir como a esposa obediente que deves ser."

"Larga-me!", lutei contra ele, mas era inútil.

"Ou o quê? Vais chamar a polícia? O que lhes vais dizer? Que o teu marido te quer levar para casa?"

O seu rosto estava a centímetros do meu, o seu hálito cheirava a álcool.

"A Ana ainda não está totalmente recuperada. O médico disse que há uma pequena chance de o corpo dela rejeitar o rim."

O sangue gelou-me nas veias.

"O que é que isso quer dizer?", sussurrei.

Um sorriso lento e malévolo espalhou-se pelo seu rosto.

"Isso quer dizer que é bom ter uma segunda opção. Tu ainda tens um rim saudável, não tens?"

            
            

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