"Ricardo, eu sei que você está chateado com a decisão de Sofia, mas não podemos deixar que questões pessoais afetem os negócios. Seu papel na Almeida Construções é vital."
Thiago riu, um som desagradável e zombeteiro.
"Vital? Tio, não seja ingênuo. Ninguém é insubstituível. Especialmente um empregado. Eu posso assumir as funções dele. Afinal, a empresa pertence à minha família, não a ele."
"Você?" O Sr. Almeida olhou para Thiago com claro desprezo. "Você mal consegue administrar sua própria vida, como espera administrar uma empresa de bilhões?"
A verdade naquelas palavras atingiu Thiago em cheio. Seu rosto se contorceu de raiva.
Sofia interveio, colocando-se na frente de Thiago como uma leoa protegendo seu filhote.
"Pai, como você pode falar assim do Thiago? Ele é o homem que eu amo! Se você não confia nele, então não confia em mim! Se o Ricardo continuar na empresa, eu vou embora! E levo o Thiago comigo!"
Era o mesmo tipo de chantagem emocional que ela usou a vida inteira para conseguir o que queria. O Sr. Almeida, apesar de ser um empresário implacável, sempre teve um ponto fraco pela filha. Vi a determinação em seu rosto vacilar.
"Não se preocupem," eu disse, interrompendo a discussão familiar. "Eu não tenho a menor intenção de continuar na empresa."
Meus olhos se encontraram com os do Sr. Almeida.
"Sr. Almeida, o senhor poderia me acompanhar até o escritório? Preciso entregar algumas coisas."
Ele pareceu surpreso, mas assentiu. "Claro, Ricardo. Venha."
Nós caminhamos em silêncio até o grande escritório no térreo. Sofia e Thiago nos seguiram, como abutres esperando pela carcaça. Eu não me importava.
O escritório era meu antigo domínio. A grande mesa de mogno, as prateleiras cheias de livros de engenharia e finanças, o quadro com o planejamento estratégico dos próximos cinco anos que eu mesmo havia desenhado. Por um momento, senti uma pontada de nostalgia, mas a afastei rapidamente. Era apenas um lugar.
Fui até a mesa, peguei o molho de chaves do meu bolso e o coloquei sobre a madeira polida. A chave da minha sala, do cofre principal, do arquivo de projetos.
"Aqui estão as chaves," eu disse, minha voz ecoando na sala silenciosa.
Em seguida, abri minha pasta, que eu havia deixado ali na noite anterior. Tirei de dentro um pen drive preto.
"Neste pen drive estão todas as senhas de acesso aos sistemas da empresa, os contatos de todos os nossos fornecedores e parceiros estratégicos, e os relatórios financeiros detalhados do último trimestre."
Coloquei o pen drive ao lado das chaves.
"E aqui," tirei um último documento da pasta, "está minha carta de demissão formal, com efeito imediato."
Deslizei o papel sobre a mesa em direção ao Sr. Almeida. Ele olhou para os objetos sobre a mesa e depois para mim, sua expressão uma mistura de choque e tristeza.
"Ricardo... você não precisa fazer isso..."
"É o melhor para todos," eu o cortei, mas com gentileza. "Sr. Almeida, eu quero lhe agradecer. Agradecer pela oportunidade, pela educação, por tudo. Serei eternamente grato."
Minhas palavras eram sinceras. Apesar da dor que a família me causou, a educação e a experiência que adquiri sob a tutela dele foram as ferramentas que me permitiriam construir meu próprio império. Eu estava pegando o que era meu por direito - meu conhecimento - e deixando para trás todo o resto.
Nesse momento, Sofia e Thiago entraram no escritório, incapazes de se conter. A visão dos objetos de poder sobre a mesa fez os olhos de Thiago brilharem de cobiça.
Ele se aproximou rapidamente, quase empurrando o Sr. Almeida para o lado, e pegou o molho de chaves e o pen drive. Ele os segurou na mão como se fossem um troféu.
"Finalmente," ele murmurou, um sorriso de satisfação se espalhando por seu rosto. "Agora as coisas serão feitas do jeito certo."
Sofia observava a cena, seu rosto ainda uma máscara indecifrável. Ela olhava para mim, depois para Thiago, depois para o pai. A confusão em seus olhos renascidos era palpável. Ela parecia estar presa entre o roteiro de sua vida passada e as novas e inesperadas ações da minha.
Eu a ignorei. Meu negócio ali estava terminado. O passado estava oficialmente entregue.