Capítulo 3 Ela, do outro lado do mundo

Luna sempre teve um coração inquieto.

Nascida e criada na imensidão cinza e pulsante de São Paulo, cresceu entre prédios, barulho e pressa. Mas mesmo em meio ao concreto, havia algo nela que não combinava com a rotina comum da cidade. Era como se sua alma vivesse em outro ritmo, como se esperasse por algo que ninguém mais conseguia sentir.

Amava livros, lugares silenciosos e os poucos minutos de céu visível entre os edifícios. Tinha um jeito próprio de ver o mundo - como quem o decifrava em detalhes que escapavam aos olhos alheios. Era forte, independente, sonhadora, mas guardava uma sensação antiga: a de que sua vida estava amarrada a algo distante... algo que ainda viria.

Desde a adolescência, sonhava com olhos escuros. Sonhos repetidos, profundos. Olhos que a observavam com uma intensidade quase dolorosa. Nunca havia visto aquele rosto completo, apenas o olhar. Mas era como se ele estivesse ali, esperando por ela em algum lugar do mundo.

Luna escrevia sobre isso em seus diários, entre poemas, rabiscos e confissões. Não contava a ninguém. Era o tipo de coisa que se guarda no silêncio.

Em uma tarde qualquer, caminhando pelo centro da cidade com uma amiga, foi abordada por uma cigana. Uma mulher de olhos misteriosos e lenço vermelho, que a fitou com um sorriso calmo.

- Você é procurada.

Luna franziu o cenho.

- Como assim?

- Já nasceu ligada a alguém. Sua alma foi reconhecida antes mesmo de você abrir os olhos.

- Desculpa, mas...

- Sua vida vai mudar. Logo. Prepare-se.

Luna riu, meio desconfortável. Agradeceu, seguiu andando. Mas aquela frase ficou cravada como uma flecha dentro dela. Não pelo tom, mas pela certeza com que foi dita. Como se não fosse uma previsão, mas uma sentença.

E o tempo respondeu rápido.

Alguns dias depois, durante um festival de rua na zona sul, foi convencida a participar de uma festa popular com amigos da faculdade. Havia bandeirinhas, música ao vivo, doces e risadas. Ela estava distraída, comendo pamonha, quando alguém - um estranho qualquer - tirou uma foto dela sorrindo.

Naquela noite, sentiu um arrepio que não vinha do frio. Olhou pela janela do apartamento e teve a sensação estranha de estar sendo observada. Tentou rir de si mesma. "Paranoia", pensou. Mas o incômodo não passou.

Na mesma hora, do outro lado do mundo, aquele retrato viajava por redes secretas, atravessava satélites e continentes, até chegar às mãos de um príncipe que guardava o rosto dela nos cadernos há mais de uma década.

Seu nome era Luna. Mas para ele, ela sempre fora Layla.

E naquele momento, o destino deixou de ser espera.

            
            

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