A Esposa Negligenciada Encontra a Felicidade
img img A Esposa Negligenciada Encontra a Felicidade img Capítulo 1
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Capítulo 1

Dois anos de casamento, e a minha cama continuava fria.

Mateus nunca me tocou.

Esta noite, a minha última gota de paciência secou. Peguei no telemóvel e liguei para o meu irmão, Tiago, em Portugal.

"Tiago, eu quero o divórcio."

A minha voz saiu firme, sem hesitação.

Do outro lado da linha, o silêncio durou apenas um segundo. "Finalmente, Lara. Eu apoio-te. Vem para Lisboa. A tua casa está pronta."

Senti um alívio imenso, como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros. Desliguei a chamada e olhei para o quarto luxuoso, mas vazio. Esta vida de fachada tinha de acabar.

Não conseguia dormir. A decisão pesava na minha mente, mas era um peso libertador. Levantei-me e caminhei pela mansão silenciosa. As luzes estavam todas apagadas, exceto por uma fresta de luz que vinha da capela privada no final do corredor.

Um som estranho chegou aos meus ouvidos. Um murmúrio baixo, quase um lamento.

Aproximei-me devagar, a curiosidade a superar o medo. Espreitei pela fresta da porta de madeira maciça.

A cena que vi congelou o sangue nas minhas veias.

Mateus estava ajoelhado em frente ao crucifixo. O seu rosário de ébano enrolado nos dedos brancos. Mas os seus olhos não estavam em Cristo. Estavam fixos num tablet apoiado no altar.

Na tela, uma jovem rodopiava num vestido de debutante branco. Sofia. A sua prima de criação, a menina que cresceu com ele como uma irmã.

Ele assistia ao vídeo repetidamente. A sua expressão era uma mistura de agonia profunda e desejo carnal. A sua devoção não era para Deus. Era uma penitência. Uma punição pelo amor proibido que sentia por ela.

A minha mente voltou no tempo.

Lembro-me do dia em que o conheci, numa gala de caridade. Mateus era diferente de todos os outros herdeiros. Quieto, com um ar ascético, quase sagrado. Fiquei imediatamente fascinada.

"Ele é estranho, Lara," o meu irmão Tiago tinha-me avisado nesse dia. "É um homem frio, distante. Não te metas nisso."

Mas eu vi-o como um desafio. Eu, a rainha do samba, a mulher vibrante que o Rio de Janeiro conhecia, iria derreter aquele coração de gelo.

Que tola eu fui.

Lembrei-me de todas as minhas tentativas falhadas. Noites em que usei a lingerie mais provocante, jantares que preparei com as minhas próprias mãos, danças de samba que executei só para ele no nosso quarto.

A resposta era sempre a mesma.

Um olhar indiferente.

"Estou cansado."

"Preciso de rezar."

Ele rejeitava-me sempre com uma frieza que me partia em mil pedaços. E eu, apaixonada, tentava de novo e de novo, cada vez com mais desespero.

Até ao dia em que ele me pediu em casamento. Foi abrupto, sem qualquer romance. Estávamos a tomar o pequeno-almoço em silêncio, como sempre.

"Acho que devíamos casar," disse ele, sem tirar os olhos do jornal.

O meu coração explodiu de alegria. Pensei que tinha finalmente conseguido. Que ele estava finalmente a abrir-se para mim. Aceitei com um sorriso que ia de orelha a orelha, cega pela esperança.

Agora, a ver aquela cena na capela, a verdade atingiu-me com a força de um murro.

O nosso casamento nunca foi sobre amor. Foi uma farsa. Uma maneira de ele se punir, de construir uma barreira entre ele e os seus verdadeiros desejos. Eu era o seu escudo, a sua penitência viva. Ele nunca me amou. Ele nunca me quis.

Ouvi-o sussurrar o nome dela, um som que era ao mesmo tempo uma oração e uma maldição.

"Sofia..."

Aquele nome, sussurrado com tanta dor e desejo, foi o meu ponto de rutura. A dor dentro de mim era tão aguda que deixou de doer. Ficou apenas um vazio gelado.

Virei-me e voltei para o quarto, a minha decisão mais firme do que nunca.

Na manhã seguinte, encontrei Mateus na sala de jantar. Ele lia o seu jornal financeiro, alheio a tudo.

"Mateus," disse eu, com a voz mais casual que consegui. "Vou passar umas semanas no Rio. Preciso de ver os meus amigos."

Ele nem levantou a cabeça.

"Faz o que quiseres."

A sua indiferença era a confirmação final. Ele não fazia ideia de que eu estava a despedir-me. Para ele, eu já nem sequer existia.

            
            

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