Mas agora, estou de volta. De volta ao exato momento da traição.
"Laura, por que você está tão quieta?"
A voz de Sofia era falsamente doce, mas seus olhos brilhavam com uma malícia que eu não tinha percebido antes.
"Você já deveria saber a verdade. Você não é a herdeira. Eu sou. Este anel de noivado, a empresa, a mansão, tudo isso deveria ser meu."
Marcos estava ao lado dela, seu rosto bonito contorcido por uma ambição feia.
"Laura, aceite. Sofia é a verdadeira filha da família. Nós nos amamos. Saia do nosso caminho pacificamente, e talvez a gente te dê algum dinheiro para você desaparecer."
As mesmas palavras. A mesma cena. Na minha vida passada, eu chorei, implorei, tentei argumentar. Isso só os divertiu antes de me empurrarem para a morte.
Desta vez, não haverá lágrimas.
Meu corpo tremia, não de medo, mas de uma raiva gelada. A memória de cair, do impacto, da água gelada enchendo meus pulmões, era real demais.
"Então é isso," eu disse, minha voz rouca, mas firme. "Vocês dois planejaram tudo."
Sofia riu, um som agudo e desagradável.
"Planejamos? Não. Nós apenas corrigimos um erro. Você viveu minha vida por muito tempo."
Meu coração batia forte contra minhas costelas. Eu precisava de ajuda. Na minha vida passada, eu estava sozinha. Mas nesta vida, eu me lembrava de algo, um detalhe crucial que aprendi apenas depois da morte.
Havia alguém que se importava comigo. Alguém que, secretamente, sempre me protegeu.
Tiago. O tio de Marcos.
Um homem recluso, de saúde frágil, que administrava seu império de longe, mas cujos olhos sempre me seguiram com uma preocupação silenciosa em raras reuniões de família. Depois que morri, foi ele quem investigou incansavelmente, foi ele quem quase expôs a verdade sobre Marcos e Sofia antes de sucumbir à sua doença, com o coração partido pelo fracasso.
Eu não o deixaria sofrer por mim novamente.
Desta vez, eu pediria sua ajuda.
Enquanto Sofia e Marcos se deleitavam em seu suposto triunfo, minha mão deslizou para a minha bolsa. Meus dedos encontraram o metal frio do meu celular.
Com um movimento rápido, eu o tirei e disquei o número de Tiago, que eu tinha memorizado por uma razão que eu não entendia na época.
Sofia viu o que eu estava fazendo. Seu rosto se contorceu de raiva.
"O que você pensa que está fazendo, sua vadia?"
Ela se lançou sobre mim. Eu tentei proteger o telefone, mas ela foi mais rápida. Ela arrancou o aparelho da minha mão com uma força surpreendente.
"Ligando para pedir ajuda? Para quem? Para o seu irmão superprotetor, Ricardo?"
Ela zombou, olhando para o nome na tela. "Ah, não. Tiago? O tio doente do Marcos? O que aquele homem patético pode fazer?"
Marcos olhou para o telefone, seu rosto mostrando uma ponta de pânico.
"Não podemos deixar que ela ligue para ninguém."
Sofia sorriu cruelmente.
"Claro que não."
Com um gesto dramático, ela ergueu o celular no ar e o arremessou com toda a força contra as rochas. O aparelho se estilhaçou em mil pedaços.
"Sem telefone. Sem ajuda," ela sibilou, seu rosto perto do meu. "Agora, você vai fazer o que deveria ter feito desde o início. Desaparecer."
Eles começaram a se aproximar, me encurralando na beira do penhasco. O vento uivava, puxando meu cabelo e minhas roupas. O cenário era idêntico ao do meu pesadelo.
Mas eu não era a mesma Laura.
Eu precisava ganhar tempo. Tiago talvez não atendesse a ligação, mas o registro da chamada ficaria lá. Alguém poderia ver. Eu só precisava sobreviver por mais alguns minutos.
"Esperem," eu disse, levantando as mãos. "Se eu sou uma farsa, onde está a prova?"
Minha pergunta os pegou de surpresa.
Sofia hesitou, depois sorriu com desdém.
"A prova? Eu tenho. Um teste de DNA que prova que eu sou a filha perdida. Está seguro. Quando você desaparecer, eu o mostrarei a todos."
Um teste de DNA? Como? Nossos pais morreram em um acidente há anos. De onde ela tiraria uma amostra autêntica? A história dela era cheia de furos, mas a ambição de Marcos o cegava para a verdade.
"Você quer ver a prova?" Sofia continuou, se aproximando. "Você pode perguntar aos seus pais no inferno."
Ela e Marcos trocaram um olhar. Era a hora.
Eu recuei, meus calcanhares perigosamente perto da borda. O abismo me chamava, um convite para repetir meu destino.
Não.
Não desta vez.
Eu olhei para a estrada escura atrás deles, rezando por um milagre, por um par de faróis, por qualquer coisa que quebrasse aquele momento.
E foi então que ele aconteceu.