Cozinheira Traída: Renascimento Ardente
img img Cozinheira Traída: Renascimento Ardente img Capítulo 1
2
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 1

O cheiro de desinfetante hospitalar foi a última coisa que senti, um odor frio e estéril que se misturou ao som metálico dos equipamentos médicos. Eu estava morrendo, isso eu sabia, a dor aguda no meu abdômen era um fogo que consumia tudo. Uma fã fanática de Pedro me esfaqueou, gritando que eu era uma "chef malvada" que sabotou seu ídolo, seu herói. A ironia era tão amarga que quase me fez rir.

Minha vida inteira passou diante dos meus olhos, mas não como nos filmes. Eu só conseguia ver a cozinha, o calor dos fornos, o brilho das facas. Vi Pedro, meu namorado, o homem cuja carreira eu construí do zero, com seu sorriso ambicioso. Vi a equipe que treinei, os jovens chefs que me chamavam de mentora. Vi todos eles se virando contra mim na véspera do concurso culinário nacional, o evento que definiria nossas vidas.

Tudo por causa de um pote de tempero.

Um tempero que Isabela, a "amiga de infância" de Pedro, preparou especialmente para ele. Ela sempre esteve por perto, com seu sorriso doce e seus olhos cheios de uma inveja que só eu parecia enxergar. Naquele dia, eu a vi entregando o pote para Pedro.

"Use isso na final, Pedrinho. É uma receita de família, vai te dar sorte."

Eu senti um calafrio. Eu conhecia cada ingrediente da nossa cozinha, e aquele cheiro era estranho, químico. Eu intervi, agarrei o braço de Pedro antes que ele provasse.

"Não coma isso, Pedro. Tem algo errado."

A cara dele se fechou.

"Lívia, de novo isso? Você não suporta ver a Isabela me ajudando?"

Isabela começou a chorar.

"Lívia, eu só queria ajudar. Por que você sempre me trata assim? É porque o Pedro gosta de mim?"

A equipe inteira me olhava com reprovação. Eu era a chef controladora, a namorada ciumenta. Tentei explicar, disse que o tempero continha um tranquilizante forte o suficiente para desqualificá-lo, para acabar com sua carreira permanentemente. Ninguém acreditou. Eles viam apenas meu ciúme, minha arrogância.

Desesperada, eu dei um tapa no pote, que se espatifou no chão. O silêncio que se seguiu foi quebrado pelo som da mão de Pedro atingindo meu rosto. O tapa estalou, ecoando pela cozinha, e doeu menos do que a traição nos olhos dele.

"Você está louca", ele cuspiu as palavras.

Ele competiu no dia seguinte, sem o tempero, mas a semente da desconfiança já havia sido plantada. Isabela fez uma transmissão ao vivo, chorando, contando uma versão distorcida dos fatos. Ela me pintou como a vilã que não suportava o sucesso do namorado, que tentou sabotar a equipe por puro despeito. A internet me devorou. Fui chamada de tudo. A "chef malvada" era o apelido mais gentil.

Pedro não me defendeu. Ele ficou em silêncio, deixando a narrativa de Isabela crescer e me engolir. Ele passou mal durante a competição, uma febre alta o consumiu, exatamente como eu previ que o tranquilizante faria se ele tivesse ingerido uma dose maior. Mas para o público, a febre foi causada pelo estresse que eu provoquei.

E então veio a fã. E a faca.

Enquanto a vida se esvaía de mim, ouvi uma voz familiar perto da porta do meu quarto de hospital. Era Isabela, falando ao telefone com Pedro, sua voz não mais doce, mas cheia de um triunfo venenoso.

"Ela finalmente morreu, Pedrinho. Agora ninguém mais vai ficar entre nós. É uma pena que você tenha sido desqualificado por causa da febre, mas não se preocupe, eu cuido de você. Eu não disse que aquele tempero era forte? Se ela não tivesse derrubado, você teria dormido no palco. Mas tudo bem, pelo menos nos livramos dela. Agora, podemos recomeçar, só nós dois."

A verdade me atingiu com a força de um golpe final. Ela não queria apenas me afastar, ela queria sabotar a carreira dele para tê-lo só para ela, fraco e dependente. E Pedro, cego e manipulado, foi cúmplice em sua própria ruína e na minha morte.

Uma raiva fria e profunda me preencheu. Uma injustiça tão grande que parecia rasgar o próprio tecido da realidade. Eu não podia morrer assim. Não podia.

Meus olhos se fecharam.

E então, se abriram novamente.

O som agitado da cozinha me envolveu. O cheiro familiar de alecrim e alho. Olhei para minhas mãos. Sem sangue, sem feridas. Eu estava de pé, no mesmo lugar, na mesma cozinha.

Na minha frente, Isabela sorria, estendendo um pequeno pote de cerâmica para Pedro.

"Use isso na final, Pedrinho. É uma receita de família, vai te dar sorte."

Eu estava de volta. De volta ao momento exato. O universo, ou talvez meu próprio ódio, me deu uma segunda chance.

Desta vez, não haveria tapa no rosto. Não haveria sacrifício. Desta vez, eu não iria proteger ninguém que me traiu.

Desta vez, todos eles iriam pagar.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022