A seda branca do vestido de noiva parecia fria contra a minha pele, mesmo com o aquecedor do quarto ligado no máximo. Amanhã seria o grande dia. O dia que eu esperei por três longos e dolorosos anos.
Meu celular, apoiado na penteadeira, vibrou de repente, o som abafado pelo tecido de um lenço. Um número desconhecido. Meu coração deu um salto, uma reação estúpida e cheia de esperança que eu nunca conseguia controlar.
Abri a mensagem. Apenas algumas palavras, mas elas fizeram o ar fugir dos meus pulmões.
"Sofia, não se case amanhã. Cancele tudo."
Era ele. Eu sabia que era ele. A forma como as palavras eram diretas, sem rodeios. Era a voz de Leo na minha cabeça.
Três anos atrás, no dia em que deveríamos nos casar pela primeira vez, Leo desapareceu. Simplesmente sumiu. Deixou o carro na garagem, a carteira e os documentos na mesa de cabeceira. Nenhuma nota, nenhuma explicação.
Todos, incluindo minha mãe e meu pai, disseram que ele fugiu. Que a pressão do casamento, da vida adulta, foi demais para ele. Chamaram-no de covarde. Eu nunca acreditei. Nem por um segundo.
Leo jamais me abandonaria. Ele me prometeu algo.
Uma promessa sussurrada numa noite chuvosa, com o rosto dele enterrado no meu cabelo. Uma promessa que valia mais que a vida dele, mais que a minha. Ele nunca a quebraria. O desaparecimento dele não foi uma fuga, foi outra coisa. Algo terrível.
Minhas mãos tremiam tanto que quase deixei o celular cair. A mensagem era um aviso. Ele estava em perigo? Ou eu estava?
Um nó se formou na minha garganta. Eu precisava ouvir a voz dele. Disquei o número da mensagem, mas a chamada caiu direto na caixa postal. Tentei de novo. E de novo. O mesmo resultado. O número estava desativado ou fora de área. Frustração e pânico começaram a borbulhar dentro de mim.
"Sofia, querida? Com quem você está falando?"
A voz da minha mãe soou atrás da porta, seguida por batidas leves. Gelei. Ela não podia ver aquela mensagem. Minha mãe, obcecada com a ideia de um casamento perfeito, transformaria aquilo num escândalo. Ela me convenceria de que era um trote de mau gosto, me forçaria a apagar e esquecer.
"Com ninguém, mãe! Só estou... admirando o vestido!" gritei, tentando fazer minha voz parecer animada.
"Abra a porta, filha. Quero ver você nele de novo."
Pânico. Olhei ao redor do quarto, procurando um lugar para esconder o celular. Meus olhos caíram sobre uma pequena caixa de música de madeira na minha mesa de cabeceira, um presente de infância de Leo. Rápida como um raio, peguei a caixinha e escondi o celular debaixo de uma pilha de roupas no armário.
Respirei fundo e abri a porta com um sorriso forçado.
"Veja. Não é lindo?"
Minha mãe entrou, seus olhos brilhando ao me ver. Ela ajeitou uma mecha do meu cabelo, o rosto radiante de felicidade.
"Você está perfeita, meu amor. Absolutamente perfeita. Seu noivo é um homem de sorte."
A menção ao meu novo noivo, Marcos, um homem bom e paciente que minha mãe praticamente escolheu para mim, fez meu estômago revirar. Mas eu mantive o sorriso.
"Mãe, você se lembra disto?" perguntei, pegando a caixa de música. "Leo me deu quando tínhamos quinze anos."
A mudança na expressão dela foi instantânea e violenta. O sorriso desapareceu, substituído por uma máscara de fúria e desprezo.
"Por que você está falando nesse nome? Hoje? Jogue essa coisa fora, Sofia! Ele te abandonou! Ele te humilhou!"
Ela agarrou a caixa da minha mão com uma força que me assustou. Seus dedos se fecharam em torno da madeira delicada, e eu temi que ela fosse esmagá-la.
"Não! Me devolva!"
"Você precisa esquecê-lo! Ele não existe mais!" ela gritou, o rosto vermelho de raiva.
Naquele momento, enquanto a observava, algo estranho aconteceu. Algo impossível.