Amor Perigoso na Favela
img img Amor Perigoso na Favela img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
Capítulo 23 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

A festa de "aniversário" da milícia era um evento grotesco, churrasco, cerveja e música alta para os moradores, uma demonstração forçada de generosidade para mascarar a extorsão e a violência diárias. "O General" fez questão que Maria estivesse ao seu lado, como uma rainha em uma corte de criminosos, ele a segurava pela cintura, a mão pesada possessivamente em suas costas, sorrindo para todos enquanto apresentava "a minha querida Maria da Luz, filha do nosso saudoso Mendes". Cada palavra era uma facada, uma profanação da memória de seu pai.

Ela se sentia como um animal em exposição, os olhares dos milicianos e de suas mulheres a despiam, alguns com desejo, outros com inveja e desprezo. Ela era o bibelô do chefe, um símbolo de seu poder absoluto, a prova de que ele podia tomar o que quisesse, até mesmo a filha do homem que ousou desafiá-lo. A humilhação era tão intensa que ela mal conseguia respirar, o sorriso forçado em seu rosto doía mais do que qualquer ferida física. A desesperança era um poço fundo e escuro, e ela sentia que estava se afogando.

Valéria, a mulher que a havia confrontado antes, não perdia uma oportunidade de atormentá-la, ela passava por Maria e "acidentalmente" derramava cerveja em seu vestido, ou fazia comentários maldosos em voz alta o suficiente para que ela ouvisse. "O General" via tudo, mas não fazia nada, parecia se divertir com a rivalidade feminina por sua atenção.

O ponto de ruptura veio no final da noite, Maria estava exausta, o pé machucado doía terrivelmente, e ela só queria se esconder, desaparecer. Ela subiu as escadas que levavam ao segundo andar do barraco onde a festa acontecia, buscando um momento de paz. Valéria a seguiu, silenciosamente. Quando Maria chegou ao topo da escada mal iluminada, sentiu um empurrão violento em suas costas.

Tudo aconteceu em câmera lenta, o grito preso em sua garganta, a perda de equilíbrio, o ar sendo arrancado de seus pulmões enquanto rolava escada abaixo, batendo a cabeça em cada degrau de madeira. A dor explodiu em sua cabeça, e o mundo girou, as luzes da festa se tornaram borrões coloridos.

Antes de perder a consciência, ela viu um par de sapatos, sapatos caros e bem engraxados que ela reconheceria em qualquer lugar, os sapatos do "General". E ao lado dele, ela viu o rosto triunfante de Valéria, sorrindo em meio ao caos. Ele tinha visto, ele estava lá, e não fez nada para impedir. Essa foi a última coisa que registrou antes que a escuridão a engolisse.

Quando acordou, a cabeça latejando, ela estava em seu quarto, "O General" estava sentado em uma cadeira ao lado da cama, observando-a. Valéria estava de pé, perto da porta, com uma expressão de falsa preocupação.

"Ela tropeçou", disse Valéria, a voz melosa. "Coitadinha, deve ser o pé machucado, ela é tão desastrada."

Maria olhou para o "General", esperando que ele desmentisse, que ele punisse Valéria pela mentira óbvia, mas ele apenas a encarou, o rosto uma máscara impenetrável.

"Você tem que tomar mais cuidado, Maria", disse ele, a voz fria, sem um pingo de simpatia. "Causando problemas em minha festa, me fazendo passar vergonha."

O mundo dela desabou, ele não apenas permitiu que acontecesse, como agora a culpava por isso. A injustiça era tão avassaladora que as lágrimas brotaram em seus olhos, mas ela as engoliu, recusando-se a lhe dar essa satisfação. Ela entendeu, com uma clareza terrível, sua posição naquela estrutura de poder, ela era um brinquedo, e ele era o dono, Valéria era apenas um cão de guarda que ele usava para manter seu brinquedo na linha. Não havia justiça para ela ali, não havia esperança.

Ainda não tinha acabado, ele se levantou, a sombra dele a cobrindo.

"Como punição pela sua falta de cuidado e por estragar a noite, você vai ficar trancada em seu quarto por três dias", ele declarou. "Sem visitas, sem sair, para aprender a se comportar."

Ele se virou para Valéria.

"Você vai trazer comida e água para ela, certifique-se de que ela não morra de fome."

Era uma crueldade calculada, colocá-la sob os cuidados da mulher que tentou matá-la, era mais uma forma de tortura psicológica. Ele saiu, e Valéria lhe lançou um sorriso vitorioso antes de fechar a porta e trancá-la pelo lado de fora. O som da chave girando na fechadura foi o som de sua sentença. Maria se encolheu na cama, a dor física em sua cabeça e em seu corpo não era nada comparada à dor em sua alma, ela estava presa em um pesadelo, e não havia como acordar.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022