Amor Perigoso na Favela
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Capítulo 2

Maria aprendeu a usar uma máscara, na frente do "General" e de seus homens, ela era a órfã dócil, a jovem assustada que aceitava sua "proteção", mas por dentro, cada fibra de seu ser gritava em protesto. O ódio era um fogo lento, queimando em seu peito, era o que a impulsionava. Toda vez que ele a olhava com aquele ar de posse, ela sentia vontade de vomitar, mas sorria, um sorriso frágil e submisso que ela praticava em frente ao espelho quebrado de seu banheiro.

"Você está tão pálida, Maria", disse "O General" em uma manhã, enquanto ela servia café para ele em sua própria casa, a casa que antes era um lar e agora era um quartel-general informal. "Não está comendo direito?"

Ele a observava de perto, os olhos pequenos e calculistas percorrendo seu rosto, seu corpo, procurando por qualquer sinal de rebeldia.

"Estou bem, só cansada", ela respondeu, a voz baixa, mantendo os olhos baixos.

Ele deu de ombros, um gesto de indiferença que a feria mais do que qualquer grito, para ele, ela era um objeto, um troféu, a filha do homem que ele matou, sua última conquista. Ele terminou o café, levantou-se e saiu sem dizer mais uma palavra, deixando-a sozinha com o cheiro dele impregnado na casa, um lembrete constante de sua presença opressora.

A vida de Maria se tornou um inferno sutil, pontuado por momentos de terror explícito, uma tarde, uma das namoradas de um dos milicianos, uma mulher chamada Valéria, cheia de ciúmes e maldade, a empurrou contra a parede de um beco.

"Você se acha especial, não é?", Valéria cuspiu, o rosto contorcido de raiva. "Acha que só porque o chefe te quer, você é melhor que a gente?"

Valéria agarrou o braço de Maria com força, as unhas pintadas de vermelho vivo cravando em sua pele. Maria não reagiu, aprendeu que a passividade era sua melhor defesa.

"Eu não acho nada", Maria sussurrou, o coração batendo descontrolado.

A violência foi interrompida por uma voz grossa e irritada.

"O que diabos você está fazendo, Valéria?"

Era "O General", ele apareceu de repente, sua expressão era de pura fúria, mas não era por Maria, era por sua propriedade ter sido tocada por outra pessoa. Ele agarrou Valéria pelo braço e a jogou para o lado com uma força brutal.

"Ninguém toca nela", ele rosnou, o aviso servindo para Valéria e para todos os outros que estavam por perto. "Ela é minha, entenderam? Só eu posso tocar nela."

A declaração a fez se sentir suja, exposta, ele não a estava protegendo, estava apenas marcando seu território, como um animal. Ele se virou para Maria, o olhar suavizando minimamente, mas a posse ainda estava lá, queimando em seus olhos.

"Você está bem?", ele perguntou, a voz ainda dura.

Ela apenas assentiu, incapaz de falar. A humilhação era um gosto amargo em sua boca.

Mais tarde naquele dia, ele a mandou limpar um dos depósitos da milícia, um lugar sujo e cheio de caixas pesadas, era um trabalho pesado, feito para homens, mas ela obedeceu sem questionar. Ao tentar mover uma caixa de munição, ela escorregou e a caixa caiu em seu pé, a dor foi aguda, lancinante, e ela caiu no chão, segurando o pé que começou a inchar imediatamente. Um dos milicianos riu da cena.

Quando "O General" soube do ocorrido, ele foi até o depósito, sua expressão era indecifrável. Ele a pegou no colo sem dizer uma palavra, o gesto surpreendendo a todos, e a levou para a pequena clínica comunitária, que agora também estava sob seu controle. Ele mesmo limpou o ferimento e enfaixou seu pé com uma delicadeza que contrastava brutalmente com sua natureza.

"Você é uma enfermeira, deveria saber tomar mais cuidado", ele disse, a voz quase gentil.

Por um segundo, Maria se permitiu sentir uma pontada de confusão, seria possível que houvesse um resquício de humanidade nele?

A ilusão durou pouco, assim que terminou de enfaixar seu pé, ele a olhou nos olhos, o calor se esvaindo de seu olhar.

"Amanhã, quero que você organize todos os suprimentos médicos da clínica", ele ordenou. "Faça um inventário completo, não quero desculpas por causa do seu pé."

A gentileza tinha sido apenas um prelúdio para mais uma ordem, mais uma forma de controle. Maria olhou para ele, o pé machucado latejando, e sentiu o ódio retornar com força total. Ela não confiava nele, não podia confiar, cada gesto dele, por mais ambíguo que parecesse, era parte de um jogo doentio de poder e controle. Ela era uma prisioneira, e a bondade de seu carcereiro era apenas mais uma corrente, talvez a mais perigosa de todas.

            
            

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