"Sofia, isso de novo?", ele disse, sua voz cansada. "Eu não tenho tempo para suas teorias da conspiração. Você não consegue simplesmente aceitar que sua irmã é uma boa pessoa e parar de tentar destruí-la?"
"Não é uma teoria! As provas estão aqui!", eu insisti, apontando para os papéis.
"Isso não prova nada!", ele gritou, levantando-se. "Isso só prova o quão obcecada e ciumenta você é! Eu me sinto envergonhado por você, Sofia. Envergonhado!"
Naquela noite, ele dormiu no quarto de hóspedes. Na manhã seguinte, ele me disse que Isabella havia explicado tudo. Era um "mal-entendido" com a contabilidade, e ela já havia devolvido o dinheiro. Ele acreditou nela, é claro. E me olhou como se eu fosse um monstro.
Eu era tão ingênua. Pensei que o amor verdadeiro, construído sobre anos de parceria e sacrifício, poderia resistir a qualquer coisa. Mas eu estava errada. Meu amor era um castelo de areia, e a maré da manipulação de Isabella o levou sem esforço.
Voltei para nossa casa. A casa que eu decorei, o lugar que eu tentei transformar em um lar. Estava vazia e silenciosa. O ar estava frio.
Algumas horas depois, ouvi o som do carro de Ricardo na garagem. A porta da frente se abriu e ele entrou, segurando a mão de Pedro.
O rosto de Ricardo estava impassível, mas seus olhos me evitaram. Havia uma tensão estranha entre nós, a raiva da festa tendo se transformado em um silêncio pesado e desconfortável.
Pedro, no entanto, não tinha tais inibições.
Assim que me viu, ele soltou a mão de Ricardo e apontou para mim.
"Eu não quero falar com você", ele disse, sua voz infantil carregada com o veneno que ele havia absorvido. "Papai disse que você é uma pessoa ruim. Vovô e vovó também disseram. Eles disseram que você tem um coração ruim porque tem ciúmes da tia Bella."
Cada palavra era uma punhalada. Meu próprio filho, repetindo as mentiras que eles enfiaram em sua cabecinha. Olhei para Ricardo, esperando que ele dissesse algo, que ele corrigisse nosso filho.
Ele permaneceu em silêncio, desviando o olhar. Seu silêncio era uma confirmação.
Eu me senti uma completa fracassada. Fracassei como esposa, como filha e, o mais doloroso de tudo, como mãe. O pequeno ser humano que eu mais amava no mundo me desprezava. E eu não podia culpá-lo. Ele era apenas uma criança, moldada pelas pessoas em quem confiava.
O amor que eu sentia por ele era tão vasto e profundo, mas parecia que nada disso o alcançava. Eu era indigna de ser amada. Essa era a mensagem que eu recebia de todos os lados.
Respirei fundo, forçando a dor para um canto escuro do meu peito. Acalmei meu rosto, tornando-o uma máscara neutra.
Aproximei-me de Pedro e me agachei para ficar no nível de seus olhos.
"Pedro", eu disse, minha voz surpreendentemente calma. "Você realmente não quer mais falar com a mamãe? Nunca mais?"
Eu queria que ele dissesse não. Eu queria que ele corresse para os meus braços e dissesse que tudo não passava de um pesadelo.
Ele olhou para Ricardo, buscando aprovação, e depois de volta para mim. Seus pequenos lábios se curvaram em desdém.
"Sim", ele disse com uma firmeza assustadora para uma criança de sua idade. "Eu não quero mais você. A tia Bella é minha nova mamãe. Ela é bonita e gentil. Você é má."
O mundo parou. O ar ficou rarefeito em meus pulmões. O último fio que me prendia a esta vida, a esta família, se partiu. Não houve um estalo alto, apenas um silêncio profundo e absoluto. O silêncio da morte. A morte do meu coração.
Eu assenti lentamente. "Entendi."
Levantei-me, sem olhar para Ricardo. Passei por eles como se fossem estranhos e subi as escadas em direção ao nosso quarto.
Não chorei. Não gritei. Eu não sentia mais nada. Havia apenas um vazio imenso onde meu coração costumava estar.
Abri o guarda-roupa e peguei uma mala. Comecei a dobrar minhas roupas metodicamente, uma peça de cada vez. Blusas, calças, vestidos. Coisas que eu comprei em momentos felizes que agora pareciam pertencer a outra vida.
Quando a mala estava cheia, fechei-a. O som do zíper foi o único ruído no silêncio do quarto.
Peguei a mala e desci as escadas.
Ricardo estava parado no pé da escada, bloqueando meu caminho. Seu rosto finalmente mostrava alguma emoção: confusão. Pedro se escondera atrás de suas pernas, espiando para mim.
"O que você está fazendo?", Ricardo perguntou.
Olhei diretamente nos olhos dele, os mesmos olhos pelos quais me apaixonei há tantos anos. Agora, eles eram os olhos de um estranho.
"Ricardo", eu disse, minha voz clara e sem emoção. "Vamos nos divorciar."