Capítulo 6 Desejo e fúria

Angelina Rossi

Adormecer foi quase impossível. Mesmo depois de arrastar uma poltrona pesada até a porta e trancá-la, a sensação de segurança era ilusória. O cansaço, no entanto, me venceu em algum momento da madrugada, e despertei com a luz do sol atravessando as cortinas e inundando o quarto com uma claridade incômoda.

Ainda vestia a maldita camisa dele. Depois do banho na noite anterior, não havia encontrado nada mais apropriado para usar, então entrei no closet dele, peguei a primeira peça que vi e vesti sem pensar. Mas o erro estava ali, impregnado no tecido. No perfume dele. Na lembrança do toque, da boca, do domínio que meu corpo insistia em reviver mesmo quando minha mente tentava resistir.

Eu o odiava com cada célula do meu corpo. Mas esse mesmo corpo era um traidor silencioso, que ardia em lembranças e respondia a cada memória com desejo.

Soltei um suspiro frustrado e me levantei de um pulo. Arranquei a camisa como se ela estivesse queimando minha pele e a joguei no chão eu precisava de um banho.

Não apenas para lavar o corpo, mas para tentar silenciar o caos que ele deixava em mim, como uma maldição grudada na carne.

A água quente escorria pelas minhas costas, misturando-se com os pensamentos que ardiam mais do que o vapor. As imagens da noite na boate voltavam insistentes, o toque, os gemidos abafados pela música, a máscara que escondia um rosto, que agora eu conhecia bem demais.

Minha mão escorregou pelo meu próprio corpo, guiada pelo instinto, pelo desejo não resolvido que ele havia deixado em mim. Meus dedos tocaram os seios com leveza, os mamilos já sensíveis, abri minhas pernas e desci um pouco mais...

Foi quando senti um calor diferente. Um corpo nu que não era o meu.

Abri os olhos, o coração disparando. Ele estava ali. Nu. Entrando no box com a mesma tranquilidade com que se entra em um cômodo vazio.

- Você está maluco?! Como entrou?- girei de costas, o empurrando.

Ele não se mexeu.

- O quarto esconde um segredo. Agora me diz, vai me bater de novo, esposa? - a voz era grave, provocante. - Ou está com mais vontade de me beijar do que de me expulsar?

Meus olhos fuzilaram os dele. Tentei empurrá-lo de novo, mas ele agarrou meu pulso com firmeza, puxando meu corpo contra o dele. Sua pele quente, sua ereção entre nós.

- Solta! - sibilei.

Ele riu, rouco.

- Mentirosa. Está tremendo. - sussurrou, colando os lábios nos meus.

Tentei resistir. De verdade. Mas quando a boca dele se fundiu à minha, eu gemi. Um som curto, traidor, nascido entre meus próprios dentes.

Ele se afastou levemente, e suas mãos tocaram meu rosto com uma ternura inesperada. Um contraste cruel com as palavras que vieram em seguida.

- Sabe o que mais gosto em você? - os dedos dele desceram pelo meu queixo. - O fato de me odiar e ainda assim tremer de desejo quando me aproximo.

- Está enganado. - menti, com a voz rouca.

- Estou? - ele sorriu, mordendo de leve o lábio inferior. - Você gemeu por mim antes mesmo de saber quem eu era, Angelina. Gemeu com meu pau enterrado fundo na sua boceta, implorando por mais enquanto se desfazia nos meus braços.

Fechei os olhos, o corpo lembrou antes da mente. A penetração lenta, a voz dele no meu ouvido, o orgasmo inevitável. A raiva misturada ao prazer.

Ele começou a me tocar sem pressa, mas com firmeza. Como se cada deslizar de seus dedos soubesse exatamente o que arrancar de mim - o orgulho, a dor, a resistência.

Transar com ele não era o erro, era o acordo, fazia parte do papel que eu havia aceitado representar. Eu estava ali por um motivo, e iria até o fim. o que me desarmava era o que vinha de dentro.

Eu não estava preparada para a forma como meu corpo reagiria. Para o calor que subia em ondas, para o arrepio constante, para o latejar entre as pernas cada vez que ele chegava mais perto.

Não era fraqueza, se tratava de instinto, de desejo primitivo. E, naquele momento, ele estava vencendo cada parte de mim sem precisar dizer uma palavra.

- Não vai me forçar a nada. - murmurei, tentando fracamente resitir.

Ele colou os lábios no meu ouvido e sussurrou:

- Não preciso, seu corpo já me implora.

Ajoelhou-se diante de mim, os olhos cravados nos meus, como se estivesse prestes a se ajoelhar para uma deusa, ou para a ruína. A respiração dele batia contra minha pele. Meu orgulho tentava manter a postura. Mas ele me olhava como se já tivesse vencido.

- Linda. - murmurou, com reverência lasciva. - Mas hoje, quero ver sua beleza imaculada ser corrompida para e sob mim.

Sua língua deslizou pelas minhas coxas, subiu entre elas com habilidade maldita. Quando chegou onde eu mais queria e menos admitia, me fez arquear o corpo, agarrar seus cabelos, afundar os dedos com desespero. Ele me devorava e eu deixei.

Não por submissão, mas porque meu ódio queimava no mesmo fogo do meu desejo.

Ele se levantou, me tomou nos braços e me carregou para o quarto. Me deitou na cama, firme, sem brutalidade. Beijou meu ventre, minhas costelas, meu pescoço. Me explorou como se procurasse falhas, rendições, segredos, encontrando apenas os meus gemidos de prazer.

Ele me virou com firmeza, segurando minha cintura com as duas mãos, fixando os olhos nos meus. E então me penetrou de uma vez, lento e fundo, fazendo meu corpo reagir de imediato.

Arfei, sentindo cada parte dele me invadindo, me abrindo com a rigidez de seu pau grosso e duro. A pressão era intensa, real, impossível de ignorar. Ele me preenchia como se não houvesse espaço para mais nada, me fazendo estremecer a cada centímetro.

Meu corpo tentava acompanhar o ritmo, mas ele controlava tudo, a velocidade, a força, a profundidade. Cada movimento arrancava um novo espasmo, um novo gemido.

A cada estocada, eu perdia o controle. A cada investida, ele arrancava de mim qualquer traço de resistência.

Não havia conversa. Só o som da nossa respiração descompassada, das mãos dele me apertando com força, dos meus gemidos abafados quando a dor e o prazer se misturavam.

Ele sabia o que estava fazendo. Sabia exatamente como me deixar no limite - e fazia sem parar, sem aliviar, sem um segundo de trégua.

A cama rangia debaixo de nós, os lençóis grudavam na nossa pele molhada de suor e desejo, e cada vez que ele me empurrava mais fundo, meu corpo cedia mais.

- Assim... - ele murmurou com a voz arrastada de tesão, enterrado em mim até o fim. - Olha como você me aperta... como se tivesse sido feita pra isso.

Eu não consegui responder. Só gemi mais alto quando ele puxou meu cabelo e me mordeu o ombro, voltando a me foder com força.

- Questa notte sei mia... Ogni respiro, ogni gemito, ogni lacrima... Mia.

"Esta noite você é minha, cada respiro, cada gemido, cada lágrima... minha."

Gozei com força, enterrando os dedos nos lençóis enquanto ele continuava se movendo dentro de mim, duro, grosso, profundo. Meu corpo inteiro tremia, sensível ao ponto de explodir de novo, mas ele não parou. Estava focado, com o maxilar travado, a respiração pesada batendo na minha pele enquanto se enterrava mais fundo, mais intenso. Quando finalmente gozou, foi com um gemido grave contra a curva do meu pescoço, o corpo tenso, os jatos quentes me preenchendo até escorrer pelas minhas coxas.

Ele não saiu. Apenas me virou de lado, ainda dentro de mim, e me puxou para perto, como se quisesse continuar conectado, grudado, colado na minha carne até que tudo fizesse sentido. O silêncio que veio depois era carregado de tudo o que a gente não conseguia dizer. O cheiro de suor, o som da nossa respiração descompassada, a pele ainda grudando, quente, marcada. Eu deveria ter me afastado, levantado daquela cama como se nada tivesse acontecido, mas não consegui. Ele também não me soltou. O braço firme em volta da minha cintura dizia que eu não iria a lugar nenhum. E, por mais absurdo que parecesse, eu não queria ir. Não ainda.

Naquela cama, onde fui fodida como mulher, marcada como propriedade e tomada como esposa, algo dentro de mim mudou. Eu senti, não era amor, jamais seria.

Era mais sujo, mais profundo e mais real do que gostaria de sentir.

Era ele, Tonny Romano, meu marido, preso em mim. Por dentro e por fora. Sempre ele.

Tonny Romano

Ela ainda me apertava. O seu corpo ainda reagia, os músculos internos contraindo como se quisessem me manter ali dentro. Estava ofegante, com a pele quente, suada, o cheiro dela grudado em mim. A boceta ainda pulsava, molhada, apertada. Eu sentia tudo, o resto do orgasmo, o calor, o prazer ainda espalhados por cada parte do meu corpo, meu pau inchado.

Relutante, saí devagar. Não por delicadeza, mas porque ainda estava absorvendo o que ela tinha feito comigo. Ou o que a gente tinha feito juntos. E eu sabia, aquilo não tinha acabado.

Ela levantou da cama no mesmo momento que eu. Levantei a mão para tocar em seu rosto, ela me empurrou com força, os olhos arregalados, a boca entreaberta. Não disse nada, estava repleta de fúria, era como se eu a tivesse obrigado, mas era uma reação estupida, afinal ela havia desejado tudo quanto eu. As bochechas estavam vermelhas, podia ser raiva, vergonha ou puro tesão, não importava. Saiu do quarto apressada, com os pés descalços batendo no mármore frio enquanto corria para o banheiro.

Fui atrás. Nem pensei. Era impulso, instinto, necessidade de controlar aquilo antes que saísse do meu alcance.

Mas quando passei pela porta, tudo aconteceu rápido demais.

Não senti o momento exato, apenas senti o impacto do metal frio e depois o calor ardente trazendo consigo a dor. Olhei para baixo e vi a tesoura cravada em minha carne, o sangue escorria grosso, quente, manchando o mármore branco enquanto a raiva subia direto para o meu peito.

                         

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