Pedro parou atrás de mim, colocando as mãos nos meus ombros. "Eva, temos que ser fortes."
Eu afastei-me do seu toque. "Não me digas para ser forte. Tu não sabes o que eu estou a sentir."
Ele suspirou, um som de frustração. "Eu também estou a sofrer, Eva. Ele também era meu filho."
"Então age como tal!", virei-me para ele, a minha voz a subir. "Em vez de protegeres a tua irmã, devias estar a exigir justiça!"
"A polícia já está a investigar!", retorquiu ele. "O que mais queres que eu faça? Colocá-la eu mesmo atrás das grades? Ela é minha irmã!"
"Ela é uma criminosa!", gritei.
O nosso argumento foi interrompido pelo som da campainha. Pedro foi atender, parecendo aliviado por escapar.
Ouvi vozes abafadas no corredor e depois, a minha sogra entrou na sala de estar, seguida pelo meu sogro, o Senhor Manuel, um homem geralmente silencioso que sempre seguia a liderança da sua esposa.
"Eva", começou a Dona Isabel, o seu tom falsamente conciliador. "Viemos ver como estás e para conversar."
"Não temos nada para conversar", respondi, cruzando os braços.
"Agora, não sejas assim", disse o Senhor Manuel, a sua primeira contribuição para a conversa. "Somos uma família. Temos que resolver isto juntos."
"Resolver o quê?", perguntei. "O facto de a vossa filha ter matado o meu filho e vocês esperarem que eu finja que nada aconteceu?"
A Dona Isabel ignorou a minha pergunta. Ela colocou uma mala na mesa de café e abriu-a. Estava cheia de maços de notas.
"Sabemos que estás a sofrer", disse ela, a sua voz suave como óleo. "E nenhuma quantia de dinheiro pode trazer o bebé de volta. Mas queremos ajudar. Para compensar. Para te ajudar a recomeçar."
Eu olhei para o dinheiro, depois para a cara dela. A náusea subiu pela minha garganta.
Eles estavam a tentar comprar o meu silêncio. Comprar a vida do meu filho.
"Peguem no vosso dinheiro", disse eu, a minha voz a tremer de raiva contida. "E saiam da minha casa."
"Eva, sê razoável", disse Pedro, aproximando-se. "Os meus pais só estão a tentar ajudar."
"Ajudar?", eu ri, um som desprovido de humor. "Isto não é ajuda. Isto é um insulto. Vocês acham que podem apagar o que a Sofia fez com dinheiro? Acham que a minha dor tem um preço?"
"Não é isso que estamos a dizer...", começou o Senhor Manuel.
"É exatamente isso que estão a dizer!", interrompi. "Vocês querem que eu retire a queixa. Querem que a vossa preciosa filha evite as consequências das suas ações. E esperam que eu aceite este dinheiro sujo e fique calada."
Olhei para Pedro, o meu coração a partir-se um pouco mais. "Tu sabias disto? Concordaste com isto?"
Ele não respondeu, mas a culpa no seu rosto era evidente. Ele sabia. Ele tinha concordado.
"Fora", disse eu, a minha voz agora um sussurro perigoso. "Todos vocês. Fora. Agora."
"Eva, por favor...", implorou Pedro.
Eu caminhei até à porta e abri-a. "Eu não vou repetir."
A Dona Isabel olhou para mim com puro ódio. "Vais arrepender-te disto. Vais acabar sozinha e sem nada."
"Eu já não tenho nada", respondi. "Vocês trataram disso."
Ela pegou na mala, furiosa, e saiu, com o marido a reboque. Pedro ficou parado na soleira da porta, o seu rosto um misto de dor e indecisão.
"Eva...", começou ele.
"Vai com eles, Pedro", disse eu, a minha voz vazia. "Tu já fizeste a tua escolha."
Ele olhou para mim por um longo momento, depois baixou a cabeça e saiu, fechando a porta atrás de si.
Fiquei sozinha no corredor, o silêncio da casa a pressionar-me. Caminhei até ao quarto do bebé, entrei e fechei a porta.
Sentei-me no chão, ao lado do berço vazio, e finalmente deixei-me desmoronar.