Ela riu, um som baixo e melódico. "Oh, Sofia, não seja tão dramática. Nós vamos ser uma família, de certa forma. Você, eu, Ricardo... e a minha Isabela."
Ela se sentou na cadeira ao lado da minha cama, o mesmo lugar onde Ricardo costumava se sentar.
"Sabe" , ela começou, sua voz caindo para um sussurro confidencial, "eu nunca gostei de você. Desde o momento em que Ricardo te apresentou. Você era tão... comum. Tão sem graça. Eu nunca entendi o que ele viu em você."
Eu permaneci em silêncio, o coração batendo forte contra as costelas.
"Ele era meu, sabe? Desde que éramos crianças. Nós tínhamos planos. E então você apareceu e roubou tudo de mim."
"Eu não roubei nada. Ele me amava" , eu disse, a voz fraca.
"Amor?" , ela zombou. "Ele sentia pena de você. Mas o laço que ele tem comigo... é diferente. É mais profundo. A prova disso é que ele está fazendo tudo isso por mim. Por nós."
Ela se inclinou para mais perto, seu hálito quente no meu rosto.
"Sabe qual é a parte mais engraçada? O acidente de Isabela."
Meu sangue gelou.
"Não foi um acidente" , ela sussurrou, e seus olhos brilharam com uma loucura triunfante. "Fui eu. Eu sabia que Ricardo se sentia culpado por ter me deixado. Eu sabia que a morte da minha filha seria a única coisa forte o suficiente para trazê-lo de volta para mim. Eu afrouxei os freios do meu próprio carro, Sofia. Eu sacrifiquei minha própria filha para ter o meu homem de volta."
O horror da confissão me deixou sem ar. Aquela mulher não era apenas má, ela era um monstro.
"Você... você é doente" , eu consegui dizer.
"Talvez" , ela deu de ombros. "Mas eu consegui o que queria. E agora, você vai me dar minha filha de volta."
A raiva, um sentimento que eu pensei ter morrido dentro de mim, explodiu com a força de um vulcão. Com um grito, eu usei toda a força que me restava e me lancei contra ela. Minha mão boa agarrou seus cabelos, enquanto a mão aleijada tentava arranhá-la.
Fomos ao chão em um emaranhado de membros e ódio. Ela era forte, mas meu desespero era maior. Eu a soquei, arranhei, gritei toda a minha dor e fúria.
"Você matou meu filho!" , eu gritava, enquanto as lágrimas finalmente voltavam, quentes e amargas.
Ela conseguiu me empurrar, e eu caí de costas no chão. Ela se levantou, ofegante, com um arranhão feio no rosto.
"Sua vagabunda! Você acha que seu filho importava? Ele era um erro. Um obstáculo. O sacrifício dele foi necessário" , ela cuspiu as palavras com veneno. "Ele morreu para que a minha Isabela pudesse viver de novo. Você deveria se sentir honrada."
Naquele momento, uma dor aguda e lancinante atravessou meu ventre. Uma pontada tão forte que me fez gritar. Eu olhei para baixo e vi uma mancha de sangue se espalhando pelo meu vestido.
O bebê. Estava vindo. Cedo demais.
Helena viu o sangue e seu rosto empalideceu. O pânico substituiu a raiva.
"Não... não agora... ainda não é a hora!"
A dor veio de novo, mais forte, me dobrando ao meio. Eu estava em trabalho de parto.
A porta do quarto se abriu com um estrondo. Era Ricardo. Ele parou, olhando a cena: eu no chão, coberta de sangue, Helena de pé, com o rosto arranhado e uma expressão de horror.
"O que está acontecendo aqui?" ele gritou.
Helena foi a primeira a reagir. A atriz consumada assumiu o controle. As lágrimas brotaram em seus olhos, seu corpo começou a tremer.
"Ricardo!" , ela soluçou, correndo para os braços dele. "Foi horrível! Ela me atacou! Ela tentou se matar de novo, se jogando no chão! Ela disse que não queria ter o bebê, que preferia morrer a dar à luz a minha filha!"
Ela enterrou o rosto no peito dele, seu corpo tremendo com soluços falsos. Ricardo olhou para mim, no chão, agonizando de dor, e seu rosto se fechou em uma máscara de fúria e desprezo. Ele acreditou nela. De novo.