Almas Gêmeas, Destinos Cruzados
img img Almas Gêmeas, Destinos Cruzados img Capítulo 2
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

Zé Coragem caminha pela grama alta e descuidada do jardim, sua lanterna cortando a escuridão da noite. A equipe de filmagem o segue de perto, capturando cada passo.

"E aqui estamos, pessoal," ele narra para a câmera, com um tom dramático. "O epicentro de toda a lenda. O poço onde Luana supostamente tirou a própria vida."

Ele para diante da estrutura de pedra e madeira envelhecida. O ar ao redor parece mais frio, mais denso.

Sofia, que os seguiu a uma distância segura com o resto da família, solta um pequeno grito e se esconde atrás de Tiago.

"Eu não consigo olhar," ela sussurra, com a voz trêmula. "É aqui... foi aqui que ela tentou me amaldiçoar pela última vez."

Minha mãe, Helena, corre para o lado dela, lançando um olhar de puro ódio para o poço.

"Essa menina era envolvida com coisas sombrias, Zé. Feitiçaria, rituais... ela queria o mal da Sofia. O mal de todos nós."

Zé Coragem se aproxima do poço, examinando a pesada tampa de madeira que o sela.

"Interessante," ele murmura, mais para si mesmo do que para a câmera. Ele bate na madeira. "Está lacrado. Bem lacrado."

Ele se vira para meu pai, Ricardo.

"O senhor que lacrou isso, Seu Ricardo?"

Meu pai assente, o rosto sombrio. "Sim. Logo depois... do incidente. Para que ninguém mais caísse aí. Para selar a maldade dela."

Na tela da transmissão, os comentários explodem novamente.

"Ué, se ela se matou, como o poço foi lacrado por fora?"

"Boa pergunta. Isso tá estranho."

"A família deve ter lacrado depois, pra evitar acidentes, gente. Parem de criar teoria da conspiração."

"Mas e se ela não se matou? E se ela só fugiu e eles inventaram essa história?"

Zé Coragem parece ler os pensamentos da audiência. Ele coça o queixo, pensativo.

"Se ela se jogou... alguém teve que fechar a tampa depois. Ou," ele faz uma pausa dramática, "a história do suicídio tem algum furo."

Tiago dá um passo à frente, irritado. "Qual é a sua? Está duvidando da gente? Ela era uma manipuladora! Deve ter enganado alguém para ajudá-la a forjar a própria morte!"

Zé levanta as mãos em um gesto de paz. "Calma, meu amigo. Estou aqui para investigar todas as possibilidades. É isso que um caçador de mitos faz."

Ele volta sua atenção para o poço. "E para investigar direito, eu preciso ver o que tem lá dentro."

Ele se volta para sua equipe. "Tragam o pé de cabra."

Um dos assistentes entrega a ferramenta de metal para ele. O som do metal arranhando a madeira velha ecoa no silêncio da noite. O rangido é agonizante.

Sofia começa a chorar mais alto. "Não abra! Por favor, não abra! A alma dela está presa aí! Ela vai nos pegar!"

Zé Coragem a ignora. Ele se posiciona, fincando o pé de cabra na fresta entre a tampa e a pedra. Ele faz força. Uma vez. Duas. Os músculos de seus braços se contraem sob a luz da câmera.

Um cheiro estranho começa a emanar da fresta. Um cheiro de água parada, mofo e algo mais... algo doce e podre.

Eu reconheço o cheiro. É o cheiro do meu fim.

Com um último puxão, a tampa de madeira cede com um estalo alto, quebrando uma parte da borda.

Zé Coragem se afasta, ofegante. Ele aponta a lanterna para o buraco negro que se abriu no chão.

A escuridão lá dentro parece infinita.

"Ok, galera," ele diz para a câmera, recuperando o fôlego e o personagem. "Hora da verdade. Quem tem medo do escuro? Zé Coragem não tem."

Ele prende uma corda a uma árvore próxima e amarra a outra ponta em um cinto de segurança. Ele testa a firmeza.

"Vou descer," ele anuncia. "Vamos ver que segredos Luana deixou para trás."

Minha mãe aperta um crucifixo no peito. Meu pai recua um passo. Tiago olha, fascinado e apreensivo.

Sofia para de chorar. Por um breve segundo, quando ela pensa que ninguém está olhando, um brilho diferente passa por seus olhos. Não é medo. É expectativa.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022