Sangue Por Sangue: A Escolha Dolorosa de Pedro
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Capítulo 1

Quando abri os olhos, o teto branco do hospital foi a primeira coisa que vi. A minha cabeça latejava e o meu corpo inteiro doía.

O meu marido, Pedro, estava sentado ao meu lado, a sua cara estava pálida e os seus olhos vermelhos, parecia não ter dormido a noite toda.

"Eva, finalmente acordaste", disse ele, a sua voz rouca. "Assustaste-me de morte."

Eu olhei para ele, confusa. "O que aconteceu? Lembro-me de estar a conduzir para casa..."

A minha memória parou aí. Lembro-me de um clarão de luz, do som de metal a rasgar e depois, escuridão.

"Tiveste um acidente de carro", explicou Pedro, a sua mão a tremer ligeiramente enquanto segurava a minha. "Um condutor bêbado passou um sinal vermelho. O teu carro ficou destruído."

Um acidente. As palavras ecoaram na minha cabeça.

De repente, um pânico gelado apoderou-se de mim, e a minha mão voou instintivamente para a minha barriga.

Estava lisa. Demasiado lisa.

"O bebé...", sussurrei, o meu coração a bater descontroladamente. "Pedro, onde está o nosso bebé?"

A cara de Pedro contorceu-se de dor, e as lágrimas que ele estava a segurar finalmente caíram.

"Eva, eu sinto muito. Os médicos fizeram tudo o que podiam, mas... perdemos o bebé."

Não. Não podia ser.

O nosso filho. O nosso pequeno Lucas, que esperávamos há tanto tempo.

A dor que senti foi para além de qualquer coisa que já tinha conhecido, uma dor tão profunda que parecia que o meu próprio coração tinha sido arrancado do meu peito.

Eu tinha nove meses de gravidez, a apenas alguns dias da data prevista para o parto.

Tínhamos o quarto pronto, as roupas lavadas e dobradas, o berço montado.

Tudo tinha desaparecido num instante.

"E a outra pessoa?", perguntei, a minha voz vazia. "A pessoa que fez isto?"

Pedro hesitou, o seu olhar desviou-se do meu. "Era a minha irmã, Sofia. Ela estava a voltar de uma festa."

Sofia. A sua irmã mais nova, a menina dos olhos da família, a quem tudo era sempre perdoado.

"Ela estava bêbada?", perguntei, embora já soubesse a resposta.

Pedro assentiu lentamente, incapaz de me olhar nos olhos. "Sim. Mas Eva, ela não queria..."

"Não queria?", interrompi, a minha voz a subir. "Ela escolheu beber e conduzir, Pedro! Ela escolheu arriscar a vida de outras pessoas! E agora o nosso filho está morto por causa dela!"

As lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas não eram lágrimas de tristeza, eram de raiva pura.

"Eu quero que ela pague", disse eu, a minha voz a tremer de fúria. "Eu quero que ela vá para a prisão."

Pedro recuou, chocado. "Eva, não podes estar a falar a sério. Ela é minha irmã! Foi um acidente!"

"Um acidente que matou o nosso filho!", gritei. "Ou já te esqueceste dele?"

Naquele momento, a porta do quarto abriu-se e a minha sogra, a Dona Isabel, entrou. A sua cara estava manchada de lágrimas, mas quando me viu, a sua expressão endureceu.

"Eva! Como te atreves a gritar com o meu filho?", disse ela, a sua voz gélida. "Ele já não está a sofrer o suficiente? A Sofia está traumatizada, a coitadinha. Ela quase morreu!"

Olhei para ela, incrédula. "A sua filha matou o meu filho, e a senhora está preocupada com o trauma dela?"

"Foi um acidente!", repetiu ela, as suas palavras como bofetadas. "E tu devias ter mais compaixão. A Sofia é família. Tu és apenas a esposa."

As suas palavras atingiram-me com a força de um golpe físico. Apenas a esposa. Depois de cinco anos de casamento, depois de carregar o seu neto, era tudo o que eu era para ela.

Eu ri, um som amargo e vazio. "Então, vamos divorciar-nos. Eu não posso mais."

Pedro olhou para mim, os seus olhos arregalados de pânico. "Eva, não digas isso. Estás em choque. Não estás a pensar com clareza."

"Oh, estou a pensar com mais clareza do que nunca", respondi, a minha voz fria como gelo. "Se a vossa família valoriza mais uma criminosa bêbada do que a vida do meu filho, então eu não quero fazer parte dela."

"Como te atreves a chamar-lhe criminosa!", gritou a Dona Isabel. "Ela é uma boa rapariga! Cometeu um erro!"

"Um erro que custou uma vida", disse eu, olhando diretamente para Pedro. "Escolhe, Pedro. É ela ou sou eu."

Ele ficou ali, dividido entre a sua lealdade à sua família e o seu dever para comigo, a sua esposa de luto. O seu silêncio foi a única resposta de que precisei.

            
            

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