Recebi alta do hospital dois dias depois. As minhas costelas ainda doíam a cada respiração, mas a dor física não era nada comparada com o vazio no meu peito.
O Léo não apareceu para me ir buscar. Em vez disso, mandou um táxi.
A primeira paragem não foi a nossa casa. Foi a casa dos meus sogros. Eu precisava de ver a Ana.
Quando entrei, a Ana correu para mim, os seus bracinhos apertando-se à volta das minhas pernas.
"Mamã! Tive tantas saudades tuas!"
Abracei-a com força, inalando o cheiro do seu cabelo. Por um momento, tudo o resto desapareceu.
"Eu também tive saudades tuas, meu amor. Estás bem? Não te magoaste?"
Ela abanou a cabeça. "A avó disse que a mamã estava doente. Já estás melhor?"
"Estou muito melhor agora que te estou a ver."
A Dona Elvira apareceu na sala de estar, a sua expressão era fria.
"Vieste buscar as tuas coisas? O Léo disse-me que ias ficar com a tua amiga Sofia por uns tempos."
A sua voz era casual, como se estivesse a falar do tempo.
"Eu vim buscar a minha filha," corrigi-a.
Ela riu-se. Um som desagradável. "Não sejas tola, Clara. Tu mal te aguentas em pé. Como é que vais cuidar de uma criança? A Ana fica aqui, onde está segura e bem cuidada."
"Ela é minha filha. Ela vem comigo."
"E vão para onde? Para o apartamento minúsculo da tua amiga? A Ana está habituada ao seu quarto, aos seus brinquedos, à sua rotina. Tu estás a ser egoísta, a pensar apenas na tua raiva."
O Léo entrou na sala nesse momento, parecendo cansado e derrotado.
"Mãe, por favor." Ele virou-se para mim. "Clara, vamos conversar. A Ana pode ficar aqui só por mais uns dias, até tu te instalares."
"Não. Ela vem comigo agora."
"Clara, sê razoável," disse ele, a sua paciência a esgotar-se. "Estás a fazer uma cena à frente da nossa filha."
A Ana olhou de mim para ele, os seus olhos grandes cheios de confusão. O meu coração partiu-se.
Eu sabia que eles tinham razão num ponto. Eu não estava nas melhores condições. O apartamento da Sofia era pequeno. Mas a ideia de deixar a minha filha com aquelas pessoas era insuportável.
"Eu vou buscar as coisas dela," disse eu, caminhando em direção ao quarto da Ana.
O Léo bloqueou-me o caminho. "Não. Ela fica."
"Léo, não me obrigues a chamar a polícia," ameacei, a minha voz a tremer.
"Chama!" desafiou a Dona Elvira. "Diz-lhes que uma mãe instável e ferida quer tirar a filha de uma casa segura e amorosa. Vamos ver de que lado eles ficam."
Senti-me encurralada. Eles estavam a usar a minha filha contra mim.
As lágrimas que eu tinha segurado por tanto tempo finalmente começaram a cair. Ajoelhei-me em frente da Ana.
"Meu amor, a mamã precisa de resolver umas coisas. Eu prometo, prometo que volto para te buscar muito em breve, está bem?"
A Ana começou a chorar. "Não, mamã! Quero ir contigo!"
Abracei-a com força, o meu corpo a tremer com soluços. "Eu amo-te mais do que tudo no mundo. Nunca te esqueças disso."
Levantei-me e olhei para o Léo e para a sua mãe, os meus olhos cheios de uma promessa silenciosa.
Isto não ia ficar assim.