Hoje, eu estava sentada na plateia, em um lugar privilegiado que comprei com meu próprio dinheiro. Estava usando um vestido elegante, meu cabelo estava arrumado, e em meu rosto havia um sorriso sereno. Eu não era uma chef nervosa. Eu era uma espectadora.
Meus olhos varreram a multidão e pararam em um rosto específico. Uma garota jovem, com olhos fanáticos, usando uma camiseta com o rosto de Pedro estampado. Era ela. A garota que me esfaqueou. Senti um gelo percorrer minha espinha, uma memória fantasma da dor. Mas a sensação passou rápido, substituída por uma determinação fria. Desta vez, ela não chegaria perto de mim.
Nos bastidores, vi Pedro e sua equipe se preparando. Isabela estava ao lado dele, ajeitando sua dólmã, sussurrando em seu ouvido. Ela agia como a namorada solidária, a musa inspiradora. Quando seus olhos encontraram os meus na plateia, ela me lançou um sorriso de puro triunfo, como se dissesse "Eu venci. Ele é meu".
Eu apenas inclinei a cabeça, um gesto sutil de reconhecimento. O jogo dela era amador. O meu estava apenas começando.
De repente, Pedro estava na minha frente, seu rosto pálido e suado. Ele havia pulado a barreira que separava os competidores do público.
"Lívia, você tem que me ajudar", ele sussurrou, desesperado. "Eu não estou me sentindo bem. Minhas mãos estão tremendo. É o que você disse, não é? O tempero."
A realidade finalmente o havia atingido.
"Sim, Pedro. É o tempero", respondi calmamente.
"Faça alguma coisa! Você conhece os organizadores, fale com eles! Diga que estou doente, invente uma desculpa! Você precisa me tirar daqui!"
A ironia era inacreditável. O homem que me acusou de tentar sabotá-lo agora me implorava para salvá-lo de sua própria estupidez.
"Não", eu disse, olhando diretamente em seus olhos. "Eu não vou fazer nada. Este é o seu momento, Pedro. Vá e brilhe."
"Você é um monstro", ele sibilou, antes que a segurança o levasse de volta para os bastidores.
A competição começou. A equipe de Pedro foi chamada ao palco. Ele tentou disfarçar, mas eu podia ver. Seus movimentos eram lentos, seus olhos tinham um brilho febril. Ele quase derrubou uma panela. Tiago e Carla, seus leais assistentes, trocavam olhares preocupados. Apesar de tudo, eles conseguiram montar o prato. Parecia impecável, uma obra de arte. O público aplaudiu.
Após a apresentação, enquanto os jurados deliberavam, a equipe deu uma entrevista rápida para uma repórter de TV. E então, o impensável aconteceu. Tiago pegou o microfone.
"Gostaríamos de aproveitar esta oportunidade para anunciar que, independentemente do resultado de hoje, esta foi nossa última competição com Lívia como nossa chef principal", ele declarou, olhando diretamente para a câmera. "Ela se tornou um fardo para a equipe. Sua negatividade e sua falta de confiança em nosso líder, Pedro, estavam nos segurando. Precisamos de um novo começo, com alguém que nos apoie de verdade."
Carla assentiu vigorosamente ao seu lado. O público ofegou. Os jornalistas se viraram para mim, câmeras piscando. Eles me encontraram. A "chef malvada". A mentora traída por seus próprios pupilos, em rede nacional.
Na minha vida passada, eu teria chorado, fugido. Desta vez, eu mantive meu sorriso sereno, encarei as câmeras e dei uma piscadela sutil. O show estava prestes a ficar muito mais interessante.