Cozinheira Traída: Renascimento Ardente
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Capítulo 3

Eu me virei e saí da cozinha. Ninguém me chamou. Ouvi apenas o som de Pedro e Isabela rindo, e os murmúrios da equipe, aliviados por minha ausência. O sentimento não era de dor, como na primeira vez, era de libertação. Um peso enorme, que eu carreguei por anos, finalmente foi tirado das minhas costas. Eu não era mais a guardiã da carreira de Pedro, nem a mentora daquela equipe ingrata. Eu estava livre.

Fui para o meu pequeno escritório nos fundos do restaurante e comecei a arrumar minhas coisas. Fotos, prêmios que ganhamos juntos, livros de receitas com anotações que fiz para ele. Joguei tudo em uma caixa de papelão. Cada objeto era uma lembrança de um sacrifício, de uma mentira.

Meu telefone tocou. Era Pedro. Ignorei. Tocou de novo. Ignorei. Na terceira vez, atendi e coloquei no viva-voz, enquanto continuava a esvaziar minhas gavetas.

"Lívia, onde você está?", a voz dele era exigente, sem nenhum pingo de remorso.

"Arrumando minhas coisas", respondi friamente.

"Que coisas? O que você está fazendo? Precisamos conversar sobre a estratégia para amanhã."

"Não, Pedro. Nós não precisamos. Essa é a sua equipe, sua estratégia. Você tem a Isabela para te ajudar com as receitas de família dela."

Houve um silêncio do outro lado da linha.

"Não seja infantil", ele disse, a voz baixando para um tom manipulador que eu conhecia tão bem. "Olha, eu preciso que você faça aquela transferência para a clínica. A cirurgia da minha mãe é depois de amanhã."

A mãe dele. Dona Helena. Uma senhora doente que ele usava como sua arma mais eficaz. Na minha vida passada, eu paguei por todos os tratamentos dela, tirei do meu próprio bolso, vendi o carro que herdei do meu pai. Fiz tudo isso enquanto Pedro gastava o dinheiro que ganhava em roupas de marca e jantares caros com Isabela.

"Eu não vou transferir nada, Pedro."

"O quê? Lívia, não brinque com isso! É a vida da minha mãe!"

"Exato. É a sua mãe. Sua responsabilidade. Use o dinheiro que você ia ganhar no concurso."

Pude ouvir a respiração dele ficar pesada. A raiva estava crescendo.

"Você não pode fazer isso comigo! Depois de tudo que passamos juntos! Eu te amava, Lívia!"

O amor dele. Uma palavra vazia que ele usava para conseguir o que queria. Lembrei-me das noites em que eu ficava até de madrugada desenvolvendo pratos para ele se destacar, enquanto ele dizia que estava "visitando a mãe" e, na verdade, estava com Isabela. Lembrei-me de vender minhas joias para pagar o aluguel do nosso apartamento, porque ele disse que precisava "investir na imagem" dele. Lembrei-me de consolá-lo quando ele perdia um concurso menor, dizendo que ele era o melhor, enquanto ele secretamente culpava minhas receitas.

Todo o meu amor, toda a minha dedicação, foram um investimento em um poço sem fundo de egoísmo e ingratidão.

"Pedro, acabou", eu disse, minha voz tão calma que o assustou. "Eu e você. O restaurante. A equipe. Tudo. Estou fora. A partir de agora, você está por sua conta."

"Você vai se arrepender disso, Lívia! Você vai me ver vencer amanhã e vai se arrepender de ter me abandonado!"

Eu dei uma risada seca.

"Não, Pedro. Eu não vou. Sabe por quê? Porque amanhã, quando você estiver no palco, o tranquilizante que você comeu hoje vai começar a fazer efeito. Você vai ficar lento, sua mente vai ficar confusa. E quando fizerem o exame de doping obrigatório depois da prova, seu resultado vai dar positivo. Você não vai apenas perder. Você será desqualificado. Humilhado. Banido para sempre do mundo da culinária."

O silêncio do outro lado era total. Ele estava processando minhas palavras, talvez pela primeira vez me levando a sério.

"Você... você está mentindo", ele gaguejou.

"Estou? Então por que você está sentindo um gosto amargo na boca que não sai? Por que suas mãos estão começando a suar frio?", eu perguntei, lembrando dos sintomas que ele descreveu na vida passada.

Eu não esperei a resposta. Desliguei o telefone, bloqueei o número dele e o de todos da equipe. Peguei minha caixa de papelão e saí pela porta dos fundos do restaurante que eu ajudei a construir.

Eu não olhei para trás. Eu sabia o que o esperava. E pela primeira vez, a desgraça dele não era meu problema. Era a consequência de suas próprias escolhas. E eu estaria na primeira fila para assistir ao show.

            
            

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