Entrei e sentei-me em uma cadeira afastada da mesa principal, como a simples funcionária que eles pensavam que eu era. Marcos estava na cabeceira, o rosto uma máscara de fúria contida. Patrícia estava ao seu lado, não como membro do conselho, mas como uma presença intimidadora, os olhos vermelhos de choro ou de raiva.
Marcos bateu na mesa para começar a reunião. Ele não perdeu tempo com formalidades.
"Temos um assunto interno urgente para resolver antes de discutir os resultados do trimestre", ele disse, sua voz ressoando com autoridade forçada. Seus olhos me fuzilaram. "Ana, por favor, levante-se."
Eu me levantei, lentamente.
"Como todos sabem", ele continuou, dirigindo-se ao resto do conselho, "demos a Ana uma segunda chance nesta empresa, por consideração aos velhos tempos. No entanto, seu comportamento recente tem sido errático, insubordinado e prejudicial ao ambiente de trabalho. Ela assediou a Patrícia, causou uma cena deplorável e, como acabei de descobrir, invadiu e vandalizou uma propriedade privada."
Ele fez uma pausa dramática.
"Por insubordinação, comportamento antiético e destruição de patrimônio, o conselho decidiu, por unanimidade, rescindir seu contrato de trabalho. Efetivo imediatamente. Você está demitida, Ana."
Os outros membros do conselho, homens que eu conhecia há anos e que agora eram marionetes de Marcos, assentiram gravemente. Um deles, Ricardo, até ousou sorrir para mim, um sorriso de desprezo.
"É uma pena, Ana. Você já foi tão promissora", disse ele.
Patrícia se inclinou para frente, a voz cheia de uma falsa preocupação que me nauseava.
"Ana, querida, talvez seja melhor assim. Você precisa de ajuda. Essa sua obsessão não é saudável."
Marcos então se virou para Patrícia, sua expressão se suavizando.
"Não se preocupe, meu amor. Eu vou cuidar de tudo. Ninguém vai mais te incomodar."
Era um espetáculo nojento de poder e hipocrisia. Eles estavam me demitindo da empresa que eu criei, me acusando dos crimes que eles cometeram contra mim. Senti o sangue ferver nas minhas veias. Lembrei-me das noites em que dormi no chão do escritório, comendo pizza fria, para cumprir um prazo, enquanto Marcos e Patrícia saíam para "jantares de negócios" que agora eu sabia que eram encontros românticos. Lembrei-me de vender meu carro para comprar os primeiros servidores da empresa. Meu sacrifício se tornou o palco para a humilhação deles.
Mas a raiva me deu clareza. Respirei fundo.
"Você não pode me demitir, Marcos."
Minha voz saiu mais forte do que eu esperava. Um silêncio chocado caiu sobre a sala.
Marcos riu, um som seco e sem humor.
"Do que você está falando? Eu sou o CEO e o acionista majoritário. Eu posso, e acabei de fazer."
"De acordo com o estatuto da empresa, Artigo 7, Seção 3, a demissão de um funcionário que também é fundador e detentor de ações originais requer uma votação de dois terços do conselho com uma justificativa formal e documentada, apresentada com 48 horas de antecedência. Esta reunião é uma farsa."
Eu citei o estatuto que eu mesma redigi, palavra por palavra. Marcos ficou boquiaberto.
"Isso é ridículo! Eu controlo o conselho! Eu controlo as ações! Eu sou a empresa!", ele gritou, perdendo a compostura. "Vou garantir que você nunca mais trabalhe nesta indústria! Vou te colocar na lista negra de todas as empresas de jogos do país!"
Enquanto ele gritava, eu calmamente abri minha pasta e tirei uma pilha de documentos. Coloquei-os sobre a mesa.
"Esses estatutos não importam mais, de qualquer forma", eu disse.
Patrícia sorriu, um sorriso vitorioso e cruel.
"Ela finalmente entendeu. Aceite, Ana. Acabou."
Marcos, recuperando sua arrogância, se recostou na cadeira.
"Olha, Ana, por pena, vou te fazer uma oferta. Assine este acordo de rescisão, que inclui uma cláusula de não divulgação, e eu te dou um pacote de indenização de três meses de salário. É mais do que você merece. Considere um ato de caridade."
Ele empurrou um papel pela mesa em minha direção. Era o insulto final. A esmola oferecida pelo ladrão à sua vítima.
Eu o ignorei. Olhei para Marcos, depois para Patrícia, e para cada um dos rostos complacentes ao redor da mesa.
"Eu não preciso da sua caridade, Marcos", eu disse, minha voz cortando o ar. "E eu não estou sendo demitida."
Fiz uma pausa, saboreando o momento.
"Na verdade, eu estou assumindo o controle. A partir desta manhã, por ordem judicial, eu sou a acionista majoritária e a CEO interina da Visionary Games. E vocês", meu olhar varreu a sala, "estão todos demitidos."