Meu Futuro Longe de Você
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Capítulo 1

Oito anos. Eu estive com Ricardo por oito longos anos.

Eu o acompanhei desde o tempo em que ele não tinha absolutamente nada até se tornar um empresário de sucesso, o Sr. Silva que todos admiravam. Cuidei de sua mãe doente, ajudei a administrar os negócios da família que ele herdou, criei nossos filhos.

Mas toda essa dedicação, todos esses anos de sacrifício, não valiam nada comparados a uma única palavra de Isabella.

Meus pais, meu marido, e até mesmo meu filho, todos eles, sem exceção, a preferiam.

Era como se, desde o início, eu fosse sempre a intrusa.

Hoje era o aniversário de Isabella, e também, coincidentemente, o meu verdadeiro aniversário. Ninguém se lembrava do meu, é claro. Recebi uma ligação da escola dizendo que nosso filho, Pedro, não estava se sentindo bem. A professora pediu que eu fosse buscá-lo mais cedo.

Saí do meu escritório às pressas, sem nem mesmo pegar um guarda-chuva. Uma tempestade de verão caía sobre a cidade, e as ruas rapidamente se transformaram em rios. Quando finalmente cheguei à escola, ensopada e ofegante, a professora me disse, com um olhar de pena:

"Sra. Mendes, a Sra. Costa já buscou o Pedro. Ela disse que a senhora estava muito ocupada no trabalho e não conseguiria vir."

Isabella. Claro que foi ela.

Meu coração afundou. Senti um calafrio, e não era apenas por causa da chuva. Liguei para Isabella, mas ela não atendeu. Liguei para Ricardo, mas o celular dele estava desligado. Liguei para a casa da minha família, onde a festa de aniversário de Isabella estava acontecendo, mas ninguém atendeu.

Dirigi sob a chuva torrencial até a mansão da minha família. A música alta e as risadas podiam ser ouvidas do lado de fora. Estacionei o carro e corri pela chuva, a água gelada encharcando minhas roupas já molhadas.

Fiquei na entrada, tremendo de frio e ansiedade. Pela grande janela de vidro, pude ver a cena lá dentro. Ricardo, meu marido, estava ao lado de Isabella, sorrindo enquanto ela cortava um bolo de aniversário magnífico. Meus pais adotivos, os pais biológicos de Isabella, aplaudiam com rostos cheios de adoração.

E ali, ao lado de Isabella, estava meu filho, Pedro. Ele olhava para ela com um sorriso radiante, um sorriso que eu não via em seu rosto há muito tempo quando ele olhava para mim.

Meu telefone tocou na minha bolsa. Eu o peguei com as mãos trêmulas. Era Ricardo. Finalmente. Atendi a chamada, a voz dele soando irritada através do barulho da festa.

"Sofia, onde você está? O que está fazendo?"

"Eu estou aqui fora", minha voz saiu fraca. "Vim buscar o Pedro. A escola ligou."

Houve uma pausa. Eu podia vê-lo pela janela. Ele olhou para o celular, franziu a testa, e então seus olhos varreram o jardim escuro e chuvoso. Ele me viu. Nossos olhares se encontraram através do vidro.

Ele não demonstrou surpresa ou preocupação. Apenas irritação. Ele desligou a chamada sem dizer mais nada.

Eu o vi se virar e dizer algo para Isabella. Ela olhou em minha direção, um sorriso sutil e vitorioso em seus lábios. Então, ela pegou a mão de Pedro e sussurrou algo em seu ouvido. Pedro olhou para mim, seu sorriso desaparecendo, substituído por uma expressão de desgosto.

A porta da frente se abriu. Ricardo estava parado ali, bloqueando a entrada, seu rosto uma máscara de impaciência.

"O que você quer? Entrando assim, toda molhada, vai estragar a festa."

"Eu só queria ver se o Pedro está bem", eu disse, tentando manter minha voz firme.

"Ele está ótimo", respondeu Ricardo, ríspido. "Isabella cuidou dele. Diferente de você, que nem consegue buscar seu próprio filho na escola."

A acusação me atingiu como um soco. "Eu estava a caminho. Fui o mais rápido que pude."

"Não foi rápido o suficiente", ele cortou.

Isabella se aproximou, colocando uma mão delicada no braço de Ricardo. Seu rosto estava cheio de uma falsa preocupação.

"Ricardo, não seja tão duro com a Sofia. Ela deve ter tido muito trabalho. Sofi, você está bem? Está toda encharcada. Quer entrar e se secar?"

A voz dela era doce como mel, mas seus olhos brilhavam com malícia. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. Ela estava me mostrando meu lugar.

Antes que eu pudesse responder, meus pais adotivos chegaram à porta. Minha mãe, a mãe biológica de Isabella, olhou para mim com desaprovação.

"Sofia! O que significa isso? Você está tentando arruinar o aniversário da sua irmã?"

"Eu não...", comecei a dizer, mas meu pai me interrompeu.

"Chega. Isabella, querida, não deixe sua irmã estragar sua noite. Volte para seus convidados. Ricardo, cuide da sua esposa."

Eles se viraram e voltaram para a festa, sem um segundo olhar para mim.

Isabella sorriu para mim. "Sinto muito, Sofi. Eu disse a eles que você não fez por mal." Ela se inclinou para mais perto, sua voz um sussurro venenoso que só eu podia ouvir. "A propósito, feliz aniversário. Eu sei que hoje também é o seu dia. Mas, como você pode ver, ninguém se importa. Você sempre foi apenas a substituta, a garota que eles pegaram do orfanato para me fazer companhia. Você nunca pertenceu a esta família. E Ricardo? Ele nunca te amou de verdade. Ele só estava comigo desde o começo."

Cada palavra era uma faca afiada. Lembrei-me de todas as vezes que tentei explicar as manipulações de Isabella para Ricardo, para meus pais. Todas as vezes que fui chamada de ciumenta, de louca, de ingrata. Todas as vezes que eles acreditaram nela, e não em mim.

"Eu te odeio!", meu filho, Pedro, gritou de dentro da casa, sua voz infantil cheia de um ódio que ele aprendeu com os adultos ao seu redor. "Você é uma mãe má! A tia Bella é muito melhor que você!"

Essa foi a gota d'água.

Olhei para o rosto de Ricardo, esperando ver um pingo de defesa, um traço de lealdade. Não havia nada. Apenas um cansaço frio e indiferença.

Naquele momento, eu entendi. Eu era a intrusa. Eu era a peça extra, a pessoa que eles toleravam, mas nunca amaram. Eu era a única que não pertencia àquela imagem perfeita de família feliz.

Uma calma gelada tomou conta de mim. A dor, a humilhação, a raiva, tudo se transformou em uma resolução fria e dura. Eu não ia mais chorar. Eu não ia mais implorar por migalhas de afeto.

Chega.

Olhei para Ricardo, para a casa cheia de risadas das quais eu não fazia parte, para o rosto zombeteiro de Isabella.

Eu não vou mais aguentar isso.

Virei as costas e caminhei de volta para a chuva, deixando para trás os oito anos da minha vida. Eu não sabia para onde estava indo, mas sabia que estava indo para longe deles. Para bem longe.

            
            

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