Rejeitada, Amada, Invencível
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Capítulo 4

Cheguei em casa como um fantasma. Abri a porta e o contraste com a casa da minha mãe foi brutal. Aqui, o silêncio não era tenso, era apenas... quieto. As luzes estavam baixas. Ricardo estava deitado no sofá, assistindo à TV sem realmente prestar atenção, e Lucas, meu filho adolescente, estava trancado em seu quarto, provavelmente com fones de ouvido. Eles mal notaram minha chegada.

Por um momento, a força que me sustentou durante a explosão me abandonou. Fechei a porta atrás de mim e minhas pernas cederam. Eu deslizei pela porta até o chão, e o choro que eu segurei veio de uma vez. Era um choro profundo, doloroso, um luto por uma família que eu nunca tive de verdade. Eu soluçava, o corpo todo tremendo, o som da minha dor enchendo o pequeno apartamento.

Ricardo finalmente se virou, a expressão de tédio em seu rosto se transformando em surpresa e depois em alarme ao me ver naquele estado. Lucas abriu a porta do quarto, atraído pelo barulho.

"Ana? O que aconteceu?" , perguntou Ricardo, se levantando.

Mas a reação inicial deles não foi de conforto. Foi de uma distância cautelosa. E eu sabia por quê. Quantas vezes eu tinha voltado da casa da minha mãe chateada, reclamando, mas sempre voltando para mais? Quantas vezes eu tinha colocado as necessidades deles em segundo plano para atender aos caprichos da minha família de origem? Eu cancelei jantares com Ricardo, perdi jogos de futebol de Lucas, tudo porque "mamãe precisava de mim" .

A visão da distância nos olhos do meu marido e do meu filho foi mais dolorosa que o tapa da minha mãe. Ali, sentada no chão da minha própria casa, eu percebi a extensão do dano que eu tinha causado não apenas a mim mesma, mas a eles. Eu os negligenciei. Em minha busca desesperada por migalhas de afeto da minha família de origem, eu estava morrendo de fome e deixando minha própria família morrer de fome junto comigo.

"Eu... eu estraguei tudo" , murmurei entre os soluços, mais para mim mesma do que para eles. "Eu sinto muito. Eu sinto tanto."

Lucas se aproximou hesitante. Ricardo se ajoelhou na minha frente.

"Ana, o que aconteceu lá? O que eles fizeram com você desta vez?" A voz de Ricardo tinha um tom de raiva contida, a raiva de um homem que estava cansado de ver sua esposa sofrer.

Com a voz embargada, eu contei tudo. A distribuição da herança. Os imóveis para os irmãos, as joias para as cunhadas, o dinheiro para o neto. O fato de que eu não recebi nada. E a sentença final: eu seria a cuidadora em tempo integral da minha mãe. Terminei contando sobre a mesa virada, os gritos, o bolo na parede e, finalmente, o tapa e a expulsão.

Enquanto eu falava, a expressão de Ricardo mudou de preocupação para uma fúria sombria. Lucas, que sempre pareceu tão distante e adolescente, cerrou os punhos, os olhos brilhando de raiva.

"Aquela desgraçada!" , rosnou Ricardo, socando o chão ao meu lado. "Ela te bateu? Depois de tudo que você fez, ela te bateu?"

"Eles te expulsaram?" , perguntou Lucas, a voz mais grave do que o normal. "Aqueles seus irmãos covardes deixaram ela fazer isso e ainda te colocaram para fora?"

Pela primeira vez em muito tempo, a raiva deles não era direcionada a mim por minha devoção à minha mãe, mas estava ao meu lado, me defendendo. Aquele calor, aquela proteção, era tudo que eu sempre quis.

Ricardo se levantou, o rosto uma máscara de determinação.

"Chega. Isso acaba hoje. Eles não vão tratar minha esposa assim e sair impunes."

Ele pegou as chaves do carro.

"Vamos voltar lá."

"O quê? Pai, o que você vai fazer?" , perguntou Lucas, os olhos arregalados.

"Vou ensinar uma lição a esses seus tios sobre como se trata uma irmã. E você vem comigo, Lucas. Você vai aprender como se defende sua mãe."

Eu olhei para eles, chocada, mas uma nova força começou a crescer dentro de mim, alimentada pelo apoio inesperado da minha família. Eles estavam lutando por mim. Eu não estava mais sozinha.

                         

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