O Recomeço Após o Coração Partido
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Capítulo 4

Quando eu me virei para sair, uma última responsabilidade profissional me veio à mente. Era um detalhe crucial que, na minha vida passada, causou uma enorme dor de cabeça para a empresa. Um erro que Thiago, em sua arrogância, certamente cometeria.

Parei na porta e olhei para Thiago, que ainda admirava as chaves em sua mão.

"Thiago," eu disse, meu tom neutro. "Um conselho. O projeto do Complexo B3 em Brasília. A licitação final é em duas semanas. Os documentos que você vai apresentar precisam de uma autorização de segurança ambiental de nível 5. A que está no arquivo é de nível 4. Ela não é suficiente."

Thiago ergueu os olhos, seu rosto se fechando em uma carranca. Ele claramente não gostou de receber um "conselho" de mim, o homem que ele acabara de usurpar.

"E o que você sabe sobre isso?" ele zombou. "Eu li os arquivos. Parece tudo em ordem para mim. Você provavelmente está apenas tentando me confundir para que eu falhe."

Eu dei de ombros. "Pense o que quiser. O contato para a autorização correta está em uma pasta separada no meu antigo computador. Se você perder o prazo, a Almeida Construções não só perde um contrato de dois bilhões de reais, como também fica banida de licitações federais por cinco anos."

Eu tinha dado a ele a informação. O que ele faria com ela não era mais problema meu. Era a minha última contribuição, ou talvez, a primeira corda que eu lhe dava para que ele mesmo se enforcasse.

Virei-me para sair novamente.

"Espere."

A voz de Thiago era dura, cheia de veneno. Eu me virei lentamente. Ele andou até mim, seu olhar percorrendo meu corpo de cima a baixo com desprezo.

"Você não pode simplesmente sair assim."

Ele apontou para o meu terno.

"Esse terno. Zegna. Feito sob medida. A empresa pagou por ele."

Ele apontou para o meu pulso.

"Esse relógio. Patek Philippe. Um presente do meu tio pelo seu aniversário de 25 anos. Um presente da família."

Ele apontou para os meus sapatos.

"Esses sapatos de couro italiano. Também da empresa."

Seu sorriso era cruel.

"Você se orgulha tanto de sua independência agora, não é? Pois bem. Prove. Deixe tudo para trás. Tudo o que a família Almeida te deu. Quero que você saia daqui exatamente como chegou: sem nada. Quero que você saia nu, se for preciso, para provar que não está levando um centavo do nosso dinheiro."

A humilhação no ar era palpável. Era um ato de pura maldade, desenhado para me quebrar, para me despir não só das minhas posses, mas da minha dignidade.

O Sr. Almeida engasgou. "Thiago! Chega! Você passou dos limites!"

Mas Thiago apenas riu, seus olhos fixos em mim, esperando minha reação.

Eu não olhei para Thiago. Eu não olhei para o Sr. Almeida. Meus olhos encontraram os de Sofia.

Ela estava parada, em silêncio, observando tudo. Seu rosto estava pálido. Esta era a sua chance. A chance de mostrar uma fagulha de decência. A chance de dizer "não", de parar aquela crueldade.

Eu a encarei, minha expressão vazia, mas meus olhos perguntavam a ela diretamente: "É isso que você quer, Sofia? Depois de uma vida inteira de dedicação, é assim que você me paga?"

O tempo pareceu parar. O silêncio no escritório era ensurdecedor. Todos esperavam pela palavra dela.

Sofia desviou o olhar.

Ela olhou para o chão, para a parede, para qualquer lugar, menos para mim.

Seu silêncio foi a resposta mais alta e clara que ela poderia ter dado.

Ela concordava. Ela endossava a humilhação.

Naquele momento, qualquer resquício de sentimento que eu pudesse ter por ela, qualquer memória de uma vida passada juntos, se transformou em cinzas. A mulher que eu servi por quarenta anos era cúmplice do meu aviltamento final.

A frieza se instalou em meu coração, não uma frieza de dor, mas de resolução.

Eles queriam um show? Eu lhes daria um.

                         

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