Capítulo 2 Rastros invisíveis

O tempo não suavizou o desejo. Pelo contrário, transformou-o em fardo e combustível.

Com 17 anos, Amir abandonou qualquer ilusão de que o destino traria sua amada até ele. O destino, ele agora sabia, precisava ser empurrado.

Iniciou então sua busca. Não uma busca comum, mas uma caçada sagrada - silenciosa, incansável, quase obsessiva. Utilizou toda a influência da Casa Al-Fahim, sem que o mundo percebesse. Criou uma rede secreta de investigação, reunindo ex-agentes de inteligência, analistas de imagem, especialistas em tecnologia e perfis comportamentais.

Começou pelo impossível: por rostos. Alimentou os programas mais modernos com os traços do desenho que fizera desde a infância. Um rosto feminino sem nome, mas com identidade emocional. As máquinas diziam "não", os algoritmos falhavam. Mas Amir insistia.

Enquanto seus contemporâneos frequentavam festas luxuosas, casamentos reais e eventos de negócios, ele viajava em silêncio. Deixava os tronos e tratados para trás e mergulhava em aeroportos anônimos. Passou noites em Tóquio observando multidões, dias em Istambul conversando com artistas de rua, semanas em Nairóbi cruzando olhares.

Foi a Veneza em pleno inverno, acreditando ter visto seu reflexo em um barco. Ao tocar o rosto da mulher, entendeu que era apenas uma sombra - parecida, mas não ela.

Foram mais de seis anos assim.

Nesse tempo, aprendeu línguas, hábitos e caminhos que jamais imaginara conhecer. Mas não importava o idioma, o tom de pele, o sotaque, a classe social - nenhuma era ela. Algumas chegaram perto, despertando esperanças passageiras. Outras nem se aproximavam, mas ele olhava mesmo assim.

Desenhava sempre que retornava ao palácio. As paredes do quarto secreto estavam cobertas de retratos. Pequenas diferenças: o olhar mais triste, o sorriso mais aberto, os cabelos mais curtos... Era como se o tempo estivesse moldando a mulher dos sonhos dele junto com ele, em paralelo.

E em cada novo traço, um sussurro:

"Onde você está?"

Ele se tornava cada vez mais poderoso. A fortuna crescia, os contratos se multiplicavam, e ele - ainda tão jovem - era temido e admirado. Mas em suas madrugadas vazias, dormia com o rosto dela nos dedos. O homem mais cobiçado do Oriente... vivia sozinho, por escolha. Porque amar qualquer outra seria trair o que seu coração sempre soube.

Até que um dia, dez anos após o primeiro desenho, ela apareceu. Não pessoalmente. Ainda não.

Chegou através de uma fotografia. Uma imagem banal, enviada por um dos agentes ao redor do mundo: uma jovem sorrindo em uma festa popular, rodeada por bandeirinhas e pessoas simples. Um retrato capturado em movimento, levemente borrado.

Mas Amir viu.

E o tempo parou.

A foto tremia em suas mãos. O mundo deixou de existir por alguns segundos.

Era ela.

O olhar. A expressão. A curva do sorriso. O rosto que ele desenhava desde menino.

O nome era Luna.

Vivendo no Brasil.

Uma jovem que jamais ouvira falar dele, mas que - por alguma razão que ele ainda não compreendia - vivia dentro dele há tantos anos.

Naquela noite, Amir não dormiu. Apenas olhou para o céu de Al-Nur e murmurou:

"Eu te encontrei."

            
            

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