Sangue Por Sangue: A Escolha Dolorosa de Pedro
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Capítulo 4

Os dias seguintes foram um borrão de formalidades sombrias. Havia um funeral para organizar. Uma pequena caixa branca em vez de um berço quente.

Os meus pais vieram de outra cidade para ficar comigo. Eles ficaram horrorizados com a história, a sua dor pela perda do neto misturada com uma fúria impotente contra Pedro e a sua família.

"Como é que eles se atrevem?", a minha mãe repetia, andando de um lado para o outro na minha sala de estar. "Oferecer dinheiro? Como se isso pudesse substituir uma vida?"

O meu pai, um homem de poucas palavras, apenas me abraçava, a sua força silenciosa um pequeno consolo no meu oceano de dor.

Pedro ligou várias vezes. Eu não atendi. Ele deixou mensagens de voz, a sua voz a alternar entre súplicas e frustração.

"Eva, por favor, fala comigo. Não podemos acabar assim."

"A minha mãe está a pressionar-me. Eles contrataram um advogado para a Sofia."

"Porque é que estás a ser tão teimosa? Estamos a destruir a nossa família!"

A nossa família. A ironia era tão amarga que me fazia querer rir. A nossa família foi destruída no momento em que ele escolheu a irmã em vez do filho.

No dia do funeral, o céu estava cinzento e pesado, um reflexo perfeito do meu coração. Era um serviço pequeno, apenas eu, os meus pais e alguns amigos íntimos.

Eu pedi especificamente que Pedro e a sua família não viessem. Eu não conseguia suportar a visão deles, a sua falsa tristeza, a sua hipocrisia.

Mas, claro, eles não respeitaram o meu desejo.

Quando estávamos junto à pequena sepultura, vi-os a aproximarem-se à distância. Pedro, os seus pais e, para meu absoluto horror, a própria Sofia.

Ela estava vestida de preto, o rosto pálido e os olhos inchados. Parecia frágil, quebrada. Uma imagem perfeita de arrependimento.

Uma raiva tão intensa percorreu-me que as minhas mãos começaram a tremer.

"O que é que eles estão a fazer aqui?", rosnou a minha mãe.

O meu pai colocou uma mão protetora no meu ombro. "Ignora-os, filha."

Mas eu não conseguia. Eles pararam a uma distância respeitosa, como se fossem apenas outros enlutados. Mas a sua presença era uma profanação, uma mancha neste lugar sagrado.

Depois do serviço, enquanto os meus amigos me ofereciam as suas condolências, Pedro aproximou-se.

"Eva, eu precisava de estar aqui", disse ele em voz baixa. "Ele era meu filho."

"Então devias ter pensado nisso antes de decidires que a liberdade da assassina dele era mais importante", respondi friamente.

A sua cara contorceu-se. "Não lhe chames isso."

"É o que ela é. E tu és cúmplice."

Nesse momento, a Sofia deu um passo à frente, hesitante. "Eva... eu... eu sinto tanto."

A sua voz era um sussurro trémulo. Ela tentou estender a mão para mim.

Eu recuei como se ela estivesse em chamas. "Não me toques", sibilei. "Não te atrevas a tocar-me."

As lágrimas brotaram dos seus olhos. "Eu nunca quis que isto acontecesse. Eu daria qualquer coisa para voltar atrás."

"Mas não podes, pois não?", disse eu, a minha voz a subir, atraindo a atenção dos poucos que ainda restavam. "As tuas desculpas não trazem o meu filho de volta. As tuas lágrimas não enchem o berço vazio na minha casa. A tua dor não é nada comparada com a minha!"

"Eva, para com isso", disse Pedro, tentando intervir. "Estás a fazer uma cena."

"Uma cena?", eu ri, um som selvagem e quebrado. "O meu filho está morto por causa dela, e tu estás preocupado com uma cena? Olhem para vocês todos! A família perfeita, a apoiar-se mutuamente enquanto a vossa vítima enterra o seu bebé!"

Virei-me para a Sofia, o meu olhar a perfurá-la. "Eu espero que vejas a cara dele cada vez que fechas os olhos. Espero que o som do metal a rasgar te assombre para o resto da tua vida. E espero que apodreças numa cela de prisão, a pensar no que fizeste."

Ela soluçou, um som patético, e escondeu-se atrás de Pedro.

A Dona Isabel avançou, o seu rosto uma máscara de fúria. "Sua bruxa malvada! A minha filha já está a sofrer o suficiente sem as tuas maldições! Tu não tens coração!"

"O meu coração foi enterrado hoje", respondi, a minha voz novamente calma e mortal. "Graças a ela."

Virei-lhes as costas e afastei-me, deixando-os ali, no meio do cemitério silencioso. Não olhei para trás. Sabia que se o fizesse, a minha força desmoronar-se-ia.

Enquanto caminhava, tomei uma decisão. Eles queriam uma luta? Eles teriam uma.

Eu não ia apenas lutar por justiça. Eu ia destruir a vida deles, tal como eles destruíram a minha.

                         

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