"Tiveste um acidente de carro", explicou Pedro, a sua mão a tremer ligeiramente enquanto segurava a minha. "Um condutor bêbado passou um sinal vermelho. O teu carro ficou destruído."
Um acidente. As palavras ecoaram na minha cabeça.
De repente, um pânico gelado apoderou-se de mim, e a minha mão voou instintivamente para a minha barriga.
Estava lisa. Demasiado lisa.
"O bebé...", sussurrei, o meu coração a bater descontroladamente. "Pedro, onde está o nosso bebé?"
A cara de Pedro contorceu-se de dor, e as lágrimas que ele estava a segurar finalmente caíram.
"Eva, eu sinto muito. Os médicos fizeram tudo o que podiam, mas... perdemos o bebé."
Não. Não podia ser.
O nosso filho. O nosso pequeno Lucas, que esperávamos há tanto tempo.
A dor que senti foi para além de qualquer coisa que já tinha conhecido, uma dor tão profunda que parecia que o meu próprio coração tinha sido arrancado do meu peito.
Eu tinha nove meses de gravidez, a apenas alguns dias da data prevista para o parto.
Tínhamos o quarto pronto, as roupas lavadas e dobradas, o berço montado.
Tudo tinha desaparecido num instante.
"E a outra pessoa?", perguntei, a minha voz vazia. "A pessoa que fez isto?"
Pedro hesitou, o seu olhar desviou-se do meu. "Era a minha irmã, Sofia. Ela estava a voltar de uma festa."
Sofia. A sua irmã mais nova, a menina dos olhos da família, a quem tudo era sempre perdoado.
"Ela estava bêbada?", perguntei, embora já soubesse a resposta.
Pedro assentiu lentamente, incapaz de me olhar nos olhos. "Sim. Mas Eva, ela não queria..."
"Não queria?", interrompi, a minha voz a subir. "Ela escolheu beber e conduzir, Pedro! Ela escolheu arriscar a vida de outras pessoas! E agora o nosso filho está morto por causa dela!"
As lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas não eram lágrimas de tristeza, eram de raiva pura.
"Eu quero que ela pague", disse eu, a minha voz a tremer de fúria. "Eu quero que ela vá para a prisão."
Pedro recuou, chocado. "Eva, não podes estar a falar a sério. Ela é minha irmã! Foi um acidente!"
"Um acidente que matou o nosso filho!", gritei. "Ou já te esqueceste dele?"
Naquele momento, a porta do quarto abriu-se e a minha sogra, a Dona Isabel, entrou. A sua cara estava manchada de lágrimas, mas quando me viu, a sua expressão endureceu.
"Eva! Como te atreves a gritar com o meu filho?", disse ela, a sua voz gélida. "Ele já não está a sofrer o suficiente? A Sofia está traumatizada, a coitadinha. Ela quase morreu!"
Olhei para ela, incrédula. "A sua filha matou o meu filho, e a senhora está preocupada com o trauma dela?"
"Foi um acidente!", repetiu ela, as suas palavras como bofetadas. "E tu devias ter mais compaixão. A Sofia é família. Tu és apenas a esposa."
As suas palavras atingiram-me com a força de um golpe físico. Apenas a esposa. Depois de cinco anos de casamento, depois de carregar o seu neto, era tudo o que eu era para ela.
Eu ri, um som amargo e vazio. "Então, vamos divorciar-nos. Eu não posso mais."
Pedro olhou para mim, os seus olhos arregalados de pânico. "Eva, não digas isso. Estás em choque. Não estás a pensar com clareza."
"Oh, estou a pensar com mais clareza do que nunca", respondi, a minha voz fria como gelo. "Se a vossa família valoriza mais uma criminosa bêbada do que a vida do meu filho, então eu não quero fazer parte dela."
"Como te atreves a chamar-lhe criminosa!", gritou a Dona Isabel. "Ela é uma boa rapariga! Cometeu um erro!"
"Um erro que custou uma vida", disse eu, olhando diretamente para Pedro. "Escolhe, Pedro. É ela ou sou eu."
Ele ficou ali, dividido entre a sua lealdade à sua família e o seu dever para comigo, a sua esposa de luto. O seu silêncio foi a única resposta de que precisei.