O meu pai, um homem de poucas palavras, apenas me abraçava, a sua força silenciosa um pequeno consolo no meu oceano de dor.
Pedro ligou várias vezes. Eu não atendi. Ele deixou mensagens de voz, a sua voz a alternar entre súplicas e frustração.
"Eva, por favor, fala comigo. Não podemos acabar assim."
"A minha mãe está a pressionar-me. Eles contrataram um advogado para a Sofia."
"Porque é que estás a ser tão teimosa? Estamos a destruir a nossa família!"
A nossa família. A ironia era tão amarga que me fazia querer rir. A nossa família foi destruída no momento em que ele escolheu a irmã em vez do filho.
No dia do funeral, o céu estava cinzento e pesado, um reflexo perfeito do meu coração. Era um serviço pequeno, apenas eu, os meus pais e alguns amigos íntimos.
Eu pedi especificamente que Pedro e a sua família não viessem. Eu não conseguia suportar a visão deles, a sua falsa tristeza, a sua hipocrisia.
Mas, claro, eles não respeitaram o meu desejo.
Quando estávamos junto à pequena sepultura, vi-os a aproximarem-se à distância. Pedro, os seus pais e, para meu absoluto horror, a própria Sofia.
Ela estava vestida de preto, o rosto pálido e os olhos inchados. Parecia frágil, quebrada. Uma imagem perfeita de arrependimento.
Uma raiva tão intensa percorreu-me que as minhas mãos começaram a tremer.
"O que é que eles estão a fazer aqui?", rosnou a minha mãe.
O meu pai colocou uma mão protetora no meu ombro. "Ignora-os, filha."
Mas eu não conseguia. Eles pararam a uma distância respeitosa, como se fossem apenas outros enlutados. Mas a sua presença era uma profanação, uma mancha neste lugar sagrado.
Depois do serviço, enquanto os meus amigos me ofereciam as suas condolências, Pedro aproximou-se.
"Eva, eu precisava de estar aqui", disse ele em voz baixa. "Ele era meu filho."
"Então devias ter pensado nisso antes de decidires que a liberdade da assassina dele era mais importante", respondi friamente.
A sua cara contorceu-se. "Não lhe chames isso."
"É o que ela é. E tu és cúmplice."
Nesse momento, a Sofia deu um passo à frente, hesitante. "Eva... eu... eu sinto tanto."
A sua voz era um sussurro trémulo. Ela tentou estender a mão para mim.
Eu recuei como se ela estivesse em chamas. "Não me toques", sibilei. "Não te atrevas a tocar-me."
As lágrimas brotaram dos seus olhos. "Eu nunca quis que isto acontecesse. Eu daria qualquer coisa para voltar atrás."
"Mas não podes, pois não?", disse eu, a minha voz a subir, atraindo a atenção dos poucos que ainda restavam. "As tuas desculpas não trazem o meu filho de volta. As tuas lágrimas não enchem o berço vazio na minha casa. A tua dor não é nada comparada com a minha!"
"Eva, para com isso", disse Pedro, tentando intervir. "Estás a fazer uma cena."
"Uma cena?", eu ri, um som selvagem e quebrado. "O meu filho está morto por causa dela, e tu estás preocupado com uma cena? Olhem para vocês todos! A família perfeita, a apoiar-se mutuamente enquanto a vossa vítima enterra o seu bebé!"
Virei-me para a Sofia, o meu olhar a perfurá-la. "Eu espero que vejas a cara dele cada vez que fechas os olhos. Espero que o som do metal a rasgar te assombre para o resto da tua vida. E espero que apodreças numa cela de prisão, a pensar no que fizeste."
Ela soluçou, um som patético, e escondeu-se atrás de Pedro.
A Dona Isabel avançou, o seu rosto uma máscara de fúria. "Sua bruxa malvada! A minha filha já está a sofrer o suficiente sem as tuas maldições! Tu não tens coração!"
"O meu coração foi enterrado hoje", respondi, a minha voz novamente calma e mortal. "Graças a ela."
Virei-lhes as costas e afastei-me, deixando-os ali, no meio do cemitério silencioso. Não olhei para trás. Sabia que se o fizesse, a minha força desmoronar-se-ia.
Enquanto caminhava, tomei uma decisão. Eles queriam uma luta? Eles teriam uma.
Eu não ia apenas lutar por justiça. Eu ia destruir a vida deles, tal como eles destruíram a minha.