Ele Deixou Nosso Filho Morrer: Minha Vingança Começa Agora
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Capítulo 4

Andei sem rumo pelas ruas de Lisboa.

O sol começava a aquecer o asfalto, mas eu ainda sentia o frio da noite anterior.

O meu telemóvel estava no bolso, mas eu não tinha para quem ligar.

Os meus pais viviam no Algarve. A nossa relação era distante, tensa por anos de pequenas desilusões. Ligar-lhes seria admitir o meu fracasso total.

Parei num pequeno café, o cheiro a café e pastelaria a fazer o meu estômago roncar.

Percebi que não comia nada desde a manhã do funeral.

Entrei e pedi um café e um pastel de nata.

Sentei-me a uma mesa no canto, a observar as pessoas a passar.

Famílias a rir, casais de mãos dadas, estudantes a correr para as aulas.

Um mundo inteiro que continuava a girar, indiferente à minha dor.

Enquanto comia, a minha mente começou a trabalhar.

O que ia fazer?

O Pedro tinha razão. Eu não tinha nada.

Anos como dona de casa tinham-me deixado sem carreira, sem poupanças próprias.

Eu era completamente dependente dele.

E ele sabia disso. Era por isso que ele estava tão confiante de que eu voltaria.

O pensamento fez-me sentir um nó no estômago.

Eu não podia voltar.

Terminei o meu café e paguei com as poucas moedas que tinha.

Precisava de um plano. Precisava de um advogado.

Lembrei-me de uma amiga da faculdade, a Inês. Ela tinha-se tornado advogada de direito da família. Não falávamos há anos, mas era a minha única opção.

Procurei o nome dela na minha lista de contactos.

O dedo pairou sobre o botão de chamada. Senti uma onda de vergonha.

Ligar-lhe seria como abrir uma velha ferida, mostrar-lhe o quão longe eu tinha caído.

Mas a alternativa era pior.

Respirei fundo e liguei.

A chamada foi para o voicemail.

"Olá, Inês. É a Sofia. A Sofia Martins. Não sei se te lembras de mim... da faculdade. Eu... preciso da tua ajuda. É sobre um divórcio. Por favor, liga-me quando puderes."

A minha voz soou fraca e desesperada.

Desliguei, sentindo-me ainda mais patética.

Saí do café e comecei a andar novamente.

Precisava de um sítio para ficar. Um sítio barato.

Passei por uma pensão de aspeto duvidoso. O letreiro de néon estava partido, e a tinta da fachada descascava.

Não era o Ritz, mas era um teto.

Entrei. O rececionista, um homem velho com um cigarro a sair-lhe do canto da boca, olhou para mim de cima a baixo.

"Um quarto," disse eu.

"Quarenta euros por noite. Pagamento adiantado."

Contei o dinheiro que tinha. Dava para duas noites.

Dei-lhe as notas.

Ele entregou-me uma chave presa a um porta-chaves de plástico gasto.

"Quarto 204. Segundo andar. Não faças barulho."

Subi as escadas rangentes. O corredor cheirava a mofo e a tabaco velho.

Abri a porta do quarto 204.

Era pequeno, com uma cama de ferro, uma pequena cómoda e uma janela que dava para um beco cheio de lixo.

Mas era meu. Pelo menos por duas noites.

Atirei-me para a cama, o colchão a ranger em protesto.

Fechei os olhos.

A imagem do pequeno caixão branco voltou à minha mente.

As lágrimas voltaram, silenciosas e quentes.

Mas desta vez, não eram apenas de tristeza.

Eram também de raiva.

Eu ia lutar.

Pelo Leo. Por mim.

Eu não ia deixar que o Pedro e a sua família me destruíssem.

Adormeci com o som das sirenes ao longe, um som estranhamente reconfortante na minha nova e solitária realidade.

                         

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